ARTIGO

Quebre o silêncio da solidão com os exercícios


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Dou aulas de Personal para alguns idosos e todos eles tem umas coisa em comum: o medo da solidão. Imagina só, aquele vazio que às vezes se instala, como se o mundo lá fora tivesse esquecido de bater à porta. Quando se trabalha com idosos ou envelhescentes como gosto de dizer, a gente vê isso de perto, e é um problema real, que não só pesa na alma, mas também no corpo. E sabe o que é mais incrível? Algo tão simples como levantar um peso, ir na academia, fazer um agachamento ou até mesmo carregar as compras com mais firmeza pode mudar essa história. Vamos explorar isso juntos?

A solidão na velhice não é só uma questão de estar sozinho. É um estado que vai se enraizando, muitas vezes silencioso, mas com efeitos barulhentos. Estudos mostram que cerca de 30% dos idosos no mundo enfrentam isso, e não é raro que venha acompanhado de tristeza, depressão ou até um risco maior de doenças como Alzheimer. O corpo sente também: o coração bate mais fraco, o sistema imunológico fica preguiçoso e mais abertos a doenças. É como se a ausência de conexão fizesse o corpo e a mente entrarem em câmera lenta. Você já sentiu um dia mais pesado só porque não trocou uma palavra com alguém? Multiplique isso por semanas, meses, e dá pra entender o tamanho do impacto. Além do mais quando os filhos estão longe.

Mas aqui entra a mágica do exercício, e não, não precisa ser um super-herói levantando pesos absurdos. Atividades de força, como exercícios funcionais, musculação leve e pilates, têm um poder que vai além dos músculos. Primeiro, elas mexem com o cérebro. Quando você se movimenta assim, o corpo libera endorfina e serotonina que aquelas substâncias químicas que fazem você se sentir bem, quase como um abraço por dentro. Isso já começa a espantar a nuvem da solidão. E tem também o professor que orienta, ouve e acolhe, além dos alunos que batem papo entre uma aula e outra. Mas tem mais: ao fortalecer o corpo, você ganha autonomia. De repente, abrir um pote de geleia ou subir as escadas não é mais um drama. Isso é um baita empurrão na autoestima, porque você percebe que ainda manda apesar de tudo na sua própria vida.

E tem o lado social, que é um tesouro escondido. Imagine você numa aula fortalecimento para idosos, trocando risadas com o professor e dividindo suas histórias de vida. Eu por exemplo, adoro ouvir cada história que eles contam. Ou quem sabe mostrando pro neto que ainda consegue carregar o galão de água? Essas conexões, por menores que pareçam, são fios que costuram a vida de volta. A força física vira uma ponte pra força emocional, e de repente a solidão vai se tornando um pouco mais distante. Estudos, como um do Journal of Aging and Physical Activity intitulado “Long-Term Effects of Resistance Exercise Training on Cognition and Brain Volume in Older Women: Results from a Randomized Controlled Trial” mostram que idosos que praticam exercícios de resistência têm menos sintomas de isolamento e mais confiança pra interagir.

Não é lindo como uma coisa leva à outra?

Claro, não é só pegar um haltere e pronto. O segredo está em começar devagar, com orientação, um profissional de educação física especializado em gerontologia ou médico pode traçar o caminho certo, respeitando cada limite. Mas o ponto é: a força não é só sobre músculos; é sobre se sentir vivo, capaz, presente. Cada envelhescente diz pro mundo e pra você mesmo que a velhice não é sinônimo de fim, mas de um novo jeito de brilhar.

Eu realmente espero que você que está lendo este texto, que seja idoso ou tenha um idoso, saiba que a solidão pode ser uma visita indesejada, mas o exercício é uma amigo que você pode convidar pra ficar. Vejo isso em minhas aulas! Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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