ENTREVISTA EXCLUSIVA

Tarcísio de Freitas foca em união contra a esquerda nas eleições municipais

Governador escolhe o pragmatismo da neutralidade em casos de confronto entre partidos aliados e vai priorizar subida no palanque de candidatos que enfrentem opositores de esquerda.

Por Flávio Paradella | 21/04/2024 | Tempo de leitura: 11 min
Editor da Sampi

Wilker Maia/GCN

Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, em visita à Casa GCN em Franca
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, em visita à Casa GCN em Franca

O governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vai evitar ‘bola dividida’ nas eleições municipais de outubro e focar o empenho nas cidades em que candidaturas de partidos de esquerda estejam mais competitivas. A ideia é fortalecer ainda mais o projeto e as siglas de seu espectro ideológico.

Tarcísio concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Corrêa Neves Jr, CEO da rede Sampi, na última quinta-feira, 18, durante visita à rádio Difusora AM 1030 kHz e ao portal GCN, afiliado à rede em Franca. Também fazem parte da rede portais de Araçatuba (Folha da Região), Bauru (JCNET), Campinas (Sampi Campinas), Jundiaí (JJ), Piracicaba (JP) e Vale da Paraíba (OVALE/São José dos Campos).

O governador lembrou da composição de aliados que participam de sua gestão. O grupo é formado por Republicanos, PSD, PP, PL, Podemos, MDB e União Brasil. Disse que o grupo é “forte” e vai lançar candidatos que poderão se enfrentar no pleito municipal, nas 645 cidades do estado.

Dessa forma, Tarcísio de Freitas escolhe o pragmatismo da neutralidade em casos de confronto entre candidatos de partidos aliados. “Em vários municípios, a gente vai ter candidatos competitivos que são do mesmo grupo e, obviamente, eu vou ter uma posição de neutralidade. Vou trabalhar com os prefeitos que estão no mandato. A partir de 1º de janeiro do ano que vem, trabalhei com novos prefeitos”, afirmou o governador.

Isso não significa que o político Tarcísio não vá atuar. O objetivo, destacou o governador, é fortalecer o atual conjunto de forças que hoje comando o estado e impedir nas urnas o crescimento da esquerda. O governador deixou claro que irá fazer campanha para aliados que tenham como principais rivais candidatos de legendas da oposição.

“A gente vai dedicar mais (atenção) àqueles municípios que tenham um disputa direita-esquerda, com toda a certeza. Mas o que eu antevejo é nós vamos ter uma grande eleição. Acho que esse grupo (aliados do governo) vai sair vitorioso e que vai ganhar com isso é o estado de São Paulo”, cravou Tarcísio de Freitas.

Para os atuais mandatários, caso de Alexandre Ferreira (MDB), de Franca, o anfitrião do dia, Tarcisio de Freitas reservou elogios e agradecimento. “Tenho estabelecido parcerias importantes. O que a gente tem visto, e isso permeou as discussões de Sabesp, (são) prefeitos de altíssimo nível, prefeitos muito preocupados com seus municípios, trazendo as suas demandas. Aqui em Franca tive o privilégio de trabalhar com o Alexandre, grande prefeito, então tem sido um prazer para mim. A gente tá construindo muita coisa junto, como a Rio Negro e Solimões (estrada vicinal que está sendo pavimentada), fruto desta parceria, a discussão da Sabesp foi ótima, foi muito bacana, muito profissional, muito técnica, e eu estou tendo esta boa surpresa nos municípios de maneira geral, uma boa relação com os prefeitos”, afirmou. “Estamos passando juntos um momento de adversidade, porque o ano passado foi um ano muito complexo em termos de queda de arrecadação. A gente teve que segurar as pontas juntos. Prefeitos ajudando o governo do Estado, o governo do Estado ajudando os prefeitos. Esse ano vai ser um pouquinho melhor, e tenho certeza de que 2025 e 2026 serão melhores ainda”.

Sabesp como legado

Foto: Divulgação

O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontou a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) como principal pauta de sua gestão.

O projeto que prevê a venda de uma parte da empresa foi aprovado em dezembro do ano passado pelos deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), um triunfo simbólico, uma vez que ainda precisará do aval da Câmara da capital paulista. A primeira votação no Legislativo da Capital aconteceu nesta última semana e terminou também com vitória do governador.

A votação era importante porque faz mudanças na lei municipal para permitir que a Capital mantenha o contrato de fornecimento com a empresa, mesmo depois da privatização. O projeto ainda precisa passar por uma segunda votação.

O governador Tárcisio de Freitas defende a desestatização desde a campanha eleitoral e afirma que a Sabesp, controlada apenas pelo Estado, não terá condições de fazer os investimentos bilionários necessários para garantir a universalização do serviço de saneamento básico em todo o Estado.

Para Tarcísio, a iniciativa é tão importante que a elege como seu principal feito no comando do Palácio dos Bandeirantes. “Vai deixar o maior legado: a universalização do saneamento. As pessoas não veem, mas sentem. As pessoas sentem quando ficam doentes por doença de vinculação hídrica, elas sentem quando o (rio) Tietê está despoluído. Elas sentem quando faltar água na torneira”, destacou.

