A inveja enfeitiçada pela ilusão

Por Ana Pascoalete |
| Tempo de leitura: 4 min

As novas formas de relacionamentos da sociedade contemporanea estão vinculadas as redes sociais virtuais, que oferecem ferramentas e serviços de comunicação e interação aliados a um padrão egocêntrico de relacionamento, potencializando as redes sociais preexistentes, através da comunicação mediada pelo uso da internet é possivel perceber a produção narcísica de perfis sem conexão obrigatória com a realidade, tendendo estimular a competição e aumento compulsivo da rede de contatos, sendo que aproximadamente um terço dos usuários do instagram apresentam após acessá-la, sentimentos relatados como negativos, como instastifação e frustração.

Para estudiosos, a inveja estaria por trás desse sentimento de insatisfação relatadas por muitos internaltas, uma vez que os acessos incessantes a perfis de amigos aparentemente bem sucedidos acabam estimulando uma inevitável comparação, podendo despertar a inveja. E investigar o que oculta esse sentimento primitivo pode fornecer conteúdo para pensarmos o que estamos vivenciado diariamente. Para a psicanálise, Melaine Klein introduziu em 1.924 sua teoria para designar a inveja como um sentimento primário e inconsciente de avidez em relação a um objeto que se quer destruir ou danificar, e é existente em todos os individuos desde o seu nascimento, quando o bebê coloca partes más de si mesmo, direcionadas ao peito (seio materno) para destruir o que existe de bom, referindo –se na teoria cientifica que a inveja intensa do seio que amamenta os bebês interfere na capacidade de satisfação completa, prejudicando o desenvolvimento da gratidão, que está vinculada a generosidade, sendo a riqueza interna proveniente da assimilação do objeto bom.

Nos casos de individuos com sentimentos de inveja excessiva costuma ocorrer, proporcionamente um prejuízo na capacidade de substituir um objeto ausente por outro equivalente, e por essa razão na lógica do invejoso existe um objeto único e incompartilhável. Vale abordar que o ciúme é divergente da inveja porque ele faz temer perder o que se tem e a inveja é sofrida por ver o outro possuir o que deseja-se para si mesmo. Desta maneira vale dizer que a pessoa invejosa tende a ser insaciável, não podendo ser satisfeita porque a inveja origina –se de dentro do individuo, encontrando sempre um objeto para colocar no alvo. Expondo segundo Melanie Klein a estreita relação entre a voracidade e a inveja, e uma característica inevitável é a constante comparação entre a pessoa invejosa e os demais, em que existe somente uma possibilidade, ou ela é triunfante ou derrotada.

E na fantasia do invejoso, diante do risco de vir a ser humilhado com a derrota, é comum que ele evite colocar-se em situações em que estimule comparações para não se arriscar, ficando aprisionado a um processo de ilusão de devaneio, tornando –se um feroz crítico das realizações dos demais. Atualmente, é possível observar determinados padrões que vem se evidenciando na maioria dos individuos, os nossos ideais de ego estão padronizados, queremos beleza, inteligência, prestígio e dinheiro para usufruir de tudo que nos é oferecido, e essas razões revestidas das aparências de um “saber viver” só funcionam se conseguirmos reduzir a vida a uma perpectiva mais estreita,ao perimetro da satisfação das necessidades e esse perimetro parece a busca de um desejo insaciável, porém não é, uma vez que os objetos oferecidos existem no mundo, criando permanentemente a ilusão de que o desejo pode ser satisfeito, e quanto o objeto de desejo é inexistente, perdido desde sempre, essa procura insere o sujeito em uma incansável repetição.

E é possivel observar, em nosso cotiano, as diversas formas em que esse atravessamento pela imagem se coloca, quando frequentamos eventos que na maioria das vezes é possivel em ser visualizados de perto ou atraves de telões, e mesmo assim o registro fotografico através de celulares de extrema tecnologia são realizados, mas só terão valor se puderem ser postados e apreciados pelo outro. Ao analisar as novas redes sociais, podendo perceber de forma clara como tudo fica exposto, assim no mundo virtual não existe lugar para a falta, a felicidade e a completude são pré- requisitos para inclusão de viagens, passeios, encontros e festas exibidas como se só tivessem valor com o reconhecimento do olhar em geral invejoso do outro.

Não é necessário surpriender se com o fato de todos os seres humanos vivenciarem o sentimento de inveja e analisando os pontos expostos acima no que se refere as características da pessoa que sente inveja, um aspecto levantado seria o círculo vicioso de tentar despertar no outro o sentimento de inveja sentindo por si próprio. Nesse sentindo, pode-se pensar no funcionamento das redes sociais, uma vez que, quando acessamos, algo é despertado, e passamos, então, a querer despertar esse mesmo sentimento nos demais. Estamos vivendo em uma cultura marcada pela valorização da imagem, e assim nossa subjetividade vem se constituindo, uma vez que tentamos ser o que mostramos, mostrando ao mundo o que desejamos ser. Esse desarranjo em torno da imagem acaba gerando uma grande precipitação, pois estamos renunciando -se de um autoconhecimento em prol de um reconhecimento por parte do outro.

Além disso, o empobrecimento da experiência não acontece somente enquanto estamos voltados para o registro da nossa própria vivência e esse processo podem trazer um custo psíquico muito alto, uma vez que as relações reais estão se tornando mais empobrecidas, como momentos íntimos cada vez mais raros, os vínculos proximos menos cultivados em interesse dos milhões de amigos virtuais, a percepção em relação ao próprio valor e as próprias qualidades está cada vez mais enfraquecidas.

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