OPINIÃO

A ambivalência humana


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O mix comportamental – saber estar, compartilhar e produzir com o outro, administrar as próprias emoções e respeitar o semelhante – permanece como base do equilíbrio humano e profissional. A inteligência emocional, aliada à habilidade de se comunicar e ouvir ativamente, tornou-se o eixo central da vida, assim como, da liderança moderna. Os atributos, que já eram diferenciais, agora tornaram-se competências de sobrevivência num cenário em que a tecnologia redefine papéis e acelera decisões. Praticar a inteligência emocional e identificá-las no mundo de incertezas em que vivemos, mediado por algoritmos, nos leva a pensar sobre quem somos, como agimos e quanto humanos realmente somos.

Manejar e controlar as emoções é um diferencial estratégico. Elas influenciam diretamente no desempenho, na tomada de decisões e no comportamento em grupo. Quando não são reconhecidas, geram conflitos ruídos de comunicação e perda de foco. Por outro lado, quando compreendidas e canalizadas, tornam-se propulsoras de produtividade, empatia e inovação. E o que temos assistido?

Hoje, presenciamos a convivência híbrida – entre os homens e o digital. Conhecer a IA é parte essencial da inteligência emocional do cidadão e do líder. Não se trata apenas de dominar ferramentas, mas sim, perceber como a tecnologia influencia o comportamento, a comunicação e a percepção da realidade. É saber decodificá-las para compreender as lógicas que orientam a tomada de decisão automatizada.

Embora 80% das empresas brasileiras reconheçam o uso de IA generativa no seu dia a dia, segundo dados da 36ª edição da Pesquisa Anual de TI da FGVcia, somente 75% delas afirmam fazer pouco uso efetivo da tecnologia. Outro estudo, o da SAS Institute mostrou que 46% das empresas brasileiras estão utilizando ou implementando IA generativa, 54% abaixo da média global. No setor industrial, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa que 41,9% das empresas industriais brasileiras com 100 ou mais empregados já utilizam IA em 2024, frente a 16,9% em 2022, representando um crescimento de 163%.

Entre os cidadãos brasileiros, levantamento da Ipsos juntamente com o Google Inc. identificou que, em 2024, 54% dos brasileiros relataram ter usado IA generativa, o que representa 48% acima da média global. A pesquisa divulgada pela Ernst & Young Global Limited (EY) Brasil, diz que mais de 92% dos brasileiros usaram IA “de forma consciente” nos últimos seis meses, posicionando o país entre os que mais adotam essa tecnologia globalmente. 

Em um contexto de transformação digital contínua, a alfabetização emocional e digital é um exercício essencial. É preciso reconhecer que cada palavra – falada ou escrita – carrega emoções e intenções, e que a forma de as comunicar, seja pela expressão facial, tom de voz, ritmo, ou linguagem textual, determina o alcance e a credibilidade da mensagem. Conteúdos que unem inteligência emocional e artificial estão redesenhando o futuro das relações. No trabalho, trazendo ambientes mais colaborativos, éticos e empáticos, onde a tecnologia potencializa o humano – e não o substitui. Nas relações pessoais, transparência, verdade, identificação e entendimento.

A ambivalência humana mostra a necessidade de se reconhecer nestes dois lados e identificar cada sentimento, principalmente para fazer escolhas acertadas, com ou sem a ajuda da IA.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora

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