No Dia da Consciência Negra o que se vê em Jundiaí é o apagamento da história. As fontes desaparecendo e as boas exposições evidenciando também um desinteresse cultural. Falo isso porque a excelente exposição “Cidade e Movimento”, no Sesc Jundiaí, mostra os clubes e seus esportes, ressaltando e pondo em foco nossos atletas negros pioneiros e negras que estiveram, entre outros, nos Jogos Abertos de 1953. Nelson Prudêncio também é lembrado e é um ícone do atletismo jundiaiense.
A baixa frequência para apreciar essa exposição coloca em alerta um fato: a cidade está fora do espectro de outras exposições! Nas cidades vizinhas, como Campinas, na inauguração da exposição do arquiteto moderno Fábio Penteado, passaram mais de 1000 visitantes. Na semana da Consciência Negra é preciso lembrar sim a história e a cultura afro-brasileiras, um legado tão intrínseco no cotidiano que às vezes sequer percebemos. O Clube 28 está lá com um espaço provocador que chama a atenção para aqueles que precisam conhecer essa associação, a mais antiga do Estado.
É preciso cuidar dos documentos porque seu estado de conservação é crítico, o que é estranho, uma vez que o Clube 28, tombado pelo Condephaat, tem respaldo para fazer diversas ações em sua sede e documentos, assim como levantar, junto à Secretaria de Cultura de São Paulo, verba suficiente para salvar, estudar e divulgar sua história, que é a história de Jundiaí.
As lembranças nas arquiteturas não temos, capelas também não. A Igreja do Rosário dos Pretos e São Benedito, do século XVIII, foi demolida em 1923. Mesmo essa, transferida para a Igreja do Rosário no Largo de Santa Cruz e que tinha a evocação ao santo, não está no altar principal, mas em um altar lateral do interior da nave.
Acredito que outras capelas, além da Igreja do Rosário e São Benedito, possam estar em pé ainda hoje, e essa pesquisa poderia contribuir em muito para lembrar os africanos que trabalharam em regime de escravidão em Jundiaí.
Uma capela para São Benedito ainda existe em Itatiba, na fazenda que meu avô comprou em 1939 e em que constavam nas escrituras duas capelas: uma delas a São Benedito, que está em nossa posse e cuidado preservada. Uma única foto testemunha a procissão que Tereza Chechinato Ienne fazia com os colonos e moradores do bairro e vizinhos.
O santo está lá, mas o conhecimento sobre ela não está. Desconhecida, talvez o único documento da devoção dos ex-escravizados, seus filhos e descendentes da ligação católica com o santo.
A Folha de quinta-feira, 20 de novembro passado, traz matéria sobre a capela que fez um ex-escravizado em Sertãozinho, um dos muitos que trabalharam para que a fazenda de Henrique Dumont fosse a maior produtora de café do século XIX. Com a abolição, Dumont deu uma pataca de ouro para cada trabalhador livre, que compraram 170 alqueires de terras. Agora, com apenas 4, lutam ainda por esse mínimo sítio.
Mas que tem a capela que, segundo Fernando Granato, faz procissões e afirma ser a única do Estado que ainda mantém os mesmos rituais, procissões e o andar de São Benedito para outra capela; a de São Benedito protegida, tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Sertãozinho.
Histórias escondidas precisam ser descobertas, a branquitude impera até hoje, mas é preciso revelar os documentos e os possíveis ambientes que estiveram os pretos e deixaram marcas para reafirmar essa terrível mancha na história, que é irreparável!
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto urbanista