
"Deus nos ajude a trabalhar nessas condições e ajudar o povo".
Dita às lágrimas, a frase é da médica Ana Paula Pereira, que postou nas redes sociais um desabafo sobre as condições de trabalho enfrentadas na rede municipal de saúde de Taubaté. A médica, que atua há 11 anos na UBS+ Independência, desabafou nesta quinta-feira (17), expondo a falta de recursos, a sobrecarga e o impacto psicológico sobre os profissionais da área. Ela afirmou que faltam até papel e tinta para impressão de prontuários e receitas médicas.
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“A gente faz tudo online, só que o sistema muda sempre. As consultas que eu fiz no ano passado, por exemplo, eu não tenho registrado porque não deu para imprimir. Como vou lembrar o que eu disse para 40 pacientes por dia?”, desabafou.
A situação se agrava nos casos mais delicados, como o de uma paciente oncológica de 59 anos, com câncer metastático de ovário, trombose e hemorragia. Sem acesso ao histórico completo do prontuário, a médica relatou a dificuldade em conduzir o atendimento de forma adequada.
“Se não tem o prontuário impresso, é sem histórico. Como vou saber se o câncer evoluiu, se não evoluiu, e resolver isso em 15 minutos?”, questionou a médica.
Ana Paula também descreveu o cansaço emocional de lidar com uma rotina tão pesada. “Hoje foi muito pesado o dia. Muita paciente oncológica, sabe, e às vezes coincide no mesmo dia. Eu saí com o coração em caco. É muito sofrimento, e o pior é não conseguir ajudar em tudo por falta de papel e de tinta. Isso não entra na minha cabeça”, disse.
Rotina.
Além das dificuldades estruturais, a médica fez um alerta sobre a saúde mental dos profissionais da linha de frente.
“O nosso psicológico não está bom. Uma amiga psicóloga falou: ‘quem está cuidando de vocês?’. Porque ela me viu chorando. Não é à toa. A maioria de nós fica aqui atendendo com maior carinho, com medo de perder salário, e com a intenção de oferecer o melhor para o paciente, independentemente de quem esteja na prefeitura. Não temos medo de trabalhar, mas queremos estrutura para atender bem”, afirmou.
Ana Paula reforçou que o desabafo não é uma crítica política, mas um pedido de socorro por melhores condições para atender a população. “Eu não falei nenhuma mentira e não estou falando mal do prefeito, pelo amor de Deus. É um desabafo mesmo, porque a gente está numa condição muito ruim e quem sofre é o paciente.”
Outro lado.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Taubaté disse que as unidades da rede municipal utilizam prontuário eletrônico, o que elimina a obrigatoriedade de impressão dos atendimentos. "O material físico disponível nas unidades é destinado prioritariamente à impressão de encaminhamentos, receitas e documentos imprescindíveis ao atendimento", afirmou a administração.
"Sobre a alegação de dificuldade no acesso a prontuários anteriores, a Secretaria de Saúde esclarece que houve mudanças de sistema durante os últimos anos, o que pode gerar instabilidades. Em relação ao tempo de atendimento, o padrão orientado é de dois a quatro pacientes por hora, por conta da alta demanda, podendo o profissional ajustar esse número conforme o perfil epidemiológico do território e complexidade de cada caso", acrescentou.
Por fim, a Secretaria de Saúde disse que "reafirma seu compromisso com a qualidade do atendimento à população e segue trabalhando para garantir as melhores condições de atendimento".
Comentários
1 Comentários
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Marcelo fonseca 18/04/2025Em taubate,nasce em pinda ou Tremembe e morre num hospital em São José,público e privado.triste realidade há + de 20 anos…