Jundiaí & OCDE


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Participei de um encontro promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP com o secretário-geral da OCDE, o mexicano José Angel Gurria. Há 15 anos ele está à frente da Organização para Coordenação do Desenvolvimento Econômico, entidade que conquistou imensa reputação internacional.

A OCDE aproximou-se da Universidade de São Paulo, servindo-se daquela usina de criatividade que é o Instituto de Estudos Avançados. Quer implementar projetos comuns, para servir à população brasileira. Afinal, seu lema é "melhores políticas para uma vida melhor" e o da USP é "vencerás pela ciência". Tudo converge e o momento é propício para esses programas conjuntos. O mundo já é outro, em plena pandemia. Como será depois dela?

A maior vantagem da OCDE é trabalhar com evidências. Muito antes do tema ambiental estar na ordem do dia, já se preocupava com o desmatamento, com a poluição, com o excesso de resíduos e com a escassez de água doce. Elaborou o programa PISA de avaliação, que começou com ciências, português e matemática (para os países lusófonos) e agora engatinha para incluir avaliação nas competências socioemocionais, tão negligenciadas pela escola brasileira.

Gurria é um grande amigo do Brasil. Quer que nosso país deslanche, a despeito das adversidades.

Ele sugere para o Brasil a conversão do auxílio emergencial em renda mínima, a pregação de Eduardo Suplicy que ninguém levava a sério, mas que é a proposta de Yuval Harari, o famoso autor de um trio de bestsellers: Sapiens, Homo Deus e 21 lições para o século 21.

Em seguida, adoção de políticas públicas sustentáveis, à luz do conceito ESG - Governanças ambiental, social e corporativa. Isso significa levar a sério a questão climática, a maior ameaça para a humanidade. Em Jundiaí, a ordem é reflorestar áreas dizimadas. Já existem chagas visíveis na Serra do Japi e o entorno prossegue em acelerada edificação de empreendimentos que "vendem" a natureza, mas podem vulnerá-la.

Redução da pobreza, com ampliação da conectividade a todas as escolas e todos os lares. Capacitação dos professores e dos alunos e uso da monitoria inversa: os alunos, muito mais desenvoltos no uso da informática, poderão ajudar os professores a tornar suas aulas mais agradáveis, sedutoras, atraentes. Ninguém mais aguenta aula prelecional de 50 minutos, quando o Google oferece material atualizado, colorido e musical, a um simples clique.

A governança corporativa deve investir na Cidade Inteligente. Ela precisa disponibilizar serviços on-line para toda a população. Evitar deslocamentos. Tornar-se mais eficiente. Assegurar qualidade de vida sustentável a todos os seus habitantes.

Mas a melhor notícia é que a OCDE aceita demandas de comunidades subnacionais. Ou seja: não precisa ser governo federal para contar com apoio dessa potente e prestigiada organização. Um município pode recorrer a ela para, por exemplo, propor um projeto experimental de educação para o século 21, treinamento de professores, implementação de estruturas compatíveis com as expectativas dos millenials, que já nasceram com chips e que pretendem viver num mundo melhor. Consulte-se a internet para verificar o que é a OCDE e o que ela faz para tornar o mundo um habitat mais digno e sustentável. Inúmeras as nações que querem integrar-se a ela.

É urgente que o município de Jundiaí recorra à OCDE para continuar a oferecer à cidadania o que houver de mais atualizado e eficiente em termos de políticas públicas. A OCDE tem a expertise de contar com os melhores talentos mundiais. E quer que as cidades brasileiras tenham protagonismo. Nosso município é um dos maiores do Brasil. Por que não chegar cedo com seus pedidos, já que todos estão cientes de que a OCDE quer trabalhar com qualquer das entidades federativas previstas na Constituição de 1988?

As novas gerações agradecerão se os gestores atuais tiverem visão e vontade de realmente inovar para aprimorar a qualidade de vida de seus munícipes.

JOSÉ RENATO NALINI é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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