Brasil

É O AMOR quem qualifica o SACRIFÍCIO

Por Padre Antonio Aparecido AlvesProfessor na Faculdade Católica-SJC e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em SJC |
| Tempo de leitura: 3 min
Significado. Aos cristãos, o importante é o amor doado
Significado. Aos cristãos, o importante é o amor doado

Acabamos de viver a Semana Santa, onde celebramos o mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Costuma-se, em algumas pregações desta semana, salientar o aspecto sangrento de seu sacrifício redentor, colocando toda a importância no calvário como sendo o momento em que Ele "deu sua vida por nós". Desta maneira, fica desmerecida sua proximidade com os pobres, doentes e outros, bem como sua pregação e sua mensagem. Uma visão mais alargada do mistério da redenção nos leva a entender que toda a vida de Jesus foi redentora e que, por isso, tudo foi alcançado pela salvação que Ele livremente nos ofereceu. Como afirma o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, a Redenção começa com a Encarnação, onde o Verbo assume toda nossa existência, menos o pecado.

É o amor quem qualifica o sacrifício. Ora, não podemos reduzir a entrega de Jesus ao sacrifício do calvário, que foi a consequência religiosa e política de sua proximidade com os excluídos de seu tempo. Toda a vida de Jesus foi redentora, pois ao se encarnar, o Verbo elevou a humanidade e o cosmos (Hb 10,5). Portanto, precisamos colocar o seu sacrifício dentro de outro esquema de fé. O apelo ao sangue faz parte da concepção pagã, inclusive até com sacrifícios humanos em algumas religiões da antiguidade. Para nós, cristãos, o importante no sacrifício não é o sangue derramado, mas o amor doado, pois é ele quem qualifica o sacrifício. Isso é importante até mesmo em uma dimensão humana, pois é o amor quem dá sentido ao sacrifício de um pai e mãe que lutam para criarem e educarem os seus filhos. Aqui está, portanto, a originalidade do sacrifício de Jesus na cruz, se comparado aos dos pagãos. Como diz o apóstolo Paulo, "posso dar meu corpo para ser queimado, mas se não tiver amor, de nada adiantaria" (1 Cor 13,3). Entendendo desta maneira o sacrifício de Jesus, podemos dizer que também nós devemos "sacrificar" a vida pelos irmãos, no sentido de que prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Jesus venceu a violência com o amor, não apelou para a violência e nem permitiu aos seus discípulos que o fizessem. Ele ensinou aos seus seguidores a não resistirem aos violentos, corrigiu os preceitos da Lei ao afirmar que matar alguém não é somente lhe tirar a vida e ordenou a Pedro que embainhasse a espada, pois quem vive dela por ela morrerá (Mt 5,20-26; 26,52). No momento de sua prisão não solicitou que legiões de anjos descessem dos céus para combaterem em seu favor e não respondeu às agressões físicas, verbais e morais ocorridas durante sua Paixão. Enfim, Jesus se colocou na linha do servo sofredor, que gozava da complacência de Deus exatamente por ser pacífico, isto é, que entregou as costas aos que o feriam e não desviou o rosto dos bofetões e cusparadas (Is 42,1-7). Enfim, aprendamos com Ele a ser promotores da paz, enquanto vemos nas redes sociais um crescimento do discurso do ódio, da intolerância e do preconceito..

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