ANÁLISE

'Paço' em falso: neutralidade de Tarcísio é derrota para Anderson

Por Guilhermo Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Editor-chefe de OVALE
Cíntia Caires/OVALE
Anderson discursando durante o lançamento da candidatura, com a foto Tarcísio ao fundo
Anderson discursando durante o lançamento da candidatura, com a foto Tarcísio ao fundo

Direita, volver. Em meio à marcha eleitoral, um 'Paço' em falso.
Jogando água no chope do sétimo andar, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou na tarde desta sexta-feira (26) que vai se manter "neutro" na eleição para prefeito de São José dos Campos. É uma derrota para a candidatura de Anderson Farias (PSD), atual chefe do Executivo joseense -- apesar da posição do governador já ser prevista, pelo menos fora da bolha palaciana.

Afinal, o ex-prefeito e ex-deputado federal Eduardo Cury, que lidera as pesquisas e coloca-se como a maior ameaça à reeleição de Anderson, migrou neste ano do PSDB para o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o 'mentor' político de Tarcísio. Apesar do apoio do Republicanos a Anderson, era improvável que ele iria se opor aos interesses do "capitão" em São José. Alguém acreditava nisso? Ao que tudo indica, no Paço sim.

"Não, não vou [subir no palanque do Anderson] porque temos dois candidatos lá [São José] também, tem o PL que vem forte, tem um grande nome [Cury], o Anderson é um grande nome, então eu vou ficar neutro", disse Tarcísio a OVALE, que acompanhou a agenda do governador no Vale do Paraíba nesta sexta-feira. "[Apoio] para ninguém, a gente vai ficar neutro", afirmou o governador. "Que Vença o melhor".

A posição contraria a expectativa da campanha de Anderson, que cacifou na imagem de Tarcísio no lançamento da candidatura, no sábado passado (20), com o pré-candidato à reeleição ladeado pelo governador e pelo vice, o ex-prefeito do município entre 2017 e 2022, Felicio Ramuth (PSD). O vice-governador, inclusive, havia declarado existir um "acordo" com Tarcísio, para que ele apoiasse Anderson (veja).

Dobrando a aposta.

No último sábado, diante da ausência de Tarcísio no lançamento da campanha, Felicio havia garantido que Anderson teria o apoio de Tarcísio. "[Anderson terá o apoio do governador] Sem dúvida, o partido Republicanos está aqui, está na nossa coligação", disse o vice-governador. "Posso te garantir que a agenda dele é bastante atribulada, ele está cuidando do Estado", disse, ao justificar a ausência do chefe do Executivo paulista.

Anderson, em entrevista recente a OVALE, também ratificou a versão. "Olha, tem esse compromisso até do Tarcísio com o próprio Felicio, com o vice-governador. Foi a única conversa que teve quando os dois se uniram para o Felicio ser o vice dele. Teve essa conversa de um apoio em São José dos Campos", disse Anderson na ocasião.

Teria sido ingenuidade? Nos bastidores, nas conversas no cafezinho, já era voz corrente que Tarcísio apareceria só como uma fotografia santinho e que ter o apoio do Republicanos era uma coisa, do governador era outra.

Durante coletiva ao lado de Tarcísio em junho, Bolsonaro já havia dito que não haveria "divergência" nos municípios e chamou o governador de "uma costela minha". “Nós vamos estar juntos em todos os municípios. Onde, por ventura, tiver uma rusga, a gente vai para um canto, conversa e decide se vai apoiar, como vai apoiar e se vai ser esse ou aquele candidato. Nós não vamos ter divergências aqui, afinal de contas, o Tarcísio é uma costela minha”, disse Bolsonaro.

Ao migrar do PSDB para o PL, a sigla com o maior fundo partidário, Cury fez uma jogada importante no tabuleiro político. Ele neutralizou uma movimentação de Anderson, que apostava cada vez mais em um discurso ligado ideologicamente ao ex-presidente, e criou um obstáculo para que o atual prefeito tivesse o apoio de Tarcísio.

Transferência de votos.

E por que o apoio de Tarcísio era tão importante para Anderson, que tenta reduzir a vantagem de Cury, que lidera a corrida (veja)?

Pesquisa OVALE publicada em junho aponta que o governador convence mais eleitores de São José a votar em um candidato apoiado por ele do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro (PL). Segundo levantamento, a recomendação de Tarcísio leva 18,6% dos joseenses a não votar de jeito nenhum no candidato, enquanto a parcela que rejeita um nome apoiado por Bolsonaro é de 34%, e por Lula, de 64,6%.

O apoio de Tarcísio levaria 29,5% dos entrevistados a votar com certeza em quem ele indicou, e outros 44,4% talvez escolhessem o candidato escolhido por ele. No caso de Bolsonaro, 27,5% dos joseenses votariam com certeza no nome apontado pelo ex-presidente e 32,8% talvez votassem. Já no caso de Lula, apenas 8,2% dos eleitores da cidade votariam com certeza em um candidato indicado pelo presidente, enquanto 20,9% talvez votassem.

Após apostar as fichas que Cury permaneceria no PSDB, que o ex-prefeito não se lançaria candidato, que Anderson já apareceria na dianteira na rodada de pesquisas em maio e junho, a neutralidade de Tarcísio é um revés significativo para os planos de reeleição do atual prefeito de São José.

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