Segundo o plano apresentado pelo governo paulista, estão previstos investimentos totalizando R$ 66 bilhões até 2029, marcando um aumento de R$ 10 bilhões em relação ao atual plano de investimentos da Sabesp. Além disso, há uma proposta de antecipação da universalização do saneamento, passando de 2033 para 2029.

“O que nós estamos fazendo no final das contas? Estou trazendo um ‘sócio’ para trabalhar comigo para aportar dinheiro, muito dinheiro, e nós estaremos na empresa para garantir a geração de valor, para garantir a universalização e para segurar a tarifa”, disse Tarcísio.

Os investimentos incluem, além da universalização dos serviços, obras de dessalinização de água, aportes na despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, e ainda intervenções de prevenção em mudanças climáticas. Houve também o anúncio de redução de tarifas com a privatização: 10% a menos na conta para quem tem tarifa social e de 1% para os demais consumidores.

Moradores de rua e o desafio da Cracolândia
Na capital paulista, o governo estadual implementou o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas para auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade e encaminhar indivíduos do local que a gestão chama de “Cenas Abertas de Uso”, mais popularmente conhecida como Cracolândia.

Localizado na região da Estação da Luz, no coração de São Paulo, o Hub desempenha um papel crucial como ponto de entrada para situações de urgência e emergência relacionadas à dependência química. Priorizando o atendimento de pessoas envolvidas em cenas abertas de uso de substâncias, o local realiza uma avaliação clínica abrangente e multidisciplinar. A partir dessa avaliação, os usuários são direcionados para tratamentos individualizados, adaptados às necessidades específicas de cada um. Os encaminhamentos podem ser para hospitais especializados, outras unidades de saúde ou programas de acolhimento terapêutico.

O governador Tarcísio de Freitas projetou que o modelo poderá ser levado a outras cidades que enfrentam situação semelhante e se diz contrário a simples retiradas daquelas pessoas do local, pois, segundo o chefe do executivo paulista, a medida simplesmente não resolve a situação.  “Se a gente fizesse isso, amanhã elas (pessoas) estariam de volta. Eu preciso de alguma coisa estrutural para resolver o problema. A ação de habitação, a ação de assistência social, a ação de saúde, a ação de segurança pública, porque não é só o tráfico de drogas. Tem um ecossistema criminoso que está se desenvolvendo ali”, pontuou.

O Hub da capital oferece acompanhamento de atenção psicossocial para pacientes que já passaram pelo período de internação. Este serviço visa apoiar aqueles com quadros mais estáveis de dependência química no processo de reintegração social e na construção de uma nova perspectiva de vida.

Hospital Estadual em construção em Franca

Foto: GCN

O governador do Estado de São Paulo afirmou que o Hospital Estadual de Franca entrará em operação para atender ao público a partir do segundo semestre de 2025. A unidade hospitalar foi instalada ainda em 2022, pelo então governador Rodrigo Garcia, e segue em obras para ser referência a 723,5 mil pessoas residentes na área do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Franca.

Tarcísio de Freitas descartou paralisação nos trabalhos do Hospital Estadual. “Não há problema de orçamento e nem de execução (...) com certeza, no segundo semestre do ano que vem, o hospital estará operando”.

Para o governador, o próximo desafio é encontrar a OS (Organização de Saúde) para gerir a unidade. “Estamos colocando requisitos para colocar boas OSs para administrar os hospitais do estado”, afirmou.

Sem hospital para Campinas
Já para Campinas, a construção de um novo Hospital Regional não está na lista de prioridades do governo estadual. Portanto, a discussão que se arrasta há anos deve seguir na fila de espera, mesmo com a pressão de prefeitos da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e do Hospital de Clínicas da Unicamp.

A discussão em torno do Hospital Metropolitano de Campinas surgiu pela necessidade de desafogar as unidades existentes na RMC. No entanto, Tarcísio acredita que a prioridade no momento é reabrir leitos que estão fechados.

Segundo o governador, em toda a região, mais de 1,2 mil leitos estão fechados e, se reabertos, serviriam para descentralizar os atendimentos. “Antes de dar um passo para abrir o Hospital (Regional), eu tenho que reabrir esses leitos. O Estado de São Paulo, quando chegamos, tinha 8 mil leitos fechados. Isso é uma prova de que a situação lá [RMC] é grave. Então, primeiro vou remobilizar os leitos e, a partir daí, se tiver demanda, pensar no Hospital Regional”, completou.

A prioridade do Governo Tarcísio descarta, por enquanto, um pedido recente da Unicamp para desafogar o Hospital de Clínicas, em Campinas. Representantes da Universidade, além de deputados estaduais, se reuniram e discutiram a necessidade de um novo Hospital Regional. Os argumentos, por enquanto, não convenceram Tarcísio.

