Todos os indivíduos já experienciaram no decorrer da vida, alguma vivência na qual foram vítimas ou culpados da gula, principalmente se usarmos a oportunidade para refletir nesse período do ano, logo após as festividades.
Quantos pratos deliciosos foram servidos nas reuniões de família e amigos, e quem não se sentiu tentado em comer mais do que ‘cabia’, cometendo o pecado. Denominamos de gula, esse conteúdo inconsciente e por mais que o individuo tenha consciência do que faz, não entende o porque fez. A gula está relacionado a falta de temperança e moderação, a origem da palavra é do latim, que significa parte da boca na qual se engole.
A comida norteia a vida humana, historicamente, os homens caçavam animais e convidavam os amigos para compartilhar a comida, na idade média após os banquetes oferecidos, que os convidados se empanturravam bastante, iam ao banheiro, enfiar o dedo na garganta, para aliviar-se e poder comer mais. Essa ação de esvaziar o estômago para sobrar mais espaço para a comida, além de outros recursos utilizados para emagrecer, que é a indução do vômito, consideradas anorexia e bulimia.
Em nossa sociedade a ditadura da beleza criou sintomas, que sempre existiram, considerados os transtornos alimentares. Para a psicanálise, exagero esta relacionado ao “gozo”, a pulsão na gula é oral e o individuo come para se sentir livre da angústia, desta forma o ato que comer quando não há fome, é estabelecido como uma necessidade de ultrapassar essa barreira.
É necessário alerta em procurar por ajuda especializada quando o individuo começa a ingerir quantidades excessivas de comida mesmo sem fome, comer até se sentir desconfortável, esconder hábitos alimentares por vergonha, esconder comida para episódios de voracidade, esconder embalagens vazias é estar descontente com aparência.
É obvio que a gula nasce da necessidade ou do desejo de saciar a fome fisiológica, para a manutenção da existência e o sentido dessa existência vinculado a espécie humana se estendendo para além do ‘ronco’ do estômago vazio. Assim, a gula, a gulodice esta associada ao ato de comer, e o verbo “comer” além do sentido biológico do termo, também costuma ser conhecida por intermédio de uma expressão sexual: ‘comer’, copular, consumir-se sexualmente de um indivíduo.
Pecado, sim, a gula tem a representação do pecado, que escapa do mero prazer da fome, presente em uma deliciosa refeição, e que nunca cede o lugar a satisfação, correspondendo ainda ao desejo incessável do erótico, que nunca se esgota, transcorrendo ao ato da exploração, degustação, também do outro, em busca de uma plenitude imaginaria que adquire alguma densidade somente quando incansavelmente repetida.
Ao tornar o pecado, sofrimento psíquico será necessário adentrar nos conteúdos das possíveis falhas ocorridas na fase do desenvolvimento psíquico do individuo e ressignificar em busca do caminho do controle e ou cura.
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