No cenário atual, permeado por um ritmo acelerado de mudanças e uma cultura que valoriza o efêmero, a vida pessoal e os relacionamentos amorosos são impactados de maneiras que desafiam nosso entendimento tradicional sobre compromisso e conexão humana. A recente história de Davi Brito, vencedor do Big Brother Brasil 24, e sua parceira Mani Reggo oferece um vislumbre nítido dessas transformações.
O modo como seu relacionamento aparentemente sólido foi abalado após a exposição ao estrelato ilustra profundamente a natureza fluida das relações na modernidade líquida, um conceito cunhado por Zygmunt Bauman que nunca foi tão relevante.
Davi, ao entrar na casa mais vigiada do Brasil, apresentou-se como casado, compartilhando abertamente seu amor e planos futuros com Mani. No entanto, ao sagrar-se como campeão, o cenário mudou rapidamente. Em um café matinal com a mídia, seu discurso já refletia outra realidade — a de que estavam "se conhecendo". Este distanciamento não é apenas um reflexo das pressões e do brilho intensos que acompanham a fama, mas também revela uma adaptação quase instintiva ao novo papel que Davi passou a desempenhar na sociedade.
O conceito de Bauman sobre as conexões frágeis se manifesta com clareza, mostrando como os relacionamentos podem rapidamente se dissolver sob o peso de novas identidades e expectativas sociais.
Este fenômeno não é exclusivo de Davi e Mani. Nas redes sociais, em observações diárias, vemos como as relações são cada vez mais negociáveis e ajustáveis, sujeitas às circunstâncias e os benefícios que trazem. A estabilidade emocional e o compromisso de longo prazo são, muitas vezes, sacrificados no altar da auto-realização e do pseudo crescimento pessoal, conceitos que, por sua vez, são amplamente influenciados por uma sociedade que preza pelos fins para justificar os meios.
A questão essencial que se destaca nessa metáfora é a necessidade de um novo “framework” para entender e navegar as relações humanas na contemporaneidade. Como podemos cultivar relacionamentos significativos e duradouros em um mundo que valoriza a novidade e a mudança constante? Como as novas gerações podem equilibrar a busca por realização pessoal com o desejo de conexões profundas e estáveis?
Talvez a resposta esteja em uma revisão de nossas expectativas, tanto pessoais quanto coletivas, sobre o que significa amar e comprometer-se com outro ser humano em um mundo em fluxo.
Reconhecer a impermanência não apenas como uma ameaça, mas como uma característica intrínseca da vida moderna, e aprender a construir relacionamentos que sejam resilientes o suficiente para adaptar-se às mudanças sem perder a sua essência, talvez seja um farol.
Ao refletir sobre a história de Davi e Mani, somos chamados a ponderar mais profundamente sobre nossos relacionamentos. Estamos preparados para o desafio de amar em tempos líquidos, onde as certezas de ontem raramente se aplicam ao amanhã? E o mais importante, como podemos fazer dessas relações não apenas parte de nossa jornada de crescimento pessoal, mas também pilares de estabilidade e alegria em nossas vidas? As respostas a essas perguntas definirão nossas conexões humanas nas próximas décadas, muito além de “likes”, “seguidores” e “recebíveis”.
* Fabrício Correia é professor universitário, com especialização em diversidade, acessibilidade e inclusão, musicoterapeuta e escritor. Preside a Academia Joseense de Letras.
Comentários
2 Comentários
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Fabia Rossini 21/04/2024Que texto profundo,verdadeiro e real . Concordo com cada linha querido amigo.
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Taís Tanara Nogueira 20/04/2024O amor só se sustenta na integridade do crescimento pessoal. Esse anor de ajuda mútua é desinteressado. Dá as mãos nas circunstâncias difíceis. Aponta erros e aplaude sucessos. Tudo que está a margem das jornadas partilhadas dé almas, fadado ao fim está. Força para as mulheres e homens que se jogam no amor e sentem-se produtos trocados em prateleiras. Boa sorte a Mani.