A partir de 26 de novembro, a CPTM deixa a operação compartilhada da Linha 7-Rubi e a gestão passa definitivamente para a C2 Mobilidade. A data simboliza um recomeço para quem depende do trem todos os dias. Mas sejamos francos: diante do que se tornou a linha após a extinção do Serviço 710, o sentimento é de apreensão. A transição não parte de um cenário estável, mas sim do caos.
O retrocesso foi imposto pelo próprio governo Tarcísio de Freitas. O Serviço 710, que integrava as linhas 7 e 10-Turquesa e permitia viagens diretas entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, foi encerrado em agosto sem diálogo nem justificativa técnica convincente. Desde então, todos são obrigados a desembarcar na Estação Barra Funda, que não comporta o volume adicional de passageiros.
O problema foi empurrado para a concessionária, antes mesmo dela assumir a linha. A C2 Mobilidade tentou amenizar o impacto com medidas pontuais. Instalou uma nova escada rolante e mudou o ponto de parada do trem, aproximando o passageiro do acesso. A verdade é que não há ajuste operacional capaz de devolver dignidade a quem teve um direito retirado.
A solução que o governo oferece é apenas uma promessa distante. A Artesp afirma que o Serviço 710 voltará após a nova sinalização das linhas 7 e 10 no padrão europeu, uma modernização que deve levar cinco anos. É tempo demais para reverter uma decisão que jamais deveria ter sido tomada. Para o passageiro serão cinco anos de plataformas lotadas, tempo desperdiçado e rotinas exaustivas. O nome disso é abandono.
Enquanto o presente desmorona, o governo tenta vender o futuro. A mesma C2 Mobilidade, responsável pela Linha 7, é quem tem a missão de tirar do papel dois grandes projetos de mobilidade com impacto direto em Jundiaí: o TIC, um trem de alta velocidade que vai ligar Campinas a São Paulo com uma única parada em Jundiaí, e o TIM, um trem parador que conectará Campinas, Jundiaí e outras três cidades ao longo do trajeto.
Serão R$ 13 bilhões em investimentos, com início das obras previsto para o próximo ano e entrega em 2031.
Recentemente estive na China e me reuni em Beijing com a CRRC, gigante mundial que detém 40% da C2 Mobilidade. A empresa impressiona: presente em mais de 100 países, opera o metrô de Belo Horizonte e fornecerá 44 novos trens ao metrô de São Paulo. Tem a musculatura necessária para projetos robustos, mas capacidade industrial, por si só, não garante sensibilidade às complexidades brasileiras.
Serão 430 quilômetros de trilhos implantados ou readequados, além da construção de pontes, passarelas, viadutos e novas estações. Tudo isso atravessando áreas urbanas consolidadas. No trajeto do TIM, estão estações com edificações antigas, protegidas por tombamento que precisarão ser preservadas em Campinas, Vinhedo, Louveira e Valinhos.
E ainda há a joia histórica: túnel Botujuru, uma construção do século XIX, entre as estações Francisco Morato e Botujuru, e que precisará ser totalmente reconfigurado. Obras assim costumam custar mais, demorar mais e gerar mais transtornos do que se admite na hora do anúncio.
E como celebrar o trem do futuro se o trem do presente mal funciona? Mobilidade não é só sobretrilhos e quilômetros de obra. É sobre gente, o trabalhador que madruga, a mãe que corre para entregar o filho na creche, o estudante que se desdobra em múltiplas jornadas. Projetos de mobilidade precisam colocar as pessoas em primeiro lugar.
A C2 Mobilidade terá a chance de provar que não está chegando apenas para operar trilhos, mas para reconstruir confiança, algo que se conquista com respeito ao passageiro, transparência e coragem para rever políticas equivocadas.Sem isso, não haverá futuro brilhante capaz de esconder o fracasso do presente.
Mário Maurici de Lima Morais é jornalista