OPINIÃO

O que esperar da COP30


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2025 é o ano da COP30, a COP do Brasil. A COP da Amazônia. A COP da implementação. A COP da verdade. Mas é preciso pensar com prudência e sensatez. As últimas três COPs foram realizadas em países produtores de petróleo: Azerbaijão, Emirados Árabes e Egito. Consolidou-se a cooptação de entidades do Terceiro Setor pela poderosa e aparentemente invencível indústria petrolífera.

Fica difícil falar-se em descarbonização, quando 60% da energia mundial é movida com uso de combustíveis fósseis. Uma das incongruências da COP em Belém é a insistência em explorar petróleo na Foz do Amazonas, justificada com a falaciosa destinação dos lucros em transição energética.

A ausência dos Estados Unidos, também do Presidente da China e da Índia, enfraquece os resultados de uma reunião que deveria insistir ao menos em dois pontos: o financiamento da descarbonização nos países pobres e emergentes e o cumprimento do Acordo de Paris de 2015.

Por isso mesmo, o protagonismo das entidades subnacionais aumenta, inclusive com o acréscimo de responsabilidade. Municípios são os principais atores na adoção de providências concretas. E a sociedade civil nunca foi tão importante na conversão dos hábitos e costumes. Combater a situação catastrófica gerada por nossa má conduta – emitir gases do efeito estufa, consumir muito, desperdiçar bastante, não saber descartar resíduos sólidos, fabricar desertos – é obrigação de todos.

Mais ainda, é uma questão de sobrevivência.

Não é o planeta que corre risco. Ele continuará a existir, de qualquer forma. Porém, prescindirá da espécie humana para isso.

A conscientização de cada indivíduo é fundamental. Usar etanol em vez de gasolina. Usar mais transporte coletivo. Se puder, andar mais a pé ou de bicicleta. Se tiver de ter carro, que seja elétrico. Economizar energia e economizar água. O estresse hídrico não é apenas um fantasma. É uma realidade ameaçadora.

Principalmente, consumir menos, desperdiçar menos e separar corretamente os resíduos sólidos. Aquilo que é orgânico de um lado, o que não apodrece de outro. Não é possível que sejamos os maiores produtores de lixo do planeta. Vamos converter esta pequena esfera azul em uma bola cinza e malcheirosa, porque coberta de plástico, de detritos, de sujeira e imundície.

Esse é o ponto nevrálgico da conversão da humanidade. Copiar países mais civilizados, que já transformam seu lixo em energia elétrica e, com o mínimo detrito que resta, conseguem fazer tijolos ecológicos.

O pessoal da educação, em todos os níveis, tem de encampar essa cruzada. Convencendo as crianças, que convencerão seus pais. Semeando boas práticas em todos os lares. Informando os adultos também, porque educação ambiental não pode se resumir a uma disciplina num currículo. Deve ser a prática diária. Melhorar a situação de nossas cidades depende de decisões tomadas rotineiramente por todas as pessoas.

Acostumar-se a rastrear os produtos que consumimos. De onde vem a carne que eu compro? Eu necessito realmente daquilo que estou adquirindo? Estou plantando árvores? Estou formando mudas? Estou recolhendo sementes das árvores das ruas de minha cidade? Estou me comportando como cidadão ecológico ou sou parte do problema que está acabando com a possibilidade de vida na Terra?

Quem não estiver ligado e atento a esse desafio, o maior que já ameaçou a extinção da vida no planeta, será não só irresponsável. Será cúmplice do crime de ecocídio. Já reconhecido na Justiça Internacional e que não pode vir a ser perpetrado, ainda que homeopaticamente, por nenhuma criatura que se pretenda ser racional.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo

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