OPINIÃO

Eu mereço!


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O mês de novembro se foi e tornou-se marcante no quesito atividades raciais pois que já é consagrado como “mês da consciência negra”.

Foram palestras, cursos, seminários, debates, entrevistas, filmes, homenagens, festas, enfim, movimento em grande medida no País inteiro.

No meu caso em particular, foram três eventos da mais alta relevância: O primeiro se deu no dia 12 com descerramento da galeria dos Conselheiros da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual consta, entre outras, foto eternizando a minha imagem e pessoa em tão importante órgão profissional que me envaideceu sobremaneira, assim como minha família não medindo esforços para elogiar a caminhada até os nossos dias.

O segundo foi homenagem prestada pelo “Festival Afro Party 2025, nos dias 21 a 23 de novembro e, conforme consta da honraria, em reconhecimento da trajetória e contribuição para o fortalecimento da cultura e representatividade negra.

O terceiro foi no dia 26 de novembro, no Paço Municipal, ao receber o título de “Personalidade Negra de Jundiaí”, certificado pelo prefeito Gustavo Martinelli, vice-prefeito Ricardo Benassi, secretário da Casa Civil Fábio Nadal e pela diretora de Articulação em Direitos Humanos Kelsilene França Ribeiro, contando com boa presença de pessoas importantes de Jundiaí, com repercussão expressiva em toda rede social.

Em meu pronunciamento do dia 26, amplamente divulgado pela rede social, alterei parte de minhas antigas falas, quando afirmava não merecer a honraria,mudando para, em alta voz, dizendo: “Eu mereço” receber homenagens por conta de, sem falsa modéstia, minha trajetória de luta, comprometimento e boa qualidade dos préstimos em especial pela origem (muito pobre, órfão aos 7 anos de idade; ter presenciado a morte de meu pai, que falecera eletrocutado em acidente do trabalho,  quando contava com apenas 37 anos de idade e minha mãe 35, deixando 5 filhos,o mais novo com um ano e cinco meses, sem qualquer recurso a garantir subsistência da família, natural e obrigatoriamente, privados de alimentação regular - passando fome mesmo).

Vindo de onde vim, com muita dificuldade consegui conquistar curso superior e chegar até aqui, autorizando-me a afirmar sim e sem falsa modéstia: “Eu mereço” e a sociedade conhece e conheceu meu desempenho no segmento, sem perder de vista o quão é difícil e perigoso ser negro no Brasil! “Só quem é sabe o que é ser”.

Chegando ao final de mais um ano/calendário, rendo gratidão às organizações reverenciando meu nome, que muito me envaidece, deixando a sensação de “dever cumprido”, imaginando a alegria e orgulho a minha mãe que está em outro plano desde 2012, a meu sentir, de bem longe acompanhando minha caminhada.

Por lógica e verdade absoluta, rendo também todas homenagens e reverência a minha mulher, que ao longo dos 50 anos de união, estimulou a continuidade dos estudos, posturas, luta, decepções, ingratidão, etc et etc, enfim muito contribuiu na pavimentação dessa “estrada”, também, sem ”falsa modéstia”, por mim edificada e exemplo deixado, esperando que facilite a caminhada de mais seguidores.

Ainda nessa esteira, nutro e venho nutrindo que homenagens devem ser feitas em vida. Sendo certo que in memoriam é importante, todavia menos para a pessoa homenageada, que não fora lembrada em tempo oportuno!

Disse e permaneço dizendo também que os seres humanos evoluem para o bem ou para o mal através de exemplos. Assim - pessoas queridas - ao enaltecer os bons exemplos os resultados são surpreendentes, na medida em que, ao apresentar pessoas negras de bem e bem posicionadas, fará com que outros sigam a mesma trilha. Lamentavelmente, os exemplos divulgados foram os de nível mais baixo, ao apresentar aqueles que cometeram ilícitos, violência desenfreada, maldades de toda ordem além da maldita ideia de que pessoas negras são más só pela cor da pele!

Chegaaaaaaa . . . não dá mais! e uma das formas de combater tanta desigualdade é prestigiar bons nomes e bons feitos e ofertar oportunidades e igualdade de condições.

O Ministério diz: “Racismo faz mal à saúde e mata”.

Eginaldo Honório é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP

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