Ciência saindo da redoma

Por Adilson Roberto Gonçalves |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é pesquisador da Unesp - Rio Claro

Em continuação ao artigo anterior ("Autoproteção na linguagem acadêmica", 13/11), destaco que há um outro tipo de problema na comunicação, que são linguagens e crenças que não levam à formação de conhecimento. Surgem outros aspectos, tais como o negacionismo científico, sempre existente, mas que foi realçado durante a pandemia. Não podemos evitá-lo. Porém, o conhecimento fundamentado precisa ser levado à população. Continuo meu entusiasmo motivado por nossos alunos, que formam um recorte importante da população e que estão cada vez mais se dispondo ao papel de divulgadores científicos. Precisamos levar essas atividades para a maior parte possível da população para evitar outros tipos de segregação.

Há que se continuar o trabalho de formiguinha para ser possível mostrar à população que a academia não é uma redoma de vidro, parecendo que só faz coisas inteligíveis para os que lá estão. Na verdade, a linguagem acadêmica precisa ser entendida como uma forma de compreender a sociedade, a humanidade e a natureza. A forma de comunicar às pessoas é que precisa ser modificada e já estamos conseguindo algum progresso. Vários colegas universitários, que eram muito herméticos e trabalhavam apenas em seus laboratórios, começaram a dar entrevistas e a participar de lives, com programas que levam conhecimento para a população. Muitos cientistas sequer dão entrevistas porque têm receio do tipo de linguagem que vai ser utilizado, isso porque é óbvio que haverá alguma imprecisão na informação, pois não há como falar para um público amplo, resgatando tudo aquilo que o cientista aprendeu ao longo de décadas, por meio de estudos, linguagens e conhecimentos. O objetivo é que algum relaxamento precisa existir nessa tentativa de comunicação. O fundamento do conhecimento ou da base científica do estudo não será perdido, mas é necessária muita vontade para essa "conversão". Do lado da sociedade há também uma grande pressão para buscar conhecimento, de ter acesso a ele vindo de várias pessoas. Um fato bastante relevante é que a única coisa favorável da pandemia foi o fato de muitos encontros terem acontecido online, propiciando a participação de muita gente que antes não ia aos eventos por serem distantes, desde que tivessem um computador para o acesso.

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