Muitas luzes e fogos de artifício marcam a chegada do Ano Novo, no mundo ocidental, que inicia com esperança e boa vontade, cheio de promessas, muitas vezes, sem se levar em conta a logística para a sua realização. Tempo que nos chama para ampliar o olhar e sair da lógica do “meu” para a consciência do “nosso”. Nosso tempo. Nosso espaço. Nosso planeta. Nossa humanidade.
Tempo de avaliação – acertos, erros, o que posso fazer/ser diferente? Como posso melhorar?
Para além de pular as sete ondas no mar, ou vestir-se de branco, ou comer lentilha à meia-noite, ou guardar uma folha de louro na carteira, ou ainda, brindar com espumante e fazer pedidos, entre tantos outros hábitos simbólicos que misturam fé, tradição popular e desejo de renovação, há a real esperança de mudança.
Acreditar que tudo pode ser diferente. Nenhuma outra forma de vida combina, como nós, a capacidade de guardar histórias, projetar futuros, interpretar o mundo e tomar a decisão de transformá-lo. Nessa noite, nem que seja por alguns minutos, como uma mágica pessoal e intransferível, há um despertar para dentro que indica o caminho. Uma vaga lembrança da origem, do propósito, de quem sou, para onde vou.
Um convite silencioso para lembrar, imaginar, refletir e escolher. Não é somente a virada do calendário, pode ser o ponto de partida para algo extraordinário, transformador. E quando o “Eu” se transforma, tudo ao redor tem a possibilidade de se renovar. Essa é uma habilidade exclusiva do ser humano quando utiliza a vontade, a memória, a imaginação e a razão. Os dons não são excludentes, é preciso de cada um e da somatória de todos eles para que a ideia se materialize. Saia do pensamento e vá para a ação. A vontade nos move, a memória nos ancora, a imaginação nos impulsiona, a razão nos orienta.
A semente que brota dentro de cada ser humano e tem a capacidade de germinar, crescer, dar frutos é o potencial de renovação que o próprio planeta Terra clama, pois ele também está mudando.
E é exatamente nesse ponto que a virada deixa de ser apenas simbólica e passa a ser consciente. Quando a parte desperta para o todo, cada gesto individual ganha impacto coletivo. Nada é pequeno demais quando se entende que pertencemos a um sistema vivo, interdependente, em constante transformação.
O planeta Terra — nossa casa comum — responde ao que fazemos com ele e nele. A mudança climática, os movimentos sociais, as novas formas de trabalho e de convivência são sinais claros de que um novo ciclo já está em curso. A pergunta que o Ano Novo nos faz não é apenas o que desejo para mim? Mas qual é o meu papel nesse tempo histórico?
Transformar o mundo começa pela decisão diária de alinhar pensamento, palavra e ação. Comunicação, escolhas e atitudes coerentes constroem pontes entre o eu e o nós, entre o presente e o futuro que desejamos habitar. Não se trata de grandes discursos, mas de responsabilidade consciente aplicada no cotidiano.
Que o Ano Novo seja mais do que uma data. Que ele seja um marco de lucidez, coragem e compromisso. Que cada pessoa reconheça sua potência de influência e escolha agir com intenção. Quando a parte se movimenta com consciência, o todo responde. E é assim, passo a passo, que a humanidade avança — não somente por mágica, mas por decisão.
Rosângela Portela é jornalista e mentora em comunicação