Ideias

Bolsonaro, os tiranetes e a imprensa

Por Fernando Salerno | Diretor-presidente de OVALE e Gazeta de Taubaté |
| Tempo de leitura: 2 min

Talvez eu tenha sido um dos primeiros a estabelecer um relação direta, não camuflada, em artigo publicado em maio passado neste jornal, entre o modo de pensar e agir do presidente Jair Bolsonaro e o de líderes autoritários e antidemocráticos ao redor do mundo.

O chefe temporário da nação, dada a sua reconhecida incapacidade e inaptidão para o cargo, em vez de se manter cada vez mais silente, faz o contrário, se espelha em ditadores como Nicolás Maduro, da Venezuela, Recep Erdogan, da Turquia, e Victor Orbán, da Hungria, na tentativa de tutelar, encabrestar e silenciar a imprensa profissional para fazer prosperar os seus caprichos pessoais mais comezinhos em detrimento da verdade dos fatos.

Em recente e temerária manifestação de apoio ao presidente de saída dos EUA e, consequentemente, flertando com a invasão do Capitólio, um dos capítulos mais nefastos da história daquele país, o brasileiro afirmou que "se tiver voto eletrônico no Brasil em 2022, vai ser a mesma coisa lá dos Estados Unidos" (sic). É uma aberração. Assim como sugeri no artigo anterior, e agora, ainda mais, corroborado pelas recente declaração do presidente da República de incapacidade de governar além de não se conformar com as regras do jogo eleitoral, aconselho-o novamente: abandone a ribalta, presidente.

No lusco-fusco do jogo democrático, é normal emergir, aqui e acolá, tiranetes de plantão, cuja inexperiência política e a falta de discernimento intelectual queiram impedir o livre fluxo das ideias e das informações.

Ao presidente da República ou a qualquer outro membro do poder público não cabe advogar uma vontade pessoal, mas uma obrigação de vassalagem. À imprensa profissional, ao contrário, cabe a ela se contrapor aos interesses do poder dominante. É seu dever questionar, problematizar e incomodar o poder em nome do direito à informação. Um direito democrático, num país democrático.

Penso que se a imprensa cultivar a prática de um jornalismo imparcial, apartidário, plural e crítico, em um palavra, livre, sem se curvar a interesses obscuros de governantes de turno, ela se manterá em pé por gerações a fio. Assim como sentenciou Balzac no início do século 19: "Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la".

E os governos autoritários?

Esses sim, serão tragados por ventos impetuosos e deles não remanescerão um grão de areia. Que sonhemos com tempos melhores, mais alentadores e mais democráticos. E eles hão de vir.

Observação: Meu pai, Ferdinando Salerno, não gosta de homenagens. Mas hoje, dia do seu aniversário, não poderia deixar de registrar que é ele quem sempre me inspirou e me inspira até hoje a manter a altivez, a jamais baixar a guarda, a jamais permitir que interesses político-partidários possam se sobrepor à luz do mais nobre dos interesses jornalísticos: dizer a verdade, tão somente a verdade, nada além da verdade.

Fernando Salerno

Diretor-presidente de OVALE e Gazeta de Taubaté | Vice-presidente responsável pelo Núcleo Editorial e de Liberdade de Expressão da APJ (Associação Paulista de Jornais).

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