INVESTIMENTOS

Campinas lidera volume de investimentos anunciados no interior do estado

Região só perdeu para a capital e cresceu 80% em relação a 2021; já RMVale cresceu mais de 700%, porém se manteve na 4ª posição no interior

Por Débora Brito | 28/04/2023 | Tempo de leitura: 8 min
São José dos Campos

Divulgação / CCR RioSP

Infraestrutura puxou volume de investimentos anunciados em 2022 em São Paulo e na RMVale
Infraestrutura puxou volume de investimentos anunciados em 2022 em São Paulo e na RMVale

A Região Administrativa de Campinas liderou o volume de investimentos anunciados no interior do estado de São Paulo, em 2022. Do total de R$ 83,9 bilhões sinalizados pelas empresas no ano passado para o interior, a RA Campinas contribuiu com R$ 18,3 bi, resultado quase 80% maior do que o alcançado pela região, em 2021.

Só a capital atraiu outros R$ 28,2 bilhões, totalizando R$ 112,1 bilhões em todo o estado. Os dados são da Piesp (Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo), da Fundação Seade.

O desempenho da RA Campinas foi puxado pelo setor da indústria, que registrou a intenção de aporte de R$ 14,5 bilhões, valor equivalente a 80% do total de investimentos anunciados na região, em 2022. Em seguida, contribuíram os setores de infraestrutura (R$ 3,1 bilhões), serviços (R$ 620 milhões), agropecuária (R$ 24 milhões) e comércio (R$ 7 milhões).

“A indústria de Campinas é mais diversificada e conta com a parte canavieira, na região de Piracicaba, onde tem usinas importantes, como a Raízen. É uma vertente que não existe no Vale do Paraíba”, explica Margarida Kalemkarian, economista do Seade.

A Secretária de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Campinas, Adriana Flosi, vê o cenário com muito otimismo. “A vinda de indústrias atrai mais pessoas que passarão a se qualificar nos segmentos onde estão as oportunidades, sem contar que gera mais empregos e renda”, comentou.

Ela também destaca a vocação de Campinas para a inovação e aposta que com a nova lei de incentivos fiscais cheguem mais investimentos em datacenters, tecnologia da informação, provedores de conteúdo, entre outros.

POSIÇÃO

A Região Administrativa de São José dos Santos se manteve em quarto lugar no interior, com R$ 2,7 bilhões de investimentos anunciados, o que equivale a 2,5% do total. O resultado fica atrás do apresentado pela região de Santos, que ocupou a segunda posição com R$ 5,2 bilhões, e de Bauru, que levou o terceiro lugar, com R$ 3,4 bilhões.

Apesar de ter mantido a mesma posição, o volume alcançado pela RMVale é bem superior ao registrado em 2021, quando a região atraiu R$ 334 milhões do total de investimentos anunciados naquele ano, equivalente a apenas 0,8% do total do estado e 64% inferior em relação a 2020.

O crescimento da RM Vale, em 2022, ultrapassou o percentual de 719% e reflete a retomada do clima de negócios após a pandemia da Covid-19. E, ao contrário da RA Campinas, a recuperação na RMVale teve influência decisiva do setor de infraestrutura, que anunciou pelo menos R$ 1,767 bi em investimentos.

 “O anúncio de investimentos tem muito a ver com expectativas positivas e aquela situação medonha da pandemia acabou prejudicando. Estamos vendo a retomada com as concessões público-privadas, que vão aos poucos dinamizando toda a cadeia produtiva”, explicou Margarida.

A analista destaca o valor de R$ 1,5 bi para os Contornos Norte e Sul, que serão feitos pela Concessionária da Tamoios entre Caraguatatuba e São Sebastião, bem como anúncios da área da construção civil e a produção de trens pela Alston, em Taubaté, para atender as novas linhas de monotrilho da CPTM, na capital paulista.

Margarida esclarece que a RMVale poderia ter apresentado resultado mais expressivo, mas alguns dos investimentos foram contabilizados como inter regionais, pois abrangem mais de uma cidade no estado. É o caso dos anúncios que somam mais de R$ 11 milhões para a rodovia Dutra e para a malha ferroviária sudeste.

“A concessionária não separa o valor que ela vai investir por região. Então, colocamos tudo no pacote de inter regionais”, reforçou.

Depois de infraestrutura, o setor com maior volume de investimentos na RMVale foi a indústria (R$ 830 milhões). A economista cita aportes anunciados pela Mac Jee, produtora de munições que tem unidades em São José e em Paraibuna; além da Novelis, grande produtora e recicladora de alumínio instalada em Pindamonhangaba.

Em serviços, a RMVale teve a sinalização de R$ 144 milhões. No comércio, não houve anúncio de investimentos significativos no ano passado.

INFRAESTRUTURA LIDERA

Em 2022, o setor de infraestrutura respondeu por dois terços (R$ 72,6 bi) dos investimentos anunciados, principalmente para a área de transportes, que atraiu cerca de metade dos recursos. A participação expressiva do setor de transporte e logística se deve aos valores divulgados pelas concessionárias EcoRodovias e CCR RioSP para obras de expansão ou modernização de rodovias.

Em transporte, também pesaram os anúncios de investimentos em aeroportos, pela operadora Aena, e de aumento da malha ferroviária e da frota de transporte de cargas, pelas MRS.

O destaque em infraestrutura também se deve aos investimentos anunciados na área de saneamento e esgoto, pela Sabesp, e em energia, com a produção de combustíveis fósseis menos poluentes pela Petrobrás e de biocombustíveis, pela Raízen.

