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‘Um oceano representa uma grande diversidade, assim como o Atlântico’

Por Fernanda Rizzi | fernanda.rizzi@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 10 min
Isa Silvana

Com o nome que já define o tamanho de sua definição, o Colégio Atlântico nasceu da vontade de um grupo de professores em desenvolver um trabalho pedagógico que contemplasse mais intensamente a interdisciplinariedade. Fundado em 1998, e prestes a completar 25 anos no próximo sábado (23), a instituição integra conteúdos que foram além de um sistema apostilado, atrelados aos desafios da vida, com ênfase em pesquisas e uma aprendizagem pautada no ensino por competências.

A mantenedora, Rosângela Camolese, o nomeou assim após ter sobrevoado o oceano Atlântico na volta de uma viagem internacional. “Um oceano representa uma grande diversidade. As escolas também são comunidades diversas, como o Atlântico”, é como ela diz. E, na mesma data de sua fundação, o próprio desbravador dos mares, Amyr Klink, abriu a sua inauguração.

Nesta conversa com o Jornal de Piracicaba, Rosângela Camolese conta sobre o legado do Colégio Atlântico, a preparação para o aniversário e da importância da educação e cultura caminharem juntas.

Celebrar 25 anos é um marco significativo para o Colégio Atlântico. Quais são os principais destaques das comemorações planejadas para o dia 23 de setembro? Vários foram os colaboradores da instituição no decorrer desses 25 anos. No próximo dia 23 de setembro, acontecerá uma grande festa comemorativa, quando serão prestadas muitas homenagens. Nesse mesmo dia acontece a nossa tradicional Festa da Família e a Mostra Científica e Cultural com a temática “Oceanos”. Toda comunidade escolar e ex-alunos está convidada a participar das festividades, cujas ações serão registradas. Ainda em comemoração, no final do ano teremos uma “cápsula do tempo” enterrada com os documentos, fotos, vídeos para ser aberta daqui há 25 anos, ou seja, nos 50 anos do Colégio.

Como diretora e mantenedora, quais são os principais princípios pedagógicos que norteiam o Colégio Atlântico e o diferenciam de outras instituições educacionais? O colégio tem uma proposta que atende à formação da consciência social e visão histórico-crítica da sociedade que desenvolve a consciência dos direitos e deveres dos cidadãos, a preservação do meio ambiente, o respeito ao outro, a autonomia e a responsabilidade que preparam o aluno para atuar na construção de uma sociedade mais justa, humana e democrática. Podemos dizer que o diferencial do colégio é o atendimento aos alunos e às suas famílias. Também somos uma escola que preza pela qualidade de seu ensino, implementando ações necessárias para cada caso. O aluno Atlântico conta com atenção individualizada e a família também, por meio do trabalho efetivo Família/Escola.

Quais foram as conquistas mais notáveis ??do Colégio Atlântico em termos de excelência acadêmica e desenvolvimento dos alunos? Ao longo dos anos, fizemos parcerias com sistemas de ensino e plataformas digitais, verificando as necessidades pedagógicas dos alunos diante dos conteúdos acadêmicos essenciais à aprendizagem, como também, buscamos ferramentas tecnológicas na administração dos novos desafios. Fomos pioneiros na implantação de um curso técnico em recursos hídricos, que formou profissionais aptos a atuarem no mercado emergente do tratamento de água e esgoto, além de serviços correlatos de saneamento e preservação ambiental. Em 2016 formamos uma parceria com a Cambridge Education para o curso de proficiência em língua inglesa, com 100% de aprovação em seus exames (We are gold!). Em seguida, ampliamos nossa oferta com o Programa Bilíngue em uma proposta diferenciada e uma grade ampliada com componentes curriculares como “Natural Science” e “Environment”. O programa utiliza conteúdos de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nas aulas do currículo comum, aplicando-os na língua inglesa, fazendo associações, contextualizando o que foi aprendido, elevando o nível de compreensão dos nossos alunos de um segundo idioma, com a regularidade das aulas e de situações cotidianas. Nossos alunos participam anualmente de diversos concursos, como olimpíadas do conhecimento e de desenho. Muitos deles alcançam medalhas de ouro, prata e bronze nas várias modalidades. Ao longo desses 25 anos, inúmeros alunos Atlântico ingressaram em universidades concorridas, como USP, Unesp, Unicamp e outras públicas e privadas de referência. Uma das ferramentas para esses resultados está no trabalho desenvolvido no Ensino Médio com o Sistema Etapa de educação.

