OPINIÃO

A luta continua


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Sejam quais forem os resultados da COP30, a luta nos municípios deve continuar. A geopolítica regrediu em termos de tutela ambiental. Por isso acresce a responsabilidade dos entes subnacionais. Principalmente as cidades.

A questão do clima não é exclusivamente o apreço à natureza. É a defesa da vida. De toda espécie de vida, principalmente a humana.

Crescem as emissões dos gases venenosos causadores do efeito estufa. Eles provêm de várias fontes. Nas cidades, advêm do trânsito. Milhares e milhares de automóveis abastecidos com o combustível fóssil, a gasolina. Ainda que muitos proprietários tenham veículos flex, a preferência recai sobre o petrolífero. Questão cultural: maior potência, pouca vantagem no abastecimento com etanol.

Isso significa uma cidade que respira ar poluído, carregado de gás carbônico, outros venenos e os particulados. É essencial que se adote uma política de incentivo ao uso do etanol, à implementação do carro elétrico, de melhoria do transporte coletivo, de estímulo ao uso da bicicleta e do andar a pé.

Mas a receita mais eficiente para tornar a atmosfera das cidades mais respirável é o plantio de árvores. As árvores trazem toda espécie de benefício para a população. Primeiro, reduzem a temperatura ambiente e ajudam a administrar as ondas de calor, que matam mais do que as ondas de frio. Depois, reequilibram o regime de chuvas, hoje tão prejudicado em virtude do cruel desmatamento de todos os remanescentes da Mata Atlântica.

Os serviços de saúde estão repletos de pessoas com problemas respiratórios ou cardiológicos. Resultado do péssimo clima que fabricamos em nossas conurbações.

Os prefeitos mais inteligentes são aqueles que procuram adaptar seus municípios para a superação dos problemas derivados dos fenômenos extremos, cada vez mais intensos, cada vez mais frequentes.

Seguir o exemplo da China, que para transição energética, instalou em 2024 painéis solares que hoje produzem o equivalente a 17 Itaipus!

É urgente envolver toda a população nesse desafio que é o mais sério já enfrentado pela humanidade. Principalmente o ambiente escolar. Professores devem estimular pesquisas entre seus alunos, provocando-os a responderem a problemas locais oferecendo respostas viáveis. Os jovens de hoje, que já nasceram com chips e são algorítmicos, poderão enxergar aquilo que minha geração não viu ou não quis encarar.

Não faz mais sentido transmitir informações aos alunos, que têm à sua disposição inúmeras bugigangas eletrônicas capazes de responder com eficiência maior, com incrível rapidez, a qualquer consulta. Pois as respostas do mundo web são atuais, coloridas, musicais, animadas. Muito diferente das aulas prelecionais que não se atualizam e já não conseguem despertar a atenção do educando.

A proteção das cidades, para que não ocorram mortes em virtude de excessivo calor, de enchentes, inundações, desabamentos e desmoronamentos, depende de uma consciência coletiva. O Poder Público deve ser o indutor. Mas chamar a academia, o empresariado, a Igreja, os clubes, toda a sociedade civil. A luta é de todos. Só haverá vencedores, se as cidades estiverem preparadas para o imprevisível: tempestades, aumento brusco de temperatura, vendavais, secas, tudo aparentemente inesperado. Mas que virá com certeza.

Os desastres não são naturais. Não podemos chamá-los assim. São a consequência nociva de nossa insensibilidade, de nossa negligência, de nossa omissão, tudo cumulado com a nossa prepotência ignorante de seres que não se consideram parcela essencial do mundo natural.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo

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