TORTURA

PMs quase matam major em curso e atribuem à Covid, diz MP

Os colegas esconderam o caso da família da vítima, inclusive sua transferência de hospital, e fingiram que o oficial foi acometido pela covid-19 e teve 40% do pulmão comprometido.

14/05/2024 | Tempo de leitura: 3 min
da Redação

Reprodução/@bopepmgo.oficial/Instagram

Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa

Sete policiais militares torturaram quase até a morte um major durante um curso do Bope (Batalhão de Operações Especiais) em Goiás, e planejaram atribuir a causa da morte, caso se confirmasse, à covid-19, a fim de esconder o crime.

A informação é do MPGO (Ministério Público de Goiás) e da Corregedoria da PMGO em investigação sigilosa acessada pelo Metrópoles. O militar se recuperou, mas ficou com sequelas.

Leia tambémPolicial que ficou internado por 6 dias no DF acusa colegas de tortura

Em abril deste ano, o MP denunciou o grupo por tortura e tentativa de homicídio, crimes cometidos em outubro de 2021, mas mantidos em segredo até agora. O Judiciário ainda não acatou a denúncia.

Segundo o Metrópoles, as investigações dão conta de que o major foi torturado com varadas, pedaços de madeira e açoites de corda durante três dias seguidos no 12º Curso de Operações Especiais do Bope, na Base Aérea de Anápolis.

A tortura foi praticada durante o "Momento Pedagógico”, nome dado ironicamente à prática. Com tanta brutalidade, o rapaz desmaiou e entrou em coma, e ficou internado na UTI em estado gravíssimo.

A persistência do major em concluir o curso e sua alta patente teriam motivado os instrutores a aumentar o nível das agressões.

Os colegas esconderam o caso da família da vítima, inclusive sua transferência de hospital, e fingiram que o oficial foi acometido pela covid-19 e teve 40% do pulmão comprometido. A farsa foi bem sucedida porque o levaram a um hospital de confiança dos militares, sob monitoramento de um militar médico do curso do Bope.

“Certos de que o estado de saúde do ofendido havia atingido níveis críticos e que, por certo, ele não se recuperaria, preferiram aguardar até o seu esperado falecimento, quando poderiam entregar o seu corpo em um caixão lacrado à família, alegando a contaminação pela Covid e impedindo que os fatos viessem à tona e fossem investigados”, relatou o MP na denúncia obtida pelo Metrópoles.

A mentira
Quando a esposa do major, e promotora de Justiça, finalmente soube que o esposo estava internado, foi visitá-lo no hospital e ouviu que só poderia ter notícia pelo médico militar do curso, que o monitorava.

O militar reforçou a mentira de que o rapaz teve o pulmão comprometido devido à covid-19, sem nunca apresentar tomografia comprovatória. Exame feito no primeiro hospital que recebeu o major não indicou sinais da doença.

Ao notar outras inconsistências, a esposa transferiu o marido de hospital, não sem obstáculos impostos pelo tal médico.

Após insistência, o major foi transferido ao Hospital Anis Rassi, onde foram constatadas lesões corporais gravíssimas e exame negativo para coronavírus.

Sequelas
O oficial se restabeleceu, mas perdeu parte dos movimentos de um lado do corpo e tem 30% dos rins comprometidos. Ele foi promovido a tenente-coronel e recebeu o diploma do curso do Bope.

Os sete acusados continuam trabalhando e, apesar de indiciados pela Corregedoria, só três foram punidos, e com apenas 12 com horas de prestação de serviço. O MP pede o afastamento de todos e o recolhimento de seus armamentos.

Em nota enviada ao Metrópoles, a PMGO informou que o inquérito policial militar sobre o caso foi concluído e devidamente encaminhado à Justiça Militar.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.