O Brasil reluta em acertar o passo com o que há de mais moderno e contemporâneo no planeta. Por exemplo, a China. Em algumas décadas, livrou-se da fome, da miséria, da pobreza extrema e se transformou num espaço de progresso e de paz.
É preciso estar na China, conviver com seu povo, percorrer suas cidades, para verificar que ordem, disciplina, responsabilidade, cumprimento das obrigações é mais importante do que politicalha, chantagem, corrupção, violência e outros senões que vivenciamos em todas as nossas cidades.
É preciso acordar para soluções de acordo com a natureza, como a do saudoso arquiteto Konjian Yu (1963-2025), que tive a satisfação de conhecer e que, lamentavelmente, morreu no acidente de avião quando terminava o documentário sobre as Cidades Esponjas. Visitei uma das mil obras de Yu na China e vi que eles estão anos luz à nossa frente quanto à nossa relação com as águas. Estas fazem parte da vida. Não têm de ser canalizadas.
Obras com cimento e concreto são contra a natureza. A Cidade Esponja aproveita toda a água, mesmo quando há enchentes. Quando não há, o espaço é um parque, um jardim, um lugar de entretenimento.
Também erramos quando confinamos as moradias em condomínios, ainda que sejam de luxo. Com isso, só favorecemos a nefasta indústria automotiva. O automóvel é o veículo mais egoísta sobre a face da Terra. Quase sempre um só motorista, a congestionar o trânsito, a gerar poluição e a causar enfermidades físicas e mentais.
Assim como não nos valemos do legado de Konjian Yu, não aproveitamos as lições de Carlos Moreno, preocupado com os deslocamentos de carro a que são obrigados os moradores das conurbações. Estamos numa situação bem eloquente. Embora Jundiaí diste pouco de São Paulo e haja pelo menos três opções – Bandeirantes, Anhanguera e Estrada Velha – as pistas estão sempre lotadas. A Bandeirantes, que prometera manter um corredor verde entre as pistas, mas aos poucos arranca a graminha para criar mais faixas asfálticas.
Carlos Moreno lançou no Brasil o livro “A Cidade de 15 Minutos - Uma solução para salvar nosso tempo e nosso planeta”, no qual expõe sua sensata teoria. O zoneamento que divide as cidades entre distritos residenciais e empresariais apenas favorece o lobby das indústrias automobilísticas, em detrimento da qualidade de vida.
Paris é o exemplo de cidade que procura administrar o trânsito. Ali se lia, há muito tempo, “la priorité est le pieton”, ou a prioridade é do pedestre. Mas a prefeita Annie Hidalgo adotou esse projeto de Cidade de 15 Minutos e está revolucionando a vida dos parisienses.
O trânsito mata. Seja ao causar vítimas fatais, seja ao expelir gases venenosos causadores do efeito estufa. Por isso o sucesso de Amsterdã, que nos anos 1970 era a cidade com o maior número de acidentes fatais envolvendo crianças: mais de 3.500 por ano. Quando o filho de um jornalista morreu atropelado, surgiu o movimento “Parem de matar nossos filhos”. Convenceu-se o governo de que a cidade não poderia continuar a ser um depósito de carros. Tornou-se modelo de mobilidade, onde a bicicleta impera.
Por que não pensar seriamente nas lições de Yu e de Moreno e fazer algo para tornar a vida dos jundiaienses mais saudável, mais alegre, mais segura e mais resiliente?
Está nas mãos do poder público e da sociedade civil, que tem o dever e o direito de contribuir com a gestão da coisa pública. Essa a regra de Democracia Participativa, prometida pelo constituinte e que só depende de nós para efetiva implementação.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo