A Semana Modernista de 1922 foi uma sacudidela na sensaboria da vida intelectual bandeirante. Sua repercussão não foi imediata, nem unânime foi a crítica merecida.
Um ano antes, Benjamin de Garay escreveu um artigo no jornal argentino “La Union”, sobre a relevância da literatura paulista, cotejada com a brasileira. Já o carioca José Maria Belo escreve em “O Jornal”, do Rio, então capital da República, a irrelevância da São Paulo intelectual. Artigo que suscitou repulsa na pauliceia. Em fevereiro de 1922, momento em que já se preparava a “Semana”, Breno Ferraz, na “Revista do Brasil”, responde a José Maria Belo e enumera os escritores paulistas.
Os citados não eram os que participaram da famosa Semana de 22. Este movimento foi concreta prova ostensiva da irresignação da mocidade, sua insatisfação com a manutenção de padrões estéticos superados.
O modernismo, no Brasil, foi se consolidando lentamente. Era uma aspiração de renovação do que era considerado antigo e ultrapassado. A “Semana” foi a deflagração simbólica ou verdadeira oficialização das tendências modernistas.
Mas esse modernismo já estava latente em muitos dos intelectuais brasileiros. Oswald de Andrade, por exemplo, dedicou-se ao romance, mas é um pensador revolucionário e anárquico, autor de manifestos, mais jornalista do que romancista.
Mário de Andrade, o primeiro Secretário de Cultura da cidade de São Paulo, é um raro exemplar de polímata brasileiro. Polígrafo, fértil, autor de numerosos ensaios, poemas, romances, contos, obras didáticas e informativas, um exemplar missivista. Sua correspondência é espantosa.
Além disso, era profundo conhecedor de arte, de música e pesquisador de folclore, biógrafo e inventor. São Paulo era pouco para a sua imaginação. Menotti Del Picchia, tabelião de serventia extrajudicial, era poeta, teatrólogo, jornalista e autor infantil. Plínio Salgado é um romancista e ensaísta. Famosa a sua vida de Jesus. Mas, sobretudo, era político, revolucionário, cultor de novas ideologias. Sua personalidade exuberante era incapaz de se comprimir em um só estilo literário.
Pouca gente fala ou sabe, mas Alcântara Machado teve papel importante na divulgação das ideias modernistas.
Seria importante que as novas gerações redescobrissem as obras desses hércules que sacudiram a provinciana São Paulo, para conhecerem a gênese da tão falada Semana Modernista de 1922.
A título de sugestão, deve ser lida a obra de Oswald de Andrade (1890-1954). Seu primeiro romance, “Os Condenados”, seria a primeira obra da trilogia que se chamaria “Trilogia do Exílio”. Depois publicou “A Estrela de Absinto“, o segundo romance. O terceiro livro se chamou “A Escada Vermelha”, título depois reduzido para simplesmente “A Escada”.
Os mais famosos trabalhos são “Memórias Sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”, romances autenticamente modernistas.
Mário de Andrade (1893-1945) é uma das figuras mais significativas da literatura brasileira. Mário Raul de Morais Andrade, segundo Antonio Cândido, foi “o espírito mais vasto do Modernismo, o mais versátil e culto, o que maior influência exerceu pelos escritos, pela atuação de homem público, pela irradiação pessoal e pela enorme correspondência”.
Leiam dele “Amar, verbo intransitivo”, um delicioso romance, moderno e renovador. Mas o mais célebre é “Macunaíma”. Quem já leu?
Esta é uma amostra e um convite. Muitos outros partícipes da Semana Moderna de 1922 merecem releitura. É urgente recuperar o espírito pioneiro desses autores que continuam jovens em suas ideias imperecíveis. Vamos percorrer a obra de cada um deles?
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo