
Trago hoje uma reflexão do psicólogo e mestre em sexologia, Alberto Álamo, sobre a sexualidade humana. Acompanhem!
“A sexualidade não se limita à idade adulta, mas dura toda a nossa vida. Como muitos conceitos sexológicos, este termo foi sendo difamado com a passagem do tempo até quase perder seu significado. Refletindo sobre a sexualidade, descobriremos por que é algo inerente à nossa condição humana.
Costuma-se dizer que a sexualidade é ‘coisa de adultos’. Embora esteja presente na vida adulta, não se adere exclusivamente a esse estágio vital, mas está presente em todos.
Talvez isso possa ser melhor compreendido se definirmos e descrevermos o que é a sexualidade. Já sabemos que os termos sexológicos são muito utilizados, mas, ao mesmo tempo, têm sido tão difamados ao longo da história que alguns deles merecem uma reflexão, como o próprio conceito de ‘sexo’.
A sexualidade não é sinônimo de orientação sexual. No entanto, muitas pessoas confundem estes conceitos. Assim, os termos ‘condição sexual’, ‘escolha sexual’ e ‘sexualidade’ são frequentemente utilizados para referir-se à orientação sexual do desejo erótico (comumente chamada de orientação sexual).
Esses termos não são sinônimos, nem entre si, nem de sexualidade. A orientação sexual não é uma opção, uma vez que as opções são escolhidas e a orientação sexual não se escolhe. A orientação sexual também não é uma condição, porque não condiciona absolutamente nada.
A sexualidade, como conceito, refere-se à qualidade com que os indivíduos vivem como sujeitos sexuados, ou seja, é a expressão de homens e mulheres de sua forma de sentir e viver como homens e como mulheres.
Os homens e as mulheres são sexuados; ‘temos’ sexo, em termos de identidade sexual. Além disso, há infinitas formas de ser homem e infinitas formas de ser mulher, e a maneira como os homens e mulheres expressam essas formas é definida pela sexualidade.
A sexologia, em seu âmbito mais teórico, é responsável por estruturar este e muitos outros conceitos, dando-lhes harmonia e coerência. Por isso, a sexualidade (e muitos outros conceitos provenientes da palavra ‘sexo’) não possui uma relação direta com as relações eróticas, como se acredita popularmente.
Costuma-se ignorar a sexualidade infantil e da velhice por motivos muito diferentes com um denominador comum: a ignorância. Se entendermos este conceito a partir de seu significado real, vetar a sexualidade na infância ou na velhice não teria muito sentido.
A sexualidade na velhice é uma bela expressão, porque homens e mulheres mais velhos expressam-na a partir da vivência de um caminho que lhes deu sabedoria, experiência. É fato que também existe um veto à sexualidade na velhice por uma questão cultural. No ocidente, temos muito a melhorar quanto à visibilidade e ao respeito pelos idosos.
Por outro lado, a sexualidade na infância é igualmente bela, mas por outras razões. Assim como a velhice nos dá experiência, a sexualidade na infância ocorre em um contexto de inocência e descoberta. O mais bonito é que, nesta fase da vida, não estamos contaminados com praticamente nenhuma influência social. Sendo pequenos, nos expressamos sem tabus, sem filtros, a partir da nossa curiosidade sobre o mundo que nos rodeia.
Para acabar com os estereótipos e tabus que cercam conceitos como a sexualidade, é fundamental aprofundá-los e entendê-los. São necessárias mais abordagens sobre a educação sexual. Só assim poderemos desestigmatizar todas as manifestações que formam o ato sexual humano”.
Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.