As emergências climáticas fazem com que as cidades precisem se adaptar com urgência, para o enfrentamento de fenômenos extremos. Estes continuarão a ocorrer, com intensidade e frequência cada vez maiores. E já existem soluções bastante exitosas, que devem ser disseminadas e replicadas em todos os 5.570 municípios brasileiros.
Em Ribeirão Preto, a entusiasta arquiteta e urbanista Carla Roxo preside o Instituto Ribeirão Menos 3 graus, que desenvolveu excelente trabalho em todas as escolas municipais. Foi uma política pública abraçada pelo dinâmico Prefeito Antônio Duarte Nogueira, que modificou a paisagem dos estabelecimentos de ensino daquela metrópole rica e famosa pelo avanço do agro.
Cada escola recebeu uma verba e realizou um projeto arquitetônico-paisagístico que eliminou as “bolhas de calor”, de construções inteiramente de concreto e cimento, que não deixaram espaço para o verde. Foram abertos canteiros que receberam vegetação. Árvores foram plantadas. No entorno da escola, as calçadas também receberam cobertura arbustiva ou gramínea.
Disso resultou que os equipamentos educacionais se converteram em verdadeiros ambientes acolhedores, agradáveis, garantidores de qualidade de vida e o aproveitamento no aprendizado foi singularmente acrescido.
É um exemplo a ser seguido em todos os demais municípios. Importante chamar os arquitetos para projetarem modelos de edificação compatíveis com as necessidades humanas, pois um ambiente hostil é provocador de problemas de saúde e o calor excessivo é letal. As altas temperaturas matam mais do que as ondas de frio.
Algo semelhante se realiza na capital, onde o grupo “Formigas de Embaúba” são responsáveis por micro-florestas em cada escola municipal. É alguma coisa que não apenas atenua as altas temperaturas, mas anima as crianças a exercerem a cidadania ambiental na prática. Mais efetiva do que uma aula de “educação ambiental” no currículo, a participação dos alunos em projetos concretos faz com que eles se interessem pela salvação da natureza, pressuposto essencial à salvação da vida humana.
Também a Prefeitura de Paris tem patrocinado aquilo que os franceses chamam de “Projeto Oásis”. Áreas cimentadas das escolas têm sido substituídas por solo fértil e ali são plantadas árvores de grande altura. Não pequenos arbustos, que não chegam a absorver carbono e são insuficientes para fazer a diferença necessária ao bem-estar coletivo.
O importante é conscientizar toda a população de que a tecnologia mais barata e mais eficiente para tornar a vida urbana compatível com as necessidades essenciais de cada organismo vivo, é o plantio de árvores. Como tem reafirmado o físico e cientista José Goldemberg, uma glória para a ciência brasileira, enquanto países mais adiantados gastam fortunas e enterram gás carbônico no seio da Terra, o Brasil dispõe desse privilégio que é poder utilizar espécies nativas de seus biomas para sequestrar o gás venenoso, um dos causadores do efeito-estufa.
É preciso que os prefeitos tenham coragem e assumam políticas públicas tais como as de Ribeirão Preto, São Paulo e Paris. O verde é sinônimo de saúde e de qualidade de vida. As cidades não têm de servir aos automóveis, mas aos humanos. Por isso, outra providência salutar é construir “vagas verdes”: retirar uma vaga da via pública, daquelas destinadas a estacionamento, e substituí-la por algumas árvores. As futuras gerações saberão reconhecer a clarividência e visionarismo dos que ousarem devolver à natureza o que dela temos subtraído, com cruel insensibilidade, ao longo dos séculos.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)