Guerra no Vale
Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o Vale do Paraíba tornou-se um cenário de confronto entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e facções criminosas do Rio de Janeiro, como o CV (Comando Vermelho), em uma disputa pela hegemonia territorial.

Freitas afirmou que a região metropolitana do Vale é o epicentro dessa guerra, onde os membros do PCC, originados em Taubaté em 1993 e posteriormente estendendo sua influência nacionalmente, confrontam os criminosos cariocas representados por grupos como o CV, TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigos dos Amigos).

"Quando eu falo da gravidade do crime organizado a gente tem que entender que a coisa é séria (...) 80% dos homicídios no Brasil estão relacionados ao tráfico de drogas e ocorrem em disputas de (pontos de) vendas de drogas. Por que São Paulo tem uma das menores taxas [de homicídios] do Brasil? Porque aqui temos uma facção hegemônica [PCC], temos pouca disputa. E onde é que o estado de São Paulo tem os maiores índices de homicídio? Justamente no Vale do Paraíba", afirmou o governador

A disputa envolve o controle de pontos de venda de drogas, no chamado "varejo", e o domínio de uma área estratégica, por onde o crime organizado canaliza 90% das drogas e armas destinadas às facções do Rio de Janeiro.

Os índices de homicídio no Vale estão em um patamar muito mais elevado do que no restante do estado -- na RMVale, a taxa é de 12,63 vítimas de homicídio por cada 100 mil habitantes; no estado a taxa é de 6,02, enquanto na capital é de 4,57, na Grande São Paulo é de 5,13 e no interior é de 7,07.

"E isso é um reflexo da proximidade com o Rio de Janeiro. Isso é o crime organizado tentando, com as facções criminosas do Rio de Janeiro, ingressar no território de São Paulo e a contenção da facção hegemônica de São Paulo. Por isso que eu falo, o tráfico de drogas é uma coisa muito séria, muito grave, e precisa ser combatido", afirmou o governador.

Trem Intercidades e malha ferroviária do Interior

Foto: Divulgação/Governo de SP

O retorno do trem de passageiros à região de Campinas está próximo com a chegada do Trem Intercidades Eixo Norte, colocando fim a uma espera de 28 anos. Na entrevista à rede Sampi, o governador Tárcísio disse que o projeto de Parceria Público-Privada delineia um serviço de trem expresso de média velocidade conectando a cidade à capital paulista (TIC), além do Trem Intermetropolitano (TIM) partindo de Jundiaí até Campinas, e a modernização da Linha 7-Rubi, atualmente sob administração da CPTM.

O leilão para a concessão do projeto foi realizado em 29 de fevereiro, com o Consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos emergindo como vencedor.

Na entrevista, o governador Tarcísio de Freitas destacou a necessidade de retomar o transporte ferroviário em São Paulo. “O Estado de São Paulo se desenvolveu às margens das ferrovias e ao longo dos anos elas foram sendo desmobilizadas. O grande desafio é retomar o transporte ferroviário”, disse o Governador.

O Trem Intercidades Eixo Norte operará em um trecho de 101 km, promovendo melhorias significativas na mobilidade entre as regiões metropolitanas de São Paulo, Jundiaí e Campinas, representando um investimento substancial de R$ 14 bilhões.

De acordo com Tarcísio, o governo do estado já elabora outros projetos para interligar várias regiões com transporte sobre trilhos. “Estamos terminando o projeto do trem Sorocaba-São Paulo, que vai a leilão ano que vem. E já começamos a estudar a ligação Sorocaba-Bauru, usando a malha (ferroviária) oeste. Já começamos os estudos para São Paulo-São José dos Campos e São Paulo-Santos”.

“Abril Vermelho”: sem tolerância com invasões

Foto: Divulgação/PMC

O governador reforçou durante a entrevista a determinação aos órgãos estaduais para não tolerarem invasões de terra e propriedade no estado de São Paulo. Nesta última semana, dois episódios foram registrados, quando manifestantes do MST (Movimentos de Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparam fazendas em Campinas e em Agudos, região de Bauru.

“Nós não vamos tolerar, porque nós defendemos a propriedade. Sabemos da importância do agronegócio e nós buscamos a segurança jurídica. Não vamos tolerar a bagunça, a falta de ordem e esse ataque à propriedade privada”, afirmou o Tarcísio de Freitas.

** Colaboraram Pedro Baccelli e N. Fradique (GCN/Franca), André Fleury (JCNET/Bauru), Fernanda Moraes (JP/Piracicaba), Mariana Meira (JJ/Jundiaí), Guilhermo Codazzi (OVALE/São José dos Campos) Priscila Andrade (Folha da Região/Araçatuba)

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1 COMENTÁRIOS

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  • Juarez
    22/04/2024
    O hospital de Pedregulho continua abandonado. Franca tem dois outros hospitais, espirita e católico, prontos e sem funcionamento. O Estado constrói outro e teremos três elefantes brancos em Franca e um em Pedregulho. Combate a esquerda e se locupleta do dinheiro federal.