
Uma praça entre a rua Fernão Dias Paes Leme e a rua José Maria Whitaker, na região da Vila Aparecida, vem se tornando, segundo os moradores do entorno descrevem, uma 'Cracolândia' em Jundiaí. Não importa o horário. Seja à luz do dia, ou à noite, evidenciando a luz dos cachimbos acesos, os usuários de drogas tomam conta do espaço e do entorno.
Para muitos, a situação vem piorando e o fim da Cracolândia na Capital trouxe novos usuários ao local. O problema é generalizado no estado, e não ocorre só em Jundiaí, mas levanta o alerta sobre a instalação do uso e do tráfico neste ponto.
Para quem mora próximo, os 'usuários de algum tempo' não costumam incomodar, mas furtos acontecem na região e o comércio teme a coação de clientes por parte dos pedintes. Quem chega novo, porém, se assusta, e o número dessas pessoas vem perceptivelmente crescendo.
Outros pontos de uso de drogas se somam a este na cidade, inclusive nas proximidades, mas a concentração chama a atenção na praça.
Além dos furtos de fios e ferragens, longarinas de veículos também são alvo de quem busca recursos para comprar mais drogas. "Eles queimam fio para tirar o plástico e vender o metal de dentro, mas faz muita fumaça. De noite não consigo dormir às vezes porque ficam batendo uns ferros", conta uma moradora da região.
Trabalhando em um comércio também próximo, uma senhora diz que eles brigam entre si, inclusive com paus e facas, mas não agridem a população, só pedem. "Ficam pedindo. Dá até medo de afastar os clientes porque incomoda. Também tentam furtar aqui, a gente precisa seguir eles quando entram."
Também trabalhando na região, um senhor relata que às vezes o espaço parece tomado por zumbis. "O uso de drogas aí vem piorando, mas já acontece há dez anos. Esse espaço ia ser uma rua, mas acabou virando praça."
PROBLEMA
Este problema também ocorre em outros municípios, mas a mudança entre as cidades não tem um controle geral. Em Sorocaba, por exemplo, a fim de controlar essa migração, 'barreiras humanitárias' foram colocadas na rodoviária e de modo itinerante em outros pontos. O objetivo é que haja coleta de dados de quem chega e encaminhamentos de saúde e social.
Em Jundiaí, a Unidade de Gestão de Assistência e Desenvolvimento Social (Ugads) informa que é perceptível o aumento de demanda nas diversas frentes da política de assistência social, na população que necessita de assistência social, que se encontra em situação de fome, na desproteção social, nas situações de violência, de pessoas à procura para entrar no Cadastro Único ou que precisam de cesta básica, no entanto, essa é uma situação identificada em nível nacional. Em Jundiaí, a porta de entrada da rede socioassistencial é o Centro Pop.
A Unidade de Promoção da Saúde (UPS) informa que o cuidado às pessoas em situação de rua, que fazem uso problemático de álcool e outras drogas, é realizado por um conjunto de equipamentos, que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), desde o atendimento primário até situações de maior gravidade. A equipe do Consultório de Rua faz a abordagem das pessoas, realiza as ações de cuidado em saúde e atua na vinculação e sensibilização para o acompanhamento nos demais serviços da rede.
Desde antes da pandemia havia denúncia de vans que traziam pessoas em situação de rua a Jundiaí. Com relação a isso, a Ugads orienta que caso a situação seja verificada, o munícipe faça imagens do veículo e abra denúncia no 156.
A Prefeitura de São Paulo foi procurada para comentar se há controle da migração de pessoas com o fim da Cracolândia, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
O governo de São Paulo informa que ações de contenção, zeladoria e gestão dos territórios municipais são de responsabilidade das prefeituras, como previsto na Constituição Federal. Reforça ainda que o direito de ir e vir de qualquer cidadão é uma garantia constitucional.
A Secretaria de Desenvolvimento Social só estabelece ações nos municípios a partir de convênios requisitados pelas prefeituras ao Programa Recomeço, que acolhe dependentes químicos que se apresentam de forma voluntária.
Recentemente, o governo do Estado anunciou aporte de R$ 2 milhões para três novas casas terapêuticas em Jundiaí. O investimento permitirá a abertura de 45 novas vagas para tratar pessoas em situação de vulnerabilidade devido à dependência de drogas.