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Aquilo que a lei permite explorar - Por Antonio José Do Carmo

Por Redação |
| Tempo de leitura: 2 min

A legislação nacional permite que uma propriedade rural na região amazônica, tenha 20 % de sua área ocupada pela exploração agrícola ou pecuária e 80% preservados. Esses 20% se referem a cada propriedade rural, a cada cadastro, mas as fazendas podem ser vendidas, ou divididas em heranças. Essa é uma boa oportunidade para as fraudes.

Já estive na região de Guarantã do Norte, no Mato Grosso, quase divisa com o Pará. A missão era fazer uma reportagem para o Suplemento Agrícola do Estadão, sobre a formação das novas fazendas e a ampliação das fronteiras agrícolas nacionais.

A viagem a partir de Campo Grande- MS foi em avião de carreira e com escala em Cuiabá-MT, o voo deveria prosseguir até o destino final, Matupá. Mas ao chegar à capital mato-grossense, a fornalha do calor com a abertura da porta do avião, veio com um forte odor de fumaça. Parecia que tínhamos aterrissado numa mata queimada e que o fogo havia dado lugar à uma densa fumaça.

No balcão da TAM em Cuiabá, veio a informação de que os passageiros não seguiriam viagem porque a visibilidade e as condições de poluição eram extremas em Matupá. Seriam todos conduzidos a um hotel e a viagem seguiria no dia seguinte, ou quando tivesse condições melhores para o voo.

Tudo provocado pela fumaça das queimadas para abertura de fazendas, sempre de pecuária. As sementes são lançadas de avião e o capim colonião, viceja abundantemente, verde escuro quase negro durante os longos períodos chuvosos. Terras de alta fertilidade, árvores de troncos gigantescos.

Não podia esperar porque eu estava ali exatamente para mostrar aquela situação de fumaça invadindo as cidades e as queimadas “legais” que tornavam o ar irrespirável. Até que de repente, antes do embarque para o hotel, apareceu um piloto de aeronave particular oferecendo a viagem para até 10 corajosos passageiros, já que o tripulante afirmou não se intimidar com a fumaça, apesar do aeroporto de Matupá só ser operado visualmente.

Bem o piloto parecia experiente e pronto. Eu me juntei aos loucos e seguimos viagem. O avião, um Cessa mais conhecido como “Barriga de Aluguel”. Ganhou esse nome por causa de um desajeitado bagageiro que carrega por baixo da fuselagem, entre as rodas.

Ruído interno? Muito. Sem pressurização e voando baixo, sentindo o cheiro da fumaça entrando pelas frestas. O procedimento de aterrissagem foi daqueles de começar uma conversa sobre assunto bem diferente de voar. E desce, desce. Nada da gente ver a pista. O piloto descia sobre uma massa avermelhada, às vezes branca, e às vezes parecia se aproximar do para-brisas para melhorar a visibilidade.

As rodas tocaram o chão, mas a fumaça não havia desaparecido. O hospital, cheio de pessoas com problemas respiratórios… Visitei várias fazendas, cumpri minha missão e retornei de ônibus. Um dia inteiro e uma noite inteira de viagem para chegar a Cuiabá-MT. Não me deixou saudades.

Antônio José do Carmo é jornalista

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