Liberte-se dos ressentimentos para cessar seu sofrimento

Por Ana Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

Na atualidade é muito comum buscarem por psicoterapia indivíduos com discursos de acusações contra demais indivíduos ou que englobam o mundo todo. Pode-se identificar que o ressentimento está atrelado a conflitos característicos dos seres humanos e na contemporaneidade, entre as exigências e as configurações imaginárias próprias do processo de individualismo, vinculados aos mecanismos de defesa do ‘’eu’’, a serviço do narcisismo. Essa lógica do ressentimento possibilita às pessoas com esse prejuízo do sujeito, a sustentar nele próprio uma integridade narcísica, representada pelo desfecho favorável desse investimento psíquico.
Então, ressentir-se pode significar direcionar aos demais a responsabilidade pelo conteúdo que lhe proporcionou sofrimento, e esse outro indivíduo passivo ao qual direcionamos, em algum momento, o poder da autonomia, dado a culpa do que nos possibilitou a sensação de fracasso. Desta forma, o ressentimento torna-se a fantasia do sujeito neurótico, determinando a escravidão do insconciente e sua impossibilidade de delegar-se como sujeito do desejo.
O ressentimento pode ser confundido com um sintoma, embora possa considerá–lo como uma estrategia de compromisso entre duas pessoas, dois campos psíquicos, o do individuo narcisista e o do outro individuo, possibilitando que o ressentimento possa ser considerado uma categoria do senso comum, que nomeia a impossibilidade de esquecer ou superar um agravo, uma mágoa, a persistência de uma queixa, traduzindo a repetição constante de que julgou-se ofendido. O ressentimento não estará em um indivíduo que é incapaz de esquecer e ou perdoar, mas estará naquele que não quer se esquecer, nem se perdoar, não superando o mal-estar que lhe tornou vítima.
Essas pessoas que apresentam repetições de pensamentos acusadores e fantasias vingativas, apresentam uma disposição psicológica relativamente estabilizada, que por um recalcamento sistemático, promove a liberação de certas emoções e sentimentos normais e inerentes aos fundamentos da natureza humana, porém tendem a provocarem uma deformação no sentido dos valores vinculados aos julgamentos, confeccionando a soma de rancor, desejo de vingança, raiva, maldade, ciúmes, inveja, malícia, uma situação desfavorável que gera um agravo exagerado.
Então, o conceito de repressão aponta que o impulso torna-se impedido de se fixar, e o ressentimento ofendido, não permite-se a atuar equiparando-se a ofensa recebida, envenenando o psicológico, produzindo a reorientação para o ‘’eu’’ dos impulsos agressivos impedidos de descargas, nascendo desta maneira uma disposição passiva para a queixa e a acusação, assim impossibilitando o individuo de esquecer o agravo do passado, que o faz sempre planejar a vingança.
Porém, no ressentimento, o momento da vingança nunca chega, pois o ressentimento é tão incapaz de vingar-se quanto foi impotente de reagir imediatamente aos agravos e injustiças sofridas, retornando sempre àqueles afetos que reproduzem o ressentimento e, para que ele se instale, será sempre necessário que a vítima se sinta incapaz de reagir ao agressor.
E essa face imaginária do outro, ao qual direcionam a demanda de amor e reconhecimento, determinam que o ressentimento se represente não como faltante, mas como prejudicado. Os individuos que apresentam essa demanda produzem muito sofrimento a si próprios, e a busca por psicoterapia visa atavessar o campo das forças do inconsciente, associadas ao tema do ressentimento para que possam no decorrer da existência viver reformulações visando enfrentamentos que proporcionem mudanças.

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