Artigo

Saudações, até breve, até nunca mais - Por Alice Silva

Por Redação |
| Tempo de leitura: 3 min

Ela passou por ele, mas fez que não o conheceu. Assustou-se com a aparência do ser outrora tão vaidoso e galante agora , tão desgastada. Não se viam havia um tempo, e aquilo que ela já previa que aconteceria, aconteceu. Ele não ligava mais para nada. Cabelos em desalinho, roupas surradas, sapatos idem. Ficava em casa, jogado no sofá, a casa sem cuidados, como ele.
Ela sentiu foi um grande alívio, ao lembrar que nos últimos tempos do relacionamento era um chamar atenção constante , como a corrigir uma criança rebelde. Já não tinham tanto prazer em estar juntos, mas nenhum dos dois tinha forças para a conversa que colocasse fim ao que já estava destruído. Teve que partir dela a ação, que trouxe alivio a ambas as partes.
Definitivamente, a vida vai seguindo conforme escolhemos seguir. Vamos ter surpresas, às vezes desagradáveis, é verdade, como as doenças, perdas de entes queridos, mas temos força para enfrentar, temos sim. Amigos a nos ajudar, se são verdadeiros, os teremos por perto. Não ter sequer cumprimentado aquele homem foi bom para ele; evitou constrangimentos. Agora seguindo na calçada, veio em sua mente o passo sério que estava a tomar: ir embora da cidade, deixando poucos contatos . Desativou as redes sociais, trocou número de telefone.
Somente sua irmã sabia do que se tratava seu desaparecimento próximo. Segredo bem guardado, era a semana de arrumação do pouco que iria levar na bagagem. Arrumando seus pertences, percebeu como já não precisava se vestir para agradar alguém. Suas roupas indicavam sua personalidade. Poucos entenderiam, se ela se explicasse a razão de sua partida.
E afinal, se explicar para quê? Estava feliz e decidida, e fascinada pelo estilo de vida que a esperava muito em breve. Filhos criados, contas pagas, poucos amigos. A necessidade já tinha aprendido que precisava de bem pouco para viver bem. E a paz que desfrutava, ah! Essa não tinha preço. Só de imaginar acordar todos os dias com o canto dos pássaros como despertador, dormir sem ouvir barulhos de carros, sirenes , se alimentar quando bem quisesse.
Atravessando a praça para chegar até ao banco, trouxe a memória sua infância tão abençoada, e muitas aventuras vividas ali, com seus primos, tios, mãe e pai, que os levavam ali no domingo para ouvir a banda tocar, brincar, comer algodão doce e pipocas. As mães vestiam as crianças, principalmente as meninas, com roupas de criança, feitas muitas vezes por elas mesmas, com todo capricho. Havia uma tia querida, que até as meias brancas que as meninas usavam ela bordava e aplicava rendinhas delicadas.A avó materna fazia lindas peças de crochê para as netas, num tempo em que as avós se ocupavam das tarefas do lar, com zelo, com carinho.Outros tempos, outros valores. Foi uma criança feliz, mas nem por isso pouco cobrada.
E agora, numa breve análise, reconhecia:foi muito bom ter sido desde criança disciplinada. A disciplina que aprendeu, principalmente a financeira, agora lhe permitia ter o estilo de vida que ela almejava. Amigos - verdadeiros amigos - deixava bem poucos para trás. Quem sabe um dia, permitiria a alguns deles conhecer seu paraíso aqui na terra. E que paraíso!! Mal podia conter a ansiedade de lá chegar e se instalar. Na sua meditação diária já podia ouvir o som da cachoeira, lhe chamando: vem , vem se banhar.
Alice Silva membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de letras

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