COMPOSITOR

‘OSP é um grupo muito profissional, muito capaz, muito preparado’, diz Alexandre Guerra

Confira os principais trechos da entrevista do compositor ao Jornal de Piracicaba, em que ele traz os detalhes da peça, que acontece neste sábado (22)

Por Rodrigo Alves | 18/07/2023 | Tempo de leitura: 7 min
Especial para o JP

Divulgação

No dia 22 de julho, às 16h e 19h, a OSP (Orquestra Sinfônica de Piracicaba) demonstrará mais uma vez o seu ineditismo ao público, ao estrear mundialmente uma obra de um grande compositor brasileiro, Alexandre Guerra.

Dedicado ao violoncelista piracicabano e diretor artístico associado da OSP, André Micheletti, o "Concerto Místico para Violoncelo e Orquestra" teve como inspiração o mito de Hermes Trismegisto, o primeiro dos alquimistas, e seus princípios herméticos.

A obra foi inspirada no mito de Hermes Trismegisto e seus princípios herméticos. Hermes, que teria vivido no Egito quinze séculos antes de Cristo, é o primeiro dos alquimistas e o inventor de um sistema de crenças metafísicas. É também considerado o mestre da astrologia e o inventor de práticas mágicas.

Paulista, Alexandre Guerra tem 11 álbuns lançados e mais de 120 produções, em parceria com diretores como Jayme Monjardim, Bruno Barreto, Sérgio Machado, Maurício Dias, Mara Mourão, Daniel Augusto e Marcelo Machado. Somente no ano de 2022 foram 22 concertos com obras de sua autoria, por 11 diferentes orquestras.

Suas composições vêm sendo executadas por importantes orquestras e intérpretes dentro e fora do Brasil, tais como as Sinfônica de Budapeste, Sinfônica da Romênia, Filarmônica de Montevideo e Sinfônica Nacional.

No universo da música popular, Alexandre Guerra atuou como arranjador em projetos com Carlinhos Brown, Orquestra Sinfônica da Bahia, Léo Gandelman e Banda Sinfônica de Natal, além de ter sido laureado com o Prêmio Sharp na categoria de música instrumental, como melhor arranjador pelo álbum “Girassol” de Ed Ribeiro Lima.

Em sua filmografia como compositor, podemos destacar os longas-metragens: “O Tempo e o Vento”, “Tudo o que Aprendemos Juntos” e o “Vendedor de Sonhos” (indicados na categoria Melhor Trilha Sonora no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro), além dos premiados documentários “Quem se importa?” e “New Especies – The Expediction” e a animação “Brasil Animado”, primeiro longa 3D brasileiro. Também estão em seu currículo a série de TV “Maysa” (Rede Globo) e as séries para canais internacionais “The American Guest” (HBO), “Dino-Aventuras” (Disney) “Sauvés de l’extinction” (TV5 Monde) e “Secret Brazil” (NatGeo), veiculadas em mais de 80 países.

O JP é parceiro da Temporada 2023 da OSP, que é realizada pela Prefeitura do Município de Piracicaba, por meio da Semac (Secretaria da Ação Cultural) e tem o patrocínio prata da Hyundai e Drogal, o apoio da Caterpillar e a parceria da Rádio Educativa FM, Rádio Jovem Pan, Ibis Styles, Empem, MegaBilheteria e Monte Sul.

Confira os principais trechos da entrevista do compositor ao Persona do Jornal de Piracicaba, em que ele traz os detalhes da peça, que será regida no Teatro do Engenho pelo maestro alemão Knut Andreas.

Como surgiu a ideia de compor um concerto para violoncelo e orquestra?
Na história da música, há grandes concertos para violoncelo, feitos por Dvo?ák e Elgar, por exemplo, e um compositor contemporâneo se intimida diante de todo esse repertório incrível. Embora muitas das minhas peças tenham passagens solistas para o instrumento, sempre tive muita vontade de compor um concerto para o violoncelo. Então, encontrei uma desculpa, uma justificativa, buscando uma temática que pudessem nortear o concerto, já que o violoncelo é um instrumento que tenho uma grande identidade, pela capacidade expressiva.

De que forma surgiu a figura do alquimista Hermes Trismegisto, também considerado o mestre da astrologia?
Como o meu trabalho como compositor é muito ligado a filmes, séries e uma música a serviço das histórias, tento encontrar algo que possa ser a faísca inspiradora e que me motive a compor. Então, busquei uma temática que pudessem nortear esse concerto: foi justamente na figura do Hermes Trismegisto, por ser o primeiro dos alquimistas e que criou uma escola filosófica das leis herméticas. E essas leis, depois de milhares de anos, chegam até hoje para a gente de uma forma meio quase intuitiva.

Eu fiquei justamente intrigado por esse fato de um princípio que foi criado há milhares de anos, e o próprio Hermes não deixou isso registrado: foram discípulos e discípulos dele que trabalharam sobre esses princípios, e que chegaram até nós, hoje.

A figura do próprio Hermes é um cara que era o mensageiro dos deuses para os egípcios. Então, ele foi mitificado também. Não só a figura dele, como os princípios dele foram, de certa forma, a coluna vertebral desse concerto.

Trata-se de uma obra em três movimentos. De que forma ela se desdobra?
O primeiro movimento (O Mensageiro) é um tributo ao Hermes Trismegisto, enquanto Polaridade, o segundo movimento, faz referência aos princípios herméticos: tudo tem dois polos, nada é puro ou só num lugar. Já o terceiro movimento, Gênero, segue a linha de que o feminino e o masculino estão presentes em tudo. Isso norteou, inclusive, musicalmente, a minha criação. De que forma que eu, por exemplo, poderia tratar um tema musical fazendo, digamos assim, a oscilação dele entre uma variação entre o que seria mais ou menos masculino, mais ou menos feminino. Essa coisa da presença do masculino no feminino e do feminino no masculino, é inspiradora e poética. Como é isso: provoque em mim uma vontade, uma inspiração para lidar com o material musical de forma a transformá-lo, a variá-lo. Então, tudo isso foi motivador. Ou mesmo numa questão de polaridade, em que você pode, de repente, partir de algo que seja, por exemplo, extremamente doce para transformar e transmutar isso no polo oposto disso, de algo que seja bastante dissonante, agressivo. Como é que eu consigo transitar entre opostos dentro de uma mesma criação? Como é que partindo de um mesmo motivo eu posso transmutá-lo em seu oposto? Então tudo isso virou fonte de inspiração musical para criar essa obra.

O que lhe fez dedicar a obra ao violoncelista André Micheletti?
O concerto foi composto para o André Micheletti, que além de ser um grande amigo é reconhecido como um dos maiores violoncelistas do Brasil. E, para além disso, é uma pessoa muito querida. O André inclusive também tinha interesse pelo Hermes Tresmegisto, conhecia e ficou encantado com a temática do concerto. Ele me apresentou uma série de possibilidades técnicas do instrumento, que até então desconhecia, e esses recursos foram incorporados à obra.

Ele também acompanhou a gênese de tudo isso e inclusive participou na alteração e adaptação daquilo que tivesse o idioma e a executabilidade do instrumento. Foi uma relação bem próxima e nós dois aguardávamos uma oportunidade para que isso pudesse ser programado em concerto, que pudesse ser executado.

Será uma oportunidade única para o público que acompanha a OSP...
Além de tudo, faremos algo que também será histórico para a orquestra. Estamos trazendo o alemão Uli Schneider, talvez o mais reconhecido engenheiro de som do Brasil, que gravou os discos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e de outras orquestras importantes, como a Filarmônica de Minas Gerais e a de Goiás. E ele vai, no dia anterior ao concerto, gravar a performance da orquestra tocando esse concerto, com a intenção de lançarmos o que talvez seja o primeiro disco da OSP.

Por quais motivos você escolheu a Orquestra Sinfônica de Piracicaba para essa estreia?
Acompanhei desde o início a nova fase da OSP, em que o maestro Jamil Maluf, a convite de André Micheletti, assumiu a orquestra e conseguiu criar um programa regular de concerto, uma temporada, atraiu patrocinadores e expandiu, inclusive, o número de músicos, além de criar uma condição ímpar para esse grupo muito especial de músicos. No ano passado, tive o privilégio de ter uma obra minha tocada pela orquestra, a suíte que faz parte da trilha do filme Brasil Azul.

Realmente, esta também é uma interpretação da OSP que teve uma ampla repercussão entre o público.
Essa obra foi gravada pela Orquestra Sinfônica de Budapeste e quando foi a vez da Sinfônica de Piracicaba interpretar, confesso que me surpreendi já no final do primeiro ensaio. No momento que o maestro Knut Andreas baixou a batuta, veio um som impressionantemente equilibrado, refinado, pungente, potente. Desde a primeira passagem, a música já veio muito pronta. O que nós mais desejamos é ter nossa música bem tocada, bem interpretada.

Como você classifica a qualidade da OSP?
É um grupo muito profissional, muito capaz, muito preparado e dedicado ao programa. E o maestro Knut Andreas também é alguém que sabe trabalhar muito bem com o conjunto, que consegue extrair uma sonoridade muito especial. Então, eu tenho esse privilégio duplo, né? Tanto um grupo de altíssimo nível, como a OSP, quanto um maestro com essa capacidade, com esse talento, com essa sensibilidade. E, no caso agora, nós vamos ter a presença do André Micheletti. Por isso estou muito, mas muito ansioso e grato por esse momento, por essa realização, que vai, eu tenho certeza, ser um marco na minha vida e na vida da orquestra, do André Micheletti e do maestro Knut Andreas.

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