Já a indústria registrou o segundo maior valor anual na série histórica da Piesp, com a marca de R$ 22,5 bilhões, que englobam a produção de automóveis (GWM), celulose solúvel (Bracell), papelão ondulado (Klabin), cervejas (Heineken) e vacinas (Butantan).

Nos serviços, os anúncios atingiram R$ 15,4 bilhões e os maiores aportes resultam da expansão da frota de locadora de veículos (Movida), da construção de novo hospital (Albert Einstein), além de hotel de luxo (Rosewood) e complexo de esporte e lazer (Beyond The Club).

O comércio somou R$ 1,2 bilhão e a agropecuária respondeu por R$ 428 milhões do total projetado para o estado.

DÉCADA PERDIDA

Considerando os últimos dez anos, os investimentos anunciados sofreram queda de 1,75% no estado. Em 2012, a pesquisa identificou a sinalização de aporte de R$ 114,1 bilhões, contra R$ 112,1 bi apurados em 2022. A estagnação se deve a vários fatores.

“Em 2012, a situação era outra. E depois vieram as crises de 2015, 2016, por conta do impeachment e tantas coisas. E quando os investimentos começaram a voltar em 2019, veio a pandemia. O ano passado foi prejudicado pela guerra da Ucrânia x Rússia, pelos juros elevados, crédito minguando, inadimplência aumentando e uma série de fatores que acabaram desfavorecendo a possibilidade de elevação”, resume Margarida.

NOVA ONDA

Segundo a Piesp, no primeiro trimestre de 2023 já foram identificados cerca de R$ 21,1 milhões, dado ainda tímido devido a algumas dificuldades de apuração das informações junto às empresas. Mas a Fundação reitera que a perspectiva para este ano é positiva. Na RMVale, a Seade já identificou oportunidades de modernização e desenvolvimento na Nestlé, em Caçapava, e na Yakult, em Lorena.

Outro fato que deve alavancar os valores de 2023 é o acordo recente feito entre Brasil e Portugal, que envolve a produção de avião militar pela Embraer. A empresa sinalizou que vai incrementar os investimentos em pesquisas de mobilidade aérea e defesa. Outra indústria que está no radar da pesquisa é a Akaer, que também atua no desenvolvimento de soluções aeroespaciais.

A Seade cita ainda oportunidades no turismo, que vem retomando a força desde a virada de 2022 para 2023 com anúncios de investimentos em hotéis, resorts e outras opções de lazer.

“Estamos vendo muita novidade surgindo, inovações, desenvolvimento de produtos inéditos e novos acordos abrindo espaço para exportação. São oportunidades que vão surgindo e a nossa expectativa é que isso melhore consideravelmente”, destacou Margarida.

Apesar do cenário ainda incerto em alguns aspectos, devido à alta da inflação e dos juros, o setor privado corrobora o clima otimista. O reforço mais recente no ânimo dos investidores veio das medidas anunciadas no último dia 20 de abril sobre o aval do Tesouro Nacional para as Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Após o boom das PPPs e as concessões entre a década de 1990 e o início dos anos 2000, as empresas recuaram desse tipo de parceria devido a problemas de garantia de pagamento por parte do poder público. Com as mudanças no aval, agora dado pelo Tesouro, as prefeituras devem atrair com mais facilidade as empresas para novos projetos e contratos de parcerias.

A ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e da Indústria de Base) celebrou a notícia e já projeta uma nova fase de aportes. “Eu chamo isso da segunda onda de investimentos que vão alavancar muitos investimentos privados no Brasil e São Paulo, que representa  um terço do PIB do país”, comentou Roberto Guimarães, Diretor de Planejamento e Economia da ABDIB.

O foco das próximas PPPs está nas áreas de educação, saúde e meio ambiente. Os investidores também estão de olho no potencial científico-tecnológico das regiões de Campinas e de São José dos Campos.

“É o que chamamos de infrasocial, área que vai crescer muito e melhorar a qualidade do serviço prestado à população. E o Brasil também tem que entrar na era da transição energética, se não continuaremos estagnados. A produção desses equipamentos de energia eólica, solar e a pesquisa de como a nossa transição enérgica vai ocorrer será em centros tecnológicos como os de Campinas e SJC, regiões que têm tudo para crescer nessa linha de inovação e tecnologia”, ressaltou o economista.

O diretor adiantou que já tem dezenas de municípios, inclusive paulistas, estruturando projetos de PPPs nessas novas áreas, com apoio técnico do BNDES e da Caixa Econômica, para garantir a viabilidade do projeto.

“Tendo um bom projeto, financiabilidade e garantias, o setor privado quer investir. A ABDIB vê com muitos bons olhos a continuidade das concessões tradicionais e a entrada agora desse novo nicho que é o infra social”, completou Guimarães.

A expectativa em torno dessas parcerias também é grande por parte do setor público. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campinas adiantou que haverá uma nova Lei de Zoneamento para permitir a criação do Distrito de Inovação HIDS, dentro da Unicamp, entre outras ações.

“Há um investimento previsto na área onde fica o pátio ferroviário, que vai se tornar um grande hub de inovação, nos moldes de espaços de outras cidades, como o instituto Caldeira, de Porto Alegre. Outra frente está relacionada à Lei do Retrofit, que busca aplicar o Programa Municipal Requalifica Centro, com objetivo de revitalizar a região central, atrair novos investimentos e dar benefícios como isenção de IPTU. Apostamos também na região do HIDS – HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável”, disse a secretária Adriana Flosi.

Receba as notícias mais relevantes de Vale Do Paraíba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.