As cidades que visitei na China são todas maiores do que São Paulo. Pequim, Xangai e Shenzhen são três delas. Em todas, fiquei embasbacado com a limpeza e com a cobertura vegetal. Não há um papel, uma garrafa pet, uma sujeira alguma no chão. Tudo imaculadamente limpo.
A nossa primavera, cujo nome é buganvília, está em todas as ruas, todas as cercas, todas as grades. Os jardins são coloridos, não apenas verdes. Conjuntos harmoniosos de plantas ornamentais vicejando. As árvores, praticamente todas elas, com quádruplo apoio de madeira. Não entendi bem o motivo, mas é o que se nota desde logo.
Fui à Muralha da China, uma das sete maravilhas da antiguidade. Muita gente a percorrer aquela imensa construção de mais de 21.196 quilômetros, que começou a ser construída por volta de 220 a.C. a edificação ordenada pelo imperador Qin Shihuang continuou por mais de 1.500 anos. A dinastia Ming (1368-1644) foi a responsável pela maior parte do que hoje conhecemos. Ela terminou no século XVII. Ainda hoje é impressionante. Os chineses têm justo orgulho dela.
Assim como se orgulham e querem mostrar a Cidade Proibida. Assim se chama o Palácio Imperial e centro político das dinastias Ming e Qing. Serviu de residência para vinte e quatro imperadores, por quase quinhentos anos. Sua construção se fez entre 1406 e 1420 e hoje é Patrimônio Mundial da Unesco. Também é chamada de “Cidade Púrpura”, com telhados de azulejos amarelos, paredes vermelhas e contém quase mil edifícios, com mais de oito mil e setecentos cômodos.
Marcelo Viana também esteve recentemente na China e diz que sua entrada na Cidade Proibida foi validada por reconhecimento facial. O doutorando da Universidade de Pequim que o acompanhou indagou: “Quando eles tomaram seus dados?”. Marcelo respondeu que só pode ter sido a polícia no aeroporto. A biometria ficou automaticamente acessível a muitas instituições do País.
Ele teve idêntica impressão à que tive. As pessoas com as quais interagimos aceitam com naturalidade esse controle, pois estimam que o lucro em segurança e comodidade mais eficiência supera o prejuízo em privacidade individual.
Realmente, verifica-se um povo alegre, aparentemente ingênuo, pronto a acolher o estrangeiro. Não vi pessoas tristes. Todos pareciam felizes. Assim como nós podemos estranhar em termos de comprometimento do “direito à privacidade”, eles devem estranhar a insegurança jurídica, a violência, a falta de compromisso e de assiduidade dos brasileiros.
O que nós não podemos esquecer é que a República Popular da China existe desde 1949, fundada por Mao Tsé-Tung, mas que o confucionismo surgiu na China durante o século VI a.C. Foi fundado pelo filósofo chinês Confúcio, que viveu em um período de instabilidade política e social, e seus ensinamentos se tornaram a base de uma filosofia que prega a harmonia social, o equilíbrio e a moralidade. O respeito aos idosos, à tradição, a disciplina como regra e o trabalho como imprescindível missão.
Esses valores estão no DNA chinês e, por isso, a incrível China é hoje um exemplo para o mundo. Um país que conseguiu eliminar a fome e a miséria em algumas décadas. Será que não temos nada a aprender com eles?
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo