A chuva que atingiu os municípios do litoral norte de São Paulo, é considerada uma das maiores tragédias da história do estado, segundo o governo. Com dezenas de mortes confirmadas, o temporal foi também o maior acumulo de chuvas que foi registrado no país, com seiscentos e oitenta e dois milímetros e intensa devastação.
Equipes de psicólogos e assistentes sociais estão realizando um trabalho de acolhimento dos familiares das vítimas fatais, e desabrigados. O município de São Sebastião foi um dos mais afetados, com deslizamentos de encostas, alagamentos e bairros isolados devido a interdição de vias de acesso, mas também Bertioga, Ilhabela, Ubatuba e Caraguatatuba sofreram com o acumulo de água das chuvas. O temporal registrado, segundo o Cemaden (Centro de Monitoramento de Desastres), superou a previsão do que era esperado. O Fussp (Fundo Social de São Paulo) recebe doações para as vítimas das chuvas e as principais necessidades, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, são alimentos não perecíveis, água mineral, roupas limpas em bom estado para uso.
As doações podem ser feitas no depósito do FUSSP na capital paulista e todos os produtos arrecadados serão encaminhados à coordenação Estadual da Defesa Civil, que será responsável pela distribuição as famílias. A tristeza é imensurável com a quantidade de mortos, desabrigados e desalojados. Tragédias, um cenário devastador para se reviver, e de tempos em tempos somos invadidos por esses acontecimentos naturais que não temos como prever o que a natureza pode produzir. Um verdadeiro caos pensando nas informações, expondo as manifestações psicossociais em situações de catástrofes naturais; os primeiros auxílios psicológicos e princípios técnicos, as reações normais e as psicopatologias, o trauma que acomete a população e os profissionais da saúde, dentre inúmeros outros desafios que a situação requer. Ouvimos nos últimos dias dos meios de comunicação dos aspectos trágicos, das dezenas de mortes que envolvem o cenário traumático, que mais parece uma guerra.
Porém, vou abordar aqui sobre a luta pela sobrevivência, da graça vivenciada em meio a tanta desgraça e da imensa força de superação que surge de momentos de dor e fraqueza. Essa realidade move em parte da população a necessidade de participar e se envolver nessa grande causa, saindo de um lugar de acomodação, estimula-se um olhar para fora de si mesmo, identificando as necessidades latentes diante de nós. E essa realidade nos escancara o conceito de resiliência, que se refere a capacidade de os indivíduos enfrentarem as adversidades, mantendo uma habilidade adaptativa, deixando transforma-se por elas, para recuperar-se, em busca da cura para a superação.
É possível identificar as pessoas ajudando–se mutualmente, mesmo aquelas que já sofreram muitas perdas ou perderam tudo, como viver a dor da morte de entes queridos, a dor de deixarem seus lares para trás e se libertarem dessa tremenda desgraça. Desta forma é possível identificar que o ser humano é movido pelo senso de pertencimento de algo muito maior, um amor pelo próximo, a dor do outro escancarada em nós mesmos. O sentimento de que o sofrimento precisa ser acolhido e compartilhado, evidenciando para toda uma sociedade que o vigor da vida pulsa em momentos como esse, no despertar para a realidade, extraindo o melhor de cada um de nós. Das perdas, nasce a urgência em retirar dos escombros algo próprio, advindos dos recursos internos e externos, que traduzem–se em ações de contribuições, que podem ser identificadas com resgate ou socorro às vítimas, suporte psicológico, distribuição de alimentos, remédios, orientação a população. Nestes momentos todos se unem em um trabalho em conjunto, para vidas serem reconstruídas. Voluntários ou até mesmo as vítimas podem dar sentindo as suas próprias existências.
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