LUTO

Ermelindo Nardin, artista plástico piracicabano, morre aos 83 anos

Velório será amanhã (7), das 10h às 15h, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Piracicaba

Por Redação | 06/07/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Arquivo JP

Piracicaba sofreu uma grande perda nesta quinta-feira (6) com um dos grandes nomes e pioneiro da arte contemporânea na cidade, o artista plástico Ermelindo Nardin. Aos 83 anos, Nardin deixa um importante legado para a cultura artística, que foi reconhecido nacional e internacionalmente ao longo de sua carreira. Ele era casado com Celeste Aparecida Sartori Nardin e deixa para trás seus filhos: Ermelindo Nardin Filho, as gêmeas Mariana e Celeste Sartori, e seus netos. O velório ocorreu ontem (7), das 10h às 15h, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Piracicaba, e o enterro foi realizado no Cemitério da Saudade.

O artista lutava contra as sequelas de um AVC hemorrágico que o deixou acamado. Apesar de ter conseguido voltar a pintar e retornar brevemente ao seu ateliê após uma regressão, sua condição piorou neste ano.

Nardin foi idealizador do SAC (Salão de Arte Contemporânea) e um dos grandes incentivadores do Salão Internacional de Humor de Piracicaba – hoje reconhecido como um dos principais do mundo.

Em sua última entrevista ao JP, realizada em 30 de janeiro de 2022, o artista contou como foi muito censurado em Piracicaba. “Fui eu quem trouxe a Arte Contemporânea aqui para Piracicaba e foi muito difícil, porque Piracicaba é uma cidade bem acadêmica. O começo foi difícil. Os primeiros salões foram difíceis, os cursos foram difíceis de trazer”, revelou o artista.

Ele acreditava que era necessário dar mais cultura, ao povo, aos jovens e às escolas. “Hoje parece que não temos mais nada. Eu abro os jornais atualmente e não vejo nada de tão positivo”, contou.

Além disso, tinha uma paixão muito grande por música, principalmente Debussy, que tinha uma grande influência em suas telas. “Como artista plástico, durante a elaboração de um trabalho, eu costumo ouvir muita música”, disse durante a entrevista.

Ira Cardinalli, prima de Ermelindo Nardin e muito próxima a ele, compartilhou que essa perda é sentida não apenas por Piracicaba, mas por todo o Brasil e exterior. “Ele levou o nome de nossa cidade para todo o Brasil e o exterior. O nível cultural tem uma perda muito grande, deixando um legado muito grande que devemos guardar”, contou ao JP.

Emocionada, ela também comentou sobre a convivência desde a infância, no qual acompanhou sua trajetória e carreira. “Ermelindo era um excelente profissional, uma pessoa muito boa e sempre delicado. Ele era super capacitado em tudo o que fazia. Quando eu me casei, ele me um quadro de eu tenho muito carinho, e agora, mais ainda. Que ele possa descansar em paz e seguir sua trajetória no mundo espiritual. O nosso amor nunca morrerá”, concluiu.

Nardin era muito admirado e também foi um grande professor para muitos artistas piracicabanos e renomados pelo mundo.

Sandra Rodrigues, proprietária da Art Collection Galeria de Piracicaba, relembrou momentos marcantes com o artista. Ela conheceu Nardin em 2008, quando começou a atuar no mercado da arte, e ao longo dos anos desenvolveram uma forte amizade devido ao amor compartilhado pelas artes plásticas. “Posso dizer que ele é meu grande mestre. Com ele muito aprendi sobre arte e apurei o meu olhar. Nardin foi um artista inquieto, perspicaz e disciplinado. Estava sempre em busca de algo, inclusive dentro de si mesmo, que por vezes víamos refletido em sua arte”, finalizou.

O Salão Internacional de Humor de Piracicaba também prestou homenagem ao artista no Facebook, lembrando que Nardin foi um de seus grandes incentivadores para a criação do evento: “A ideia de se abrir um espaço para desenhos de humor dentro do SAC (Salão de Arte Contemporânea) surgiu de conversas entre ele e Cerinha, que partiram em 1972 para o Rio de Janeiro, na Redação do Pasquim, para pedir ajuda aos editores, entre eles, Jaguar. Naquele ano não conseguiram, mas insistiram em 1973 e no ano seguinte acontecia o Salão. O Salão Internacional de Humor de Piracicaba existe graças a coragem desses que investiram seu tempo e esforço, um deles, o grande Nardin.”

A Prefeitura de Piracicaba também emitiu uma nota lamentando a perda de Nardin. “Nardin era um expoente das artes, mais do que isso, um artista polivalente. Por meio do SAC que criou foi responsável por destacar para o mundo, importantes nomes da arte contemporânea brasileira, que começaram sua carreira enviando trabalhos para a mostra, criada ainda em 1968”.

 “Ermelindo era o artista vivo mais significativo e importante de Piracicaba, pena que nunca teve seu verdadeiro valor reconhecido na cidade. É uma perda irreparável ao nosso mundo artístico", relatou.

TRAJETÓRIA
Nascido em Piracicaba, no dia 19 de fevereiro de 1940, Ermelindo Nardin é filho de Paulo Nardin e Leonor Rigo Nardin. Estudou na Escola de Belas Artes de São Paulo entre 1957 e 1962, além do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). Frequentou também cursos no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) em 1968, ano em que também realizou sua primeira exposição individual no MACC (Museu de Arte Contemporânea de Campinas).

Na Escola de Belas Artes de São Paulo, Ermelindo Nardin foi professor de xilogravura entre 1961 e 1962. Em 1980, recebeu o prêmio de melhor desenhista da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Em 1983, publicou seu livro “Retratos Imaginários de Ermelindo Nardin 1978/1983”, pelo Masp, com texto de Jacob Klintowitz. Em 1986, foi professor no Departamento de Artes Plásticas da Unicamp. Já em 1988, foi professor de Expressão Gráfica, Formas e Cores no Paço das Artes.

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