Minha mãe vestiu minha uma camisetinha branca e um shortinho azul e calçou minha bota pesada que servia para corrigir o pé chato. No peito estava escrito, também em azul, Saci Pererê, nome da minha primeira escolinha.
De mãos dadas com ela, descemos a rua. Era só virar a esquina e na movimentada Barão de Serra Negra ficava uma casa simples de portão colorido. No quintal, tinha uma piscininha e umas três ou quatro salinhas.
Entrei naquele espaço que para mim era gigante. Logo fui recepcionado pela professora Andréia e foi paixão à primeira vista. A gente aprendia um pouco do abecedário e me lembro da dificuldade (que tenho até hoje) de escrever as letras bem redondinhas.
No ano seguinte, fui fazer o prézinho, na escola Instituto Baroneza de Rezende, regida por freiras, mas na verdade era uma unidade do Sesi (nunca entendi direito essa união).
A Irmã Regina era quem dirigia o colégio com punho (ou seriam dentes) de aço. A segunda professora da minha vida era outra irmã, a Lurdinha. A vida ali seguiu fácil, com muito treino de caligrafia, mas muita brincadeira também. A diferença era que começaram a falar bastante de Jesus.
Um dia peguei piolho e a Irmã Lurdinha me trancou na sala e ficou passando pente fino para tirar as lêndeas enquanto todos os alunos assistiam pela janela.
Na primeira série, aprendi a amar gramática com a professora Ana Paula. Na segunda, a professora Ana Maria me ajudava em matemática. Dona Inês era a professora da terceira série, que já ensinava coisas mais sofisticadas como Ciências e Estudos Sociais.
Na quarta série, dona Renata era delicada e me dava uma baita atenção por eu ir bem nas notas. Isso me incentivava muito.
O Sesi acabou inaugurando um mega centro educacional num lugar bem longe o que foi um divisor de águas na minha vida escolar. E foi justamente quando a gente começou a ter vários professores e não apenas um. Parecia que lidar com tantas matérias diferentes era coisa de gente com muita responsabilidade.
Daí minha memória me engana, pois não consigo mais diferenciar tanto o que houve entre a quinta e a oitava séries, pois os professores eram basicamente os mesmos.
Me lembro das aulas de arte com a Dona Sílvia, que me ensinou muito mais que desenhar (já que ainda sou um fracasso), mas o que era cubismo, realismo e arte abstrata, por exemplo.
Fizemos uma exposição no shopping e meu quadro estava lá. Era a representação da Iemanjá, que mais parecia um peixe boi.
A engraçadíssima Dona Taciana, professora de Ciências. Lembro de uma aula que a gente tinha que desenhar os órgãos genitais. E como eu era péssimo no desenho, ficou horrível. Ela virou para mim e disse baixinho no meu ouvido: "o seu pipi é assim?". Fiquei roxo-turquesa de vergonha!
As aulas de história eram com a professora Tercília. Tomamos um susto quando vimos uma vez ela no carro fumando um cigarro. Professora, para nós, era um ser puríssimo e fumar era algo de gente rebelde. Adoramos!
A Dona Elizabeth era professora de Geografia e a gente morria de medo. Mas aprendemos bastante pintando mapas nas aulas dela (não menos do que jogando War).
Mas o troféu pavor vai para o seu Roberto, professor de Educação Física, que mais parecia um sargento. Era um verdadeiro carrasco e deve ser responsável por nove a cada dez traumas da minha adolescência. Ele me ensinou a torcer para que a ditadura militar nunca mais volte.
Lembro de praticamente todos os professores da minha infância. Muito mais do que a sabedoria das coisas do mundo, eles me ajudaram a fazer as escolhas da minha vida.
E teve muitos outros pela frente. Nunca vou esquecê-los. Torço para que todos também tenham professores que façam a diferença. A nossa vida muda com eles e tenho certeza que a sociedade muda também.
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