OPINIÃO

As mil e uma utilidades do celular


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Quem diria que o “tijolo” tecnológico, pesado, utilizado somente para chamada de voz, nascido entre as décadas de 70/80, iria se transformar numa verdadeira extensão do corpo humano. Hoje o celular é peça fundamental na vida cotidiana das pessoas. Cabe no bolso, é portátil, reúne num mesmo aparelho, comunicação, trabalho, lazer, identidade e consumo. Molda comportamentos, acelera processos, cria formas novas de interação e contraditoriamente, traz desafios para foco, saúde mental, convivência e privacidade.

O celular evoluiu e foi protagonista da reestruturação de hábitos, comportamentos, relações pessoais e profissionais. Deixou para trás a pecha de ferramenta tecnológica para tornar-se elemento estrutural da vida contemporânea que exige agilidade, acesso constante e adaptação contínua. É ponte, filtro, bússola, vitrine, carteira, escritório e arquivo pessoal.

As gerações mais velhas puderam acompanhar pari passu a transformação digital que deu seu primeiro salto tecnológico no início dos anos 2000. Foi o máximo ter acesso à internet móvel e às câmeras embutidas. O celular deixou de ser apenas um dispositivo de voz para se tornar um repositório digital do cotidiano. Fotografar, armazenar, acessar e compartilhar passaram a fazer parte da rotina.

O segundo salto, que definitivamente nos trouxe até aqui, foi o lançamento do iPhone, em 2007. A revolucionária “touch screen”, a tela sensível ao toque e a criação de aplicativos transformaram o celular em plataforma. Poucos anos depois, o Android democratizou esse formato e consolidou o smartphone como o principal ponto de acesso ao mundo digital. Então, a consagração veio na década seguinte, com o 4G, seguido pelo 5G, quando o celular tomou conta e concentrou todas as dimensões da vida humana - conversas, redes sociais, banco, trabalho, transporte, saúde, streaming, pagamentos. A evolução das câmeras fomentou uma cultura guiada pela imagem, impulsionando influenciadores, criadores de conteúdo e a economia da atenção.

E agora? Como viver sem ele? Parece roteiro de novela romântica. Será que teremos um final feliz?

É inegável as facilidades que estão agregadas ao uso do celular. Ele trouxe conveniência e velocidade, também remodelou padrões sociais, cognitivos e emocionais. Enquanto sociedade, ainda estamos nos adaptando a uma realidade em que o dispositivo influencia percepções, decisões e comportamentos em escala global.

Aceleração. Tudo é “pra já”, urgente. Parece que é necessário estar disponível as 24 horas do dia. A expectativa de resposta rápida alterou a noção de tempo. Não existe fronteira entre vida pessoal e profissional. Como tudo passa pelas telas, a imagem tomou a frente dos textos que estão cada vez mais curtos. O consumo de produtos e a informação estão consolidadas pelas redes sociais como vitrines de opinião e comportamento. Até as interações humanas migraram para o digital, com o consequente aumento de ruídos, interpretações distorcidas e dificuldades na comunicação efetiva.

A economia também está no celular. Mobilidade urbana, entregas, serviços financeiros, educação e entretenimento. Tudo está registrado nele, inclusive, nossos dados pessoais, preferências, o que comemos, para onde vamos, quanto gastamos... O celular transformou o indivíduo em fonte permanente de dados.

Fica a dúvida: será que estamos sendo vigiados? Ou é só teoria da conspiração?

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora

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