Os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel significativo na educação moderna. Como o Colégio Atlântico integra a tecnologia em suas práticas educacionais para preparar os alunos para um mundo cada vez mais digital? O colégio sempre se preocupou com a demanda no mundo digital e procura acompanhar as exigências do mercado. Com a pandemia, todas as escolas tiveram que se reorganizar na questão da informática e a necessidade de atualização foi prioritária. Nossa escola não foi diferente. Buscamos o que havia de melhor naquele momento e continuamos aperfeiçoando o pensamento computacional. Para o próximo ano, estaremos implantando novas e modernas ferramentas nessa vertente. Já tínhamos o ensino de robótica e o ampliaremos em parceria com a Somos Educação, o Programa “Mind Makers” que desenvolve habilidades de liderança, iniciativa, colaboração e, principalmente, a capacidade de trabalho em equipe na resolução de problemas, tendo como base o pensamento computacional, fundamento sólido na ciência da computação. Programa como “Líder em mim”, também da Somos Educação, estará sendo adotado como uma proposta de autogestão das emoções, respeito, empatia, cooperação, responsabilidade e cidadania.

Além do foco na formação acadêmica, sabemos que a educação envolve o desenvolvimento pessoal e social dos alunos. Quais são as iniciativas do Colégio para promover a cidadania, valores e habilidades interpessoais? No sentido de colocar em prática nossos ensinamentos, os alunos realizam, no decorrer do ano, campanhas de arrecadação de vários gêneros a serem doados para entidades assistenciais. Imbuídos no coletivo e no social, mobilizam a comunidade escolar nessas arrecadações, como é caso da nossa Olimpatlântico, onde um dos quesitos, além das competições esportivas, é a pontuação nas arrecadações. Em nossa festa junina também abrimos espaço para que uma entidade assistencial arrecade fundos para fazer frente às suas despesas. Ao longo do ano, movimentamos a comunidade escolar junto às famílias e à sociedade em campanhas como do agasalho, de brinquedos e chocolates para a Páscoa de crianças carentes. Excursões pedagógicas e de lazer são ofertadas por acreditarmos na prática do conhecimento e na relevância da convivência social no meio estudantil. Todas essas ações são fortes ferramentas de formação para que nossos alunos venham a ser cidadãos observadores e prestantes. Temos sempre em mente, que a educação acompanha os interesses da sociedade e, cada vez mais, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais estará presente dentro e fora das salas de aula. O pensamento computacional e as tendências da inovação tecnológica, alinhados ao social e ao pedagógico, serão nossas vertentes para a educação nos próximos anos, em um protagonismo cada vez maior do estudante, associado ao bilinguismo e ao fortalecimento da convivência social na comunidade escolar, através das ações sócio-culturais.

Olhando para o futuro, quais são os planos e aspirações do Colégio Atlântico para os próximos anos, visando continuar proporcionando uma educação de qualidade e relevante para os estudantes de Piracicaba e região? Temos em mente que a educação sempre acompanhará os interesses da sociedade. Com a mesma importância, o desenvolvimento das habilidades sócio-emocionais estarão sempre presentes dentro e fora das salas de aula do Atlântico. Também estão em nossa proposta futura o pensamento computacional e a tendência de inovação tecnológica alinhada ao social e ao pedagógico, tendência para os próximos anos. Tudo faremos para que ele possa ser um cidadão prestante e atuante, mostrando-lhe que deve buscar novas tecnologias como instrumento de ajuda no seu dia-a-dia, sem esquecer da importância da convivência social, o que tornou-se muito evidente durante a pandemia. A escola é um espaço de aprendizado e de convivência social. 

Sua passagem como secretária de cultura trouxe contribuições significativas para a promoção cultural da região. Considerando o papel crescente da cultura no futuro, como você imagina que iniciativas culturais podem impactar positivamente o desenvolvimento social e educacional? À época em que estivemos na secretaria, nosso objetivo foi demonstrar toda robustez da cultura piracicabana por suas manifestações trazidas nos incontáveis eventos. Mais que isso, sempre buscamos capacitar as pessoas, particularmente crianças e jovens, em todas as vertentes. Com a implantação do projeto Movimentação Cultural, oferecendo aulas e oficinas de dança, teatro, música, desenho e artesanato fora da região central, fazíamos com que seus participantes se sentissem pertencentes aos seus bairros e ampliassem seus horizontes. No momento seguinte, quando se apresentavam em outros espaços, era o reconhecimento do aprendizado que haviam recebido de professores e oficineiros envolvidos e comprometidos com o grupo e com a cultura local.  Outra preocupação que tínhamos estava relacionada aos nossos fazedores de cultura. A eles eram disponibilizadas oportunidades de formação, aprimoramento e financiamento, como também momentos em que podiam trazer ao público suas obras e sua arte. Vale lembrar que implantamos cinco grandes festivais: de teatro, de canto coral, de dança e Pira Pró Dança, de música raiz e o de circo em parceria com o governo do Estado. Também criamos mais um salão de artes plásticas, o de Aquarela. Estas iniciativas e tantas outras trouxeram grande visibilidade para Piracicaba e sua cultura. Quanto ao impacto que promove na vida das pessoas, é importante dizer que ele se torna ainda mais potente quando atrela cultura e políticas educacionais. Difundindo religiosidade, dança, música, folclore, culinária, usos e costumes, entre outros aspectos, a cultura faz com que os jovens aprendam e também ensinem, atualizando a visão desse conjunto. Nesse sentido temos um exemplo muito próximo. Com a implantação do Salãozinho de Humor, a partir da formação oferecida aos professores que eram os multiplicadores junto aos seus alunos, o vemos hoje se tornando cada vez maior, admirado e reconhecido no país e no mundo.

Você também já atuou como secretária de cultura. Há alguma possibilidade de se candidatar novamente em 2024? E caso isso aconteça, quais planos têm para a cultura de Piracicaba? Ser secretário do município é sempre um grande privilégio. Estar na próxima gestão? Depende de quem será o chefe do executivo e se o convite será feito. Apesar de ter estado por dezesseis anos como secretária de cultura, considero importante que haja alternância no cargo para que se apresentem outras visões, que outras pessoas imprimam sua marca. Planos para a cultura de Piracicaba? Estar sempre colaborando com as pessoas que veem nosso desejo de participação e respeitam o trabalho que fizemos. Particularmente, estou sempre à disposição para servir aos piracicabanos. Continuo ajudando aqueles artistas e produtores que buscam orientação para formatação de projetos, por exemplo. Independente de ter um cargo, dentro dos nossos conhecimentos, ajudar quem precisa sempre faz bem para os dois lados.

Com sua atuação na educação e na cultura, porque é importante a possibilidade de fundir iniciativas culturais com ambiente o educacional? Quais são os benefícios? Cabe bem aqui a frase “a educação forma e a cultura transforma”, cujo autor não me lembro quem seja. De toda forma, para mim é muito verdadeira. Sabemos que a cultura não está somente nas manifestações artísticas. Pelo contrário, em sua amplitude ela traz o conjunto de saberes e fazeres de uma comunidade, de um povo. Contempla, entre outros aspectos, seus gostos pela comida, pelas vestimentas, pela música, pela religiosidade, etc, etc, etc. São os seus hábitos, aquilo que ela identifica como sendo seu. Uma cultura continuará existindo, de forma perene, se estiver atrelada às ações educativas. Não falo exatamente da escola formal, mas, principalmente, do que se aprende, desde pequeno, com a família, em comunidade. É a partir desses conhecimentos que surgem o amor, o carinho, o respeito e a certeza do pertencimento ao seu próprio grupo. Os povos originários são exemplos vivos desse processo. Os benefícios que daí advêm são enormes. Mantém a memória afetiva que, por si, faz com que esse conhecimento seja repassado para outras gerações e para outros grupos de diferentes culturas. Essa disseminação, por um lado, e a manutenção cultural, por outro, se potencializa ao ser permeada pela educação que fornecerá os elementos para sua consolidação.   

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