SERTANEJO

Compositora de Piracicaba fala sobre obras, inspirações e sonhos: 'faz bem para a alma'

Ana Piracicabana já tem trabalhos gravados por artistas locais e almeja voos mais altos como compositora

Por Roberto Gardinalli | 10/01/2024 | Tempo de leitura: 8 min
roberto.gardinalli@jpjornal.com.br

Claudinho Coradini/JP

O sertanejo é um dos estilos mais populares do Brasil. Apesar das mudanças no tema das músicas, regidas pelo avanço da sociedade, a simplicidade ainda é um tema central. Aspectos como o cotidiano no interior e uma paixão que continua acesa no coração, ainda são muito explorados.
Berço de compositores reconhecidos, como Beto Surian, e duplas renomadas, como Cezar e Paulinho, Piracicaba enche os olhos dos compositores do estilo.

Um desses nomes é o de Ana Paula Coa, mais conhecida como Ana Piracicabana. A artista começou sua carreira criando poesias, e compôs sua primeira música aos 16 anos, com o sonho de ter a música gravada pelo cantor Daniel. “Ela traz a pureza e inocência e seu desenvolvimento, sendo pautada em obras literárias da minha adolescência”, disse. Acostumada a ouvir o estilo desde criança, Ana se lembra com carinho de como o estilo entrou em sua vida. “O sertanejo se tornou meu estilo devido ao meio familiar, sempre conectado às rádios de Piracicaba”, contou.

E assim como o nome já entrega, Ana é influenciada por artistas locais, em especial, Beto Surian, com quem chegou a ter uma relação próxima, graças ao contato dele com a família. Ela até foi convidada por ele para conhecer o camarim de uma das duplas mais icônicas de Piracicaba: Cezar e Paulinho. “Ali, tive certeza de que gostaria de ser uma compositora”, revelou.

Quando percebeu que tinha facilidade em estruturar as composições, seguiu em frente. Durante a pandemia, fez um curso de composição com Fátima Leão e passou a integrar um grupo de compositores, que cria as canções e apresenta a artistas regionais para que sejam gravadas. “ Ouvir uma música minha ou do meu grupo de composição, interpretada por um artista traz grande satisfação, quase que comparada a dar à luz a um filho gerado com muito amor”, disse.

E para quem quer ter uma carreira na música, focada na composição, Ana diz que não há uma rotina. O segredo está em seguir o coração, anotar as ideias e buscar referências para entender o mercado atual. Resultado disso está no lançamento recente, da música “Solidão Gostosa”, interpretado pelo cantor Victor Brosco. O lançamento aconteceu no dia 31 de dezembro de 2023, e o clipe oficial já tem mais de 3,2 mil acessos no YouTube. Além dessa, Ana já assina composições gravadas por outros artistas como Pollyana Costa, Grupo Som da Vanera,  e Marlon Costa. E ela mira longe: “ Sempre acreditei que sonhar não custa nada e faz bem pra alma, hoje tenho liberado músicas para artistas regionais, mas idealizo os nacionais”.

As canções lançadas podem ser conferidas nas principais plataformas de streaming de música, também, pelo YouTube. Confira os principais trechos da entrevista com a compositora Ana Piracicabana ao Jornal de Piracicaba.

Como começou a sua relação com a música? Como seu interesse começou e quando começou a compor música?
O encanto pela música sempre esteve presente desde infância, mas a partir da adolescência comecei a prestar mais atenção nas letras das músicas, e aos 16 anos compus minha primeira música intitulada como Amor Verdadeiro.

Conte um pouco mais sobre a sua primeira composição, intitulada “Amor Verdadeiro”. Como foram surgindo as ideias para essa música?
O projeto da composição amor verdadeiro iniciou-se na minha adolescência, visando a interpretação do cantor Daniel. Ela traz a pureza/inocência e seu desenvolvimento, sendo pautada em obras literárias da minha adolescência. Realizei sua primeira produção em estúdio por volta de 2011, porém ela não foi gravada, apesar do interesse de alguns intérpretes, pois acredito que falta ainda um toque para ela se tornar uma música consolidada como eterna.

O sertanejo é o principal estilo da sua carreira. Como se conectou a esse estilo?
Sim, o sertanejo se tornou meu estilo, devido ao meio familiar sempre conectado às rádios de Piracicaba, sintonizadas ao estilo sertanejo. Inicialmente comecei escrevendo poesias e depois por influências das músicas que meus pais ouviam, percebi que eu tinha facilidade para estruturar as composições. Fui apreciando cada vez mais compor e não parei mais. Em decorrência da pandemia, intensifiquei mais e tive a oportunidade de fazer um curso ministrado pela compositora
Fátima Leão, conhecida nacionalmente por diversas obras, sendo uma delas “Dormi na Praça”, interpretada pela dupla sertaneja Bruno e Marrone. Sempre acreditei que sonhar não custa nada e faz bem pra alma, hoje tenho liberado músicas para artistas regionais, mas idealizo os nacionais. Quem sabe Simone Mendes um dia.

Como é a rotina de trabalho de um compositor? Como você desenvolve a sua arte e quais são os principais desafios que encontra?
Não existe uma rotina pré estabelecida, uma vez que as composições são pautadas em ideias, inspirações e percepções que o compositor vai tendo das mais diversas situações do cotidiano. A todo momento estou fazendo anotações e criando. Mas sempre me reúno on-line no período noturno com o grupo de composição ao qual sou integrante. Considerando que o compositor é aquele que escreve música, o maior desafio é ter uma de suas obras gravadas.

As pessoas que escutam uma música pronta normalmente associam o trabalho ao artista que gravou e que apresenta as músicas nos palcos Brasil afora. Como você enxerga o trabalho dos artistas que estão no palco e dos que trabalham nos bastidores? Como é ouvir uma música sua gravada por outros artistas?
Ambos, compositor e intérprete se completam, pois o compositor escreve e o artista socializa imprimindo emoção a letra/melodia produzida, dando vida ao objetivo que é tocar o coração dos ouvintes. Ouvir uma música minha ou do meu grupo de composição, interpretada por um artista traz grande satisfação, quase que comparada a dar à luz a um filho gerado com muito amor.

O que considera como o maior desafio na sua carreira como compositora de música sertaneja?
O grande desafio é conciliar a vida de mãe e professora com a de compositora e as necessidades de cada uma dessas profissões, como mãe tento dar o máximo de atenção para minhas filhas, ajudando com as tarefas de casa, e os desafios da pré-adolescência, já como professora acompanho a vida de dezenas de alunos, cada um com sua necessidade pedagógica. A compositora nasce diariamente no meio disso tudo, onde cada segundo é precioso para compor e fazer a parte que acho mais complicada, que é acompanhar as redes sociais para entrar em contato com  cantores regionais que possam gravar nossas músicas, participando das audições, concorrendo com dezenas até centenas de outros compositores, esperando grandiosamente que uma das minhas músicas seja a escolhida. Lembrando que antes dessa etapa, a música precisa estar registrada para garantir os direitos autorais. Quando um intérprete escolhe sua música é o grande auge de um compositor. Se essa música tiver sucesso e alcançar um cantor nacional é a maior realização que um compositor poderia ter.

A cultura de Piracicaba é associada ao sertanejo por vários motivos: a localização no interior do estado, o desenvolvimento da cidade às margens do rio, a cultura caipira, o sotaque, entre outros. Como a cidade te inspira nas suas composições e o que a cultura piracicabana significa para você?
Sou nascida, criada e residente em Piracicaba, recebi grande influência de toda cultura Piracicabana, que além de acolhedora sempre foi inspiradora com sua cultura diversificada. Sou grata e me sinto honrada por ser piracicabana, imprimo seu sotaque de caipira puxado e assino meu nome artístico como Ana Piracicabana.

Quais artistas, hoje em dia, você considera como influências para o seu trabalho?
Dentro do estilo Sertanejo com o qual me identifico, reconheço ter grande admiração e orgulho pelo saudoso compositor Beto Surian o qual tive o prazer de conhecer pessoalmente e nossos irmãos Cezar e Paulinho. Não tenho uma recomendação específica, pois os intérpretes regionais e nacionais são muito bons. Mas sou muito fã da cantora e compositora Simone Mendes.
A Simone Mendes é hoje uma das melhores intérpretes do estilo musical em que eu tenho focado. A voz dela toma o palco com uma entonação que a diferencia, torna a interpretação cativante que fica na mente do público, sem citar a sua beleza, simplicidade e sinceridade que a transforma numa pessoa a ser seguida e acompanhada pelos fãs.

Você também cita que conheceu Beto Surian pessoalmente. Como foi a sua relação com ele? E como foi, para você, poder estar perto de uma de suas inspirações?
Minha família sempre trabalhou na roça, meu pai tirava nosso sustento da agricultura familiar sendo assim nós sempre acordávamos com o cantar do galo, fazíamos os afazeres diários que eram cuidar dos animais, ordenhar as vacas leiteiras, produzir queijos e derivados e envasar o leite ordenhado.
Ao terminar de cuidar dos animais no sítio, às vezes  eu acompanhava meu pai na venda desses produtos e um dos nossos clientes era o Beto Surian. Geralmente meu pai ficava um bom tempo conversando com ele sobre as músicas e os cantores, aquilo me interessava muito, foi quando eu mesma comecei a interagir com o Beto e lembro que certa vez ele convidou minha família para ir a um dos show do Cezar e Paulinho, onde até visitamos o camarim com ele, nesse dia tive a certeza que eu gostaria de ser uma compositora também como o Beto.

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