Há muitos anos, quando cursava a Faculdade de Direito, nossa cidade enfrentava, como devem se lembrar os contemporâneos, uma série de dificuldades, como falta d'água, saneamento básico e favelização. Nessa época, a carência local de empregos forçava os jundiaienses a procurar trabalho em São Paulo e nos prósperos municípios da região do ABC. Jundiaí era então conhecida como "a cidade das antenas", em razão da única "paisagem" que os transeuntes da Anhanguera vislumbravam da nossa cidade.
Anos depois, logo no início do meu primeiro mandato como prefeito, a situação se agravara ainda mais, com grandes empresas transferindo suas instalações para outros municípios. Embora de forma incipiente, esse quadro começara a mudar no segundo mandato de Benassi, que deu início à ampliação da represa. Ao sucedê-lo na administração municipal, de olho no futuro, asseguramos, com uma série de ampliações sucessivas, sua capacidade de reservação a um volume necessário não apenas para o futuro imediato, mas para as décadas seguintes. Aproveitamos o lago que se formou com a nova represa para criar o Parque da Cidade.
Hoje, juntamente com outros parques e jardins, como o Jardim Botânico, Jardim Tulipas e o Parque do Eloy Chaves, são áreas de lazer essenciais para tornar a vida na cidade mais agradável. Além disso, com uma parceria público-privada, conseguimos resolver de vez, de forma modelar, um dos nossos maiores problemas, o saneamento básico. Desde então, mais de uma vez, nossa cidade tem recebido prêmios pela qualidade da sua performance nesse setor.
Cabe mencionar ainda, nessa série de transformações que tornaram Jundiaí a cidade que é hoje, o fim da favelização, que tinha como triste exemplo a ocupação, por pessoas na mais extrema pobreza, do antigo hospital psiquiátrico. Com a implementação de uma série de políticas públicas e programas habitacionais visando à urbanização, regularização fundiária e contenção de assentamentos precários, por meio da Fundação Municipal de Ação Social (Fumas), sucessivas administrações municipais fizeram nossa cidade avançar também nesse setor.
Em consequência dessa série de medidas, Jundiaí é reconhecida hoje por sua qualidade de vida, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) - conforme o último censo do IBGE - de 0,822, que indica um nível de desenvolvimento humano muito alto. Com isso - que poderíamos chamar de efeitos saudáveis - passamos a enfrentar também as dificuldades de uma cidade moderna: trânsito, segurança, entre várias outras queixas que têm sido feitas pela população.
Muitas cidades no mundo enfrentaram - e enfrentam até hoje - problemas semelhantes pelas mesmas razões que estamos enfrentando aqui agora. A solução, como sempre - como foi no passado recente - é avançar rumo ao futuro. Nossa cidade, por sua posição geográfica e pelos avanços já realizados por sucessivas administrações, tem alcançado expressivo desenvolvimento urbano, concentrando poder econômico, político e cultural, tornando-se, com isso, um centro de conexões com a região, com o país e com o mundo.
De uma certa maneira, pode-se dizer que Jundiaí, com a sua posição atual, está pronta para avançar no seu desenvolvimento. Nesse sentido, no futuro próximo, temos a possibilidade de nossa cidade tornar-se parte de uma nova metrópole. Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as metrópoles são classificadas, no Brasil, em diferentes níveis de influência, como Grande Metrópole Nacional (atualmente apenas São Paulo), Metrópole Nacional (Rio de Janeiro e Brasília) e Metrópole (como Recife e Belo Horizonte).
Essa nova posição de Jundiaí está agora tomando forma e começa a se delinear na prancheta dos urbanistas, traçando uma nova linha de trem rápido e moderno que irá de São Paulo a Campinas, com uma parada em Jundiaí. Com isso, teremos uma nova metrópole, um polo de desenvolvimento capaz de lidar com os desafios do futuro.
Fazer parte dessa metrópole será um grande avanço para nossa cidade e as gerações futuras. Não podemos nos esquecer, todavia, que todo avanço - como ocorre com a Jundiaí de hoje - tem suas benesses, mas acarreta também novos desafios. Cabe a nós assegurar que Jundiaí continue a trilhar a sua trajetória de forma a propiciar a todos, acesso aos avanços tecnológicos que caracterizam esse novo mundo, sem, todavia - e esse é o nosso grande desafio - perdermos a nossa identidade.
Ter chegado até aqui já mostra do que somos capazes. Essa, com certeza, será uma tarefa que envolve não apenas o poder público, mas a população como um todo. Estar preparado para esse novo futuro faz toda diferença. As novas gerações de jundiaienses, que estão agora nos bancos escolares, serão cidadãos da cidade, do País e do mundo.
Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí