Artigo

Sociedade idealizada e a terapia - Por Fernando Verga

Por Redação |
| Tempo de leitura: 2 min

Cada um de nós pensa a respeito da sociedade de forma diferente, a idealiza de uma maneira que atenda anseios individuais e, às vezes, coletivo. Pensar a sociedade não se trata apenas do exercício intelectual sociológico, filosófico, político ou outro; a nossa práxis individual no ambiente público, mesmo levada no automático por grande parte das pessoas (julgo eu), diz a respeito do nosso modo de pensar a sociedade, ou o que ela representa para nós, mesmo quando não há processo reflexivo.

Particularmente, eu idealizo exageradamente a sociedade. Fico indignado com o comportamento das pessoas enquanto motoristas, ciclistas e pedestres, com gente jogando lixo no chão ou queimando em terreno vazio, com gente grosseira, machista, esnobe, egoísta, racista, homofóbica…. Indigna também os criminosos em geral, os políticos, o modelo econômico, o governo e uma série de outras instituições. Enfim, está muito fácil me irritar atualmente, pois acredito que o mundo deveria ser o oposto disso. Por saber que não há perspectivas para meu mundo ideal, levei o tema para a terapia.

Às vezes, precisamos colocar nosso próprio senso crítico como objeto da crítica para saber a favor de quem ele está trabalhando. O que venho descobrindo com a terapia é que o meu precisa ser alinhado, pois está me prejudicando emocionalmente. Não significa que devo me importar menos com estes assuntos, mas sim mudar o olhar para que cretinos sociais convictos, aqueles que dificultam a vida, não abalem meu humor.

Entretanto, existe uma voz dentro de mim que me impulsiona a querer confrontar raivosamente (não nego) atitudes que não estão na minha sociedade ideal. Pensei que esta sociedade seria boa para todo mundo, mas aí se trata da minha ditadura particular, ou seja, boa para mim, apenas. Cheguei a dizer para a psicóloga que havia me tornado um antissocial de tanto desconforto que a sociedade estava me causando, mas não é o caso: eu sou do coletivo. Se o caro leitor também sonha com uma sociedade melhor e se vê doente com a que temos, procure ajuda de um terapeuta. É preciso aprender a caminhar serenamente em meio à brutal realidade para sobreviver.

Fernando Verga é jornalista

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