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Mapa de risco: estudo mostra áreas mais vulneráveis ao coronavírus em São José

Por Xandu Alves |
| Tempo de leitura: 5 min
Limpeza em frente ao pronto-socorro municipal de São José
Limpeza em frente ao pronto-socorro municipal de São José

O novo coronavírus está circulando por São José dos Campos e ameaça principalmente as populações mais pobres, em bairros localizados na periferia.

É o que mostra levantamento inédito feito por pesquisadores ligados à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), um deles morador da cidade.

Eles cruzaram dados como densidade urbana, número de moradores por residência e tamanho dos terrenos para identificar as áreas de risco à epidemia do coronavírus.  E o resultado, divulgado em primeira mão por OVALE, é preocupante.

Bairros periféricos nas regiões sul e leste, e alguns na zona norte, apresentaram o maior número de áreas consideradas de risco (relação completa está no fim do texto). Entram na lista locais como Dom Pedro 2º, Campo dos Alemães e Colonial, na zona sul, Vista Verde, Cajuru e Campos de São José, na leste, e Buquirinha 1 e 2 na norte.

As características populacionais elevam o risco para que a epidemia do novo coronavírus se dissemine mais rapidamente. “Na nossa avaliação, há uma situação crítica nos bairros periféricos, nos grandes rincões das zonas leste, sul e norte”, disse Leandro Becceneri, doutorando em Demografia pela Unicamp.

Segundo ele, as regiões leste e sul ainda têm um agravante.

Além de haver mais pobreza, há bairros populosos que fazem divisa com outras cidades, como Jacareí, e rodovias como a Via Dutra e a Carvalho Pinto, o que amplia o risco de circulação do vírus. Também na periferia há menos adesão ao isolamento.

Bairros das regiões sul e leste de São José têm mais chance de sofrer com epidemias de coronavírus, apontam pesquisadores

A periferia sob ameaça.

As condições socioeconômicas dos bairros periféricos de São José dos Campos são um trampolim para a disseminação do novo coronavírus, especialmente pelas dificuldades em aderir ao isolamento social.

A maior parte das casas não tem as condições ideais para enfrentar a doença, como o espaço necessário para obedecer ao distanciamento entre as pessoas, em razão da quantidade de moradores juntos.

Nesse contexto, a pesquisa do demógrafo Leandro Becceneri, doutorando em Demografia pela Unicamp, e dos colegas Livan Chiroma e Luiz Antônio Chaves de Farias, mostra que os bairros das regiões sul e leste de São José têm mais risco para a propagação do vírus. “Na periferia, parece que a questão da quarentena não está sendo aplicada, e lá estão as pessoas mais expostas. Sem plano de saúde, elas dependem do sistema público de saúde e também podem não ter conhecimento de doenças preexistentes, o que agrava o quadro da doença”, disse Becceneri.

A pesquisa traz seis aspectos da cidade para compor o mapeamento de risco ao coronavírus em São José. O primeiro é a densidade demográfica.

Bairros como Dom Pedro 2º (sul), Pinheirinho dos Palmares (sudeste), Vila Rangel e Jardim Anchieta (norte) estão entre os de maior quantidade de habitantes por quilômetro quadrado, acima de 1.100 moradores. “Locais com alta concentração de pessoas facilita e acelera a transmissão do vírus nas cidades”, aponta a pesquisa.

Analisando imagens de satélite, os pesquisadores levantaram a densidade de ocupação, que mostra a quantidade de pessoas ocupando o mesmo espaço. Locais com muitos prédios e outros de terrenos de até 150 m² têm o indicador muito elevado, como em bairros dos extremos do município.

Na avaliação da população, os pesquisadores apontam que bairros como Campo dos Alemães (sul), Jardim da Granja (sudeste) e Esplanada (centro) têm entre 30% e 58% dos moradores com mais de 60 anos, faixa do grupo de risco para a epidemia do coronavírus.

O quarto aspecto do levantamento revela os bairros com a maior média de moradores por domicílio. Os de alta densidade, de quatro a sete pessoas por casa, estão nas zonas leste, sul e central, como Campos de São José, Pousada do Vale, Campo dos Alemães e Jardim São José.

“Nessas regiões periféricas, com infraestrutura deficitária, se o vírus chegar o espalhamento será muito facilitado. Tanto pelo movimento das pessoas e características sociais, como os lotes colocados muito perto uns dos outros, sem espaço entre as casas. Isso é o cenário ideal para espalhar o vírus”, afirmou Becceneri.

Também nestes locais a pesquisa revela a menor quantidade de banheiros por habitante, o que implica nas condições de higiene pessoal, fundamentais para evitar a contaminação por coronavírus. O último aspecto mostra maior vulnerabilidade social nos bairros da periferia, com responsáveis pelas moradias ganhando entre meio e um salário mínimo.

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa, pesquisa coronavírus em São José

Mapa da Vulnerabilidade em São José

Densidade populacional (habitante por km²)

1) Vila Rangel

2) Campo Belo

3) Ana Maria

4) Dom Pedro 2º

5) Vila Betânia

6) Vila Ema

7) Jardim América

8) Porta do Céu

9) Alto da Vila Paiva

10) Campo dos Alemães

Média de moradores por domicílio

1) Chácaras Reunidas

2) Jardim Copacabana

3) Vila Luchetti

4) Campo dos Alemães

5) Jardim São José

6) Nova Guarani

7) Jardim Primavera

8) Papa João Paulo 2º

9) Bell Park

10) Dom Pedro 2º

Pessoas com mais de 60 anos

1) Vista Verde

2) Monte Castelo

3) Cidade Jardim

4) Tatetuba

5) Vila Nove de Julho

6) Jardim Esplanada

7) São Dimas

8) Jardim Satélite

9) Jardim Apolo

10) Vila Ema

Responsáveis com rendimento de meio a um salário mínimo

1) Papa João Paulo 2º

2) Vila Nova Esperança

3) Dom Pedro 2º

4) Residencial Jatobá

5) Jardim Boa Vista

6) Vila Cândida

7) Campo dos Alemães

8) Rio Comprido

9) Jardim Telespark

10) Jardim São José

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