
Há pouco mais de dois anos, o araçatubense Fúlvio Erik Sangalli, 39 anos, descobriu que era portador de linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que se origina nos gânglios. Ele está internado no Hospital Unimed de Araçatuba e já passou por todo tipo de tratamento existente, porém, os exames não apresentaram evolução.
Agora, ele está cheio de esperança, pois é o primeiro paciente do Brasil a receber um novo medicamento para o tratamento dessa doença, o Polatuzumabe Vedotin, ainda sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O hospital é o primeiro centro médico no País a participar do programa de "Uso Compassivo" para a utilização desse medicamento. Segundo a instituição, isso só foi possível por meio do apoio à inovação médica do hospital e pela iniciativa do médico hematologista Márcio Rodrigo Domingos, responsável pelo tratamento de Sangalli.
Apesar de a nova droga não ter registro na Anvisa, ela é patenteada pelo laboratório farmacêutico Roche e foi disponibilizada sem custo para o hospital. Segundo o que foi informado, o Polatuzumabe Vedotin pode aumentar as chances de resposta e o tempo de sobrevida dos pacientes sem possibilidades de outro tipo de tratamento para essa doença.</CS>
O médico Márcio Rodrigo recebeu a imprensa na última sexta-feira para explicar como funciona o novo tratamento. Ele, que concluiu a residência médica em 2014, trabalhou no hospital do Câncer em Barretos, onde teve o primeiro contato com o programa de Uso Compassivo.
Esse programa consiste na disponibilização de um novo medicamento a portadores de doenças debilitantes graves, sem alternativa terapêutica com produtos registrados no país. Só podem participar pacientes que não tiveram acesso a outros programas ou ensaios clínicos que estejam em processo de desenvolvimento.
"Eu tive a possibilidade trabalhar em Barretos, que recebia muitos pacientes e conseguia incluí-los nesse programa compassivo. É a primeira vez que o programa é feito em Araçatuba e o Fúlvio é o primeiro paciente no Brasil que recebe esse medicamento", afirmou.
Segundo o hematologista, desde que descobriu a doença, Sangalli passou por três ciclos de quimioterapia e o quadro clínico não evoluiu. Ele só foi incluído no programa porque não há perspectivas de outro tipo de tratamento. "O paciente vem sendo acompanhado e essa medicação é somente para o tratamento do tipo de linfoma desenvolvido por ele, que foi escolhido porque cumpriu os critérios", explicou.
O processo para a autorização do novo tratamento teve início no final de agosto. O hospital aguardava a conclusão dos trâmites de aprovação para conseguir a liberação para a importação do medicamento. O pedido foi feito simultaneamente com um realizado por um paciente de Curitiba (PR). Para esse paciente também foi autorizado o tratamento, que não teve início porque as condições clínicas não permitiram a aplicação.
No caso do paciente de Araçatuba, a primeira dose, aplicada em conjunto com outros dois medicamentos já conhecidos, foi ministrada na quinta-feira. Ao todo, serão seis ciclos combinados das três drogas, com a previsão de término do tratamento em 18 semanas. Uma primeira avaliação será feita após três ciclos e o paciente será monitorado continuamente. Depois, a cada três meses ele passará por uma avaliação geral.
Segundo o médico, para pacientes com esse tipo de doença submetidos ao tratamento tradicional, em geral, a cura gira em 50% a 60%. Nos outros 40% dos casos, a doença volta a se manifestar em curto ou médio prazo.
Estudos apontam que com o novo medicamento, 40% dos pacientes, ao final do tratamento, obtém resultados satisfatórios. "Para o paciente que não tinha muita perspectiva, é uma chance. Não podemos falar que é uma alternativa de cura, mas é uma esperança", concluiu.
Para o paciente Fúlvio Erik Sangalli, 39 anos, é um privilégio ser o primeiro brasileiro a ser tratado com o Polatuzumabe Vedotin. Ele conta que começou a sentir os primeiros sintomas do câncer quando estava a trabalho em Florianópolis (SC).
Apesar de ter bom preparo físico na época, passou a ter tosse seca e cansaço. Os primeiros exames ainda em Florianópolis diagnosticaram um derrame pleural, que é a criação de líquido em um dos pulmões. Na ocasião, também foi colhido material para biópsia, que não apontou a doença.
Foi feita a extração do líquido do pulmão e o paciente voltou para Araçatuba, mas cerca de três meses depois ele sentiu os sintomas novamente, foi detectado derrame pleural no outro pulmão e, desta vez, o exame apontou o linfoma no tórax, sem possibilidade de cirurgia.
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