
A prisão do médico Denis César Barros Furtado, de 45 anos, e da mãe dele, Maria de Fátima Furtado, pela morte da bancária Lilian Calixto durante um procedimento estético realizado na casa do profissional, na zona oeste do Rio de Janeiro, ganhou os noticiários na última semana. O caso levanta uma questão importante, a de como e por quem devem ser feitos esses procedimentos.
O médico, que ficou mais conhecido como Doutor Bumbum, era bastante popular nas redes sociais. A bancária era de Cuiabá (MT) e foi ao Rio para a cirurgia. Ela foi atendida em um hospital do Rio no sábado (14) e morreu no domingo (15). A mãe dele, que também é medica, foi presa por suspeita de ter participado do procedimento. O Doutor Bumbum ficou foragido três dias até ser preso. Ele disse que tem síndrome do pânico e ficou assustado com a repercussão.
O registro de Furtado no CRM (Conselho Regional de Medicina) era do Distrito Federal, mas ele estava atendendo no Rio de Janeiro, o que não é permitido. O documento já tinha sido suspenso cautelarmente em 2016, mas o médico voltou a exercer a profissão sob liminar. Com a morte da bancária, o CRM foi cassado definitivamente.
Além disso, o Doutor Bumbum não tinha especialização em cirurgia plástica nem era membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica). Para atuar na área, a residência é obrigatória. Além da faculdade de Medicina, são necessários dois anos trabalhando como cirurgião-geral e mais três anos fazendo apenas cirugia plástica, como residente.
Na defesa, Furtado disse à polícia que Lilian estava lúcida e andando após o procedimento. Também sustentou que o seu ambiente de trabalho, a cobertura onde morava, tinha condições adequadas para a cirurgia, chamada de bioplastia.
NÃO INDICADO
O procedimento em questão é a aplicação do produto PNMA (polimetilmetacrilato) nas nádegas. De acordo com o cirurgião plástico, membro da SBCP e delegado superintendente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em Araçatuba, Vitor Mendonça Frascino, esse procedimento não é preconizado pela Sociedade. O ideal nesse caso seria um implante de prótese nos glúteos. Ainda segundo Frascino, mesmo que esse procedimento fosse indicado, jamais poderia ser feito em uma casa, mas sim, em ambiente hospitalar adequado.
Conforme Frascino, o preenchimento com PNMA não tem volta, é definitivo. Em outras regiões, como face, por exemplo, é usado o ácido hialurônico para preenchimento, por ser um produto de duração temporária e sem efeitos colaterais. "Ao que me parece, o PNMA pode ter sido aplicado de forma irregular e causou uma embolia pulmonar ao ser absorvido pelo organismo", diz Frascino.
O especialista afirma que a melhor forma para saber se um médico é cirurgião plástico é pesquisar no site da SBCP (www.cirurgiaplastica.org.br). Na página, é possível pesquisar pelo registro ou nome do médico. Se constar, é porque ele é membro da Sociedade. "A SBCP sempre desenvolveu campanhas divulgando que uma cirurgia plástica só deve ser feita por quem realmente entende do assunto", completa.
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