Não há nada que faça esquecer a perda de um ente querido ou um término traumatizante de relacionamento, ou seja: os grandes dissabores da vida; até mesmo porque essa é a sua realidade, não há o que superar: afinal, você quer deixar para trás pessoas e situações que de uma maneira ou de outra integram sua personalidade?
Isso não significa que o sofrimento não doa. Muito pelo contrário, a dor dele pode ser restauradora, em razão de um simples fato: o sofrimento é uma faceta da vida humana, uma realidade latente.
Entre tanto caos na semana passada em Brumadinho, uma entrevista pode ter passado quase invisível, mas não aos olhos de quem enxerga humanidade no caos, uma moça que perdeu uma tia, totalmente desesperada e, ao mesmo tempo, maravilhada por um único aspecto: ter encontrado "a humanidade nas pessoas".
Toda a movimentação de ajuda, de caridade, de doação ao próximo no caos, fez revigorar naquela mulher e em sua personalidade a crença na humanidade e na ajuda mútua.
Ela estava em desespero, mas, como que em um flash de um raio descido do céu, em sua personalidade foi integrado o sofrimento e, inconscientemente, ele frutificou em sua essência.
É um exemplo extremo o sofrimento diário pode ser utilizado para a integração da sua personalidade, e a sua colocação na realidade latente.
Quem foge do sofrimento foge da vida, ou pelo menos de uma das facetas da vida em que frequentemente nos encontramos: términos, mortes, planos frustrados etc.
Fugir do sofrimento é mudar de calçada quando a vida vem ao seu encontro.
Não fixe a ideia de que: bom, então a vida é só sofrimento. Não, certamente que não é, como poucas coisas nesse mundo são absolutas.
A ideia coerente do sofrimento e do seu sentido faz com que você, em seus momentos de alegria, saiba se comportar e aproveitá-los em serenidade, com a consciência de como alguém que aproveita a estadia de sua mãe que mora a milhares de quilômetros.
Não troque de calçada quando cruzar com o sofrimento: chame para uma conversa, integre na sua personalidade, e o deixe agir corretamente quando for preciso.
Vinícius Antonio Zacarias, de Buritama, é advogado.
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