A recente notícia da criação do TFFF – Fundo de Florestas, pela União Federal, deve motivar os municípios a fazerem algo semelhante. Afinal, a arborização das cidades é a melhor resposta para as ilhas de calor que provocam mortes precoces e são fruto do aquecimento global.
O mecanismo do TFF é preservar a cobertura vegetal, mas como investimento rentável. Já existe o conceito de “unidade de conservação”, que é uma commodity assim como o crédito de carbono e que permite ao Poder Público receber dinheiro pelas áreas preservadas que tiver.
O TFF foi estruturado como um fundo de investimento comum. Nele, os seus investidores, que podem ser entidades privadas ou cidadãos, recebem parte do lucro com rendimento. Assim como funcionam os fundos normais. Só que a destinação é nobre: garantir a sobrevivência daqueles que dependem de ar puro para respirar, não essa massa cinzenta quase sólida de gás carbônico e materiais particulados.
Uma cidade como Jundiaí, que tem o privilégio de contar com a Serra do Japi, precisa investir na ampliação da área, já que a especulação imobiliária avança e não recua, se não houver trava pública. É só verificar o trânsito na rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto. Hoje, ela está congestionada durante várias vezes por dia. Multiplicam-se os condomínios que “vendem” a Serra do Japi, mas nada fazem para preservá-la.
Cuidar da natureza não é obrigação apenas da União. Nem só do