
Quando os dois conjuntos de competidores entram nos bretes (local de onde o boi é solto para a laçada), a adrenalina toma conta de cavalos e cavaleiros. O estado de atenção máxima dos animais, que ficam alertas e com as orelhas erguidas, aguardando a ordem de partida, não fica atrás do grande grau de concentração dos caubóis com suas cordas nas mãos.
A modalidade, que surgiu da lida diária com o gado nas fazendas, foi uma técnica desenvolvida quando surgiu necessidade de capturar e conter animais de tamanhos maiores o que não é possível de ser feito por um único cavaleiro. Hugo Alves Branco, 34 anos, treinador e competidor na modalidade, explica que, na prova, os dois laçadores imobilizarão um boi no menor tempo possível. O primeiro laçador a "jogar a corda" é o "cabeceiro", ou seja, a pessoa que laça a cabeça do boi. O "pezeiro" é o laçador que laça o boi pelas suas patas, finalizando a prova."Nos Estados Unidos, os bois são laçados, geralmente, pelos chifres", explica o treinador que tem em seu currículo de premiação 32 motos, 2 carros e 3 trailers desde 2006.
Rafael Corrêa Paoliello, 37 anos, de Araçatuba, conhecido no meio como Chifrinho, renomado treinador e competidor, explica que da necessidade de curar animais maiores no campo, surgiu o laço em dupla. "Para laçar a cabeça, existem três tipos de laçadas legais: no pescoço, no chifre ou na meia cara", ensina Chifrinho, quem tem seu Centro de Treinamento em Rubiácea. "Qualquer corda fora dessas três posições, gera desclassificação". Assim, se o competidor laçar o pescoço e a corda entrar numa das mãos, por exemplo, esse será desclassificado. No pé, tem que esperar o boi mudar a trajetória para arremessar o laço. Se laçar apenas uma das patas, tem penalização de 5 segundos somados ao tempo final.
Luccas Coelho Ávila de Aguiar, 34 anos, é médico veterinário e competidor profissional. Ele compete na modalidade do laço em dupla (team roping) desde 1999 e é parceiro do treinador Hugo Alves Branco. "Fui criado em fazenda e na lida com o gado e cavalos e, desde pequeno, fui envolvido com laço nas fazendas. Quando tive a oportunidade de experimentar esse esporte, nunca mais parei", fala Luquinha que como é conhecido no meio o "cabeceiro".
A emoção das provas, segundo Luquinha, "é indescritível, uma adrenalina impressionante e viciante, a cada boi corrido, a cada vitória ou derrota, a gente sente mais vontade de treinar e preparar os cavalos para a próxima competição", explica. Ele, que cria cavalos por hobby e trabalha com reprodução equina, vive e respira cavalos diariamente. "Posso afirmar que são animais incríveis e apaixonantes".
Perguntado sobre o treinamento, Hugo, que trabalha treinando cavalos e competindo pela Prime Horse Genética Equina, de Araçatuba, diz que apenas 40% dos animais chegam ao estágio final. "Apesar de ser uma pergunta muito subjetiva, pois o que pode estar pronto para uns, pode não estar pronto para outros", explica.
Segundo Chifrinho, a linhagem do animal de laço precisa ser de um bom senso de boi, uma base de rédeas e um pouco de corrida. "Cavalo de boi com cavalo de rédeas, geralmente, proporciona animais muito bons. Precisa ter um pouco de corrida também, porque ele precisa chegar no boi", explica.
Segundo Chifrinho, de 10 cavalos, 8 se tornam cavalos de laço, com condições de competição. Desses mesmo 10, 3 seria um número muito bom de cavalos com grande técnica para as competições. "Seriam animais especiais para se apresentarem nas provas técnicas", avalia.
O pecuarista Plínio Gonçalves, 32 anos, de Bilac, começou no Laço em Dupla no final de 2007. "Nunca competi em outra modalidade e sempre fui incentivado pelo meu", afirma ele que é laçador profissional. Ele, que também é criador, possui animal bastante premiado, ganhou carros e caminhonetes durante sua trajetória.
ENTENDA A PROVA
Ao entrar no brete, quando o “cabeceiro” estiver pronto, ele pede para que o boi seja solto. Ao abrir as portas, o boi sai em disparada e destrava a barreira (fotocélula colocada na saída do brete para que o boi tenha a devida vantagem em disparada na frente dos laçadores). Os laçadores saem atrás, o "cabeceiro" lança a corda na cabeça do boi e enrola no pito (uma estrutura parecida com um grande pino na cabeça) da sela. Este deve "puxar" o boi, fazendo uma leve curva para a esquerda.

O "pezeiro", por sua vez, tem que aguardar o boi ser puxado para poder laçar os pés do animal. Assim que os dois competidores executarem a laçada, ambos devem estar virados de frente um para o outro, imobilizando o animal e fazendo com que o juiz pare o cronômetro. Em seguida, o boi é liberado e volta para o final da pista. "Laçadas que pegam apenas um dos pés ou quando o laçador sai do brete antes da barreira ser desarmada, implicam em penalidades, gerando acréscimo de 5 segundos (para cada uma das penalidades) no tempo final da prova", explica Hugo.
Vale ressaltar que o "cabeceiro" entra no brete pelo lado esquerdo, enquanto o "pezeiro" se posiciona a sua direita.
Para o laço técnico, os juízes julgam, no caso da cabeça, o brete, a corrida, a puxada do boi e o rollback (manobra em que o cavalo gira, rapidamente sobre os pés, invertendo sua trajetória). O rollback é a manobra feita quando o pezeiro finaliza a laçada e tem que ficar de frente para o cabeceiro. No caso do julgamento técnico para o laço pé, o juiz avalia o brete, a corrida, a posição do cavalo durante a corrida e laçada e a parada. As notas se iniciam com 70 pontos e cada manobra executada a contento, acima da média ou abaixo, mantém, soma ou perde pontos.
Na prova cronometrada, a dupla com a menor média de toda a categoria vence. Já no laço técnico, apenas o animal é avaliado e a forma como ele é apresentado (dando ênfase sempre ao treinamento do animal, temperamento e reações) soma ou perde pontos. "Apesar de na prova cronometrada não haver julgamento do cavalo, entendo que uma coisa está ligada à outra. Um cavalo muito bom em técnica acaba se tornando um grande animal no cronômetro", explica Chifrinho.
"Para acompanhar a prova, o leigo não precisa entender muito. Na prova cronometrada, vence o menor tempo final. Na prova técnica, apesar de serem vários os quesitos julgados, acredito que a apresentação que ele achar mais bonita, com menos reações dos animais, será a vencedora", finaliza Hugo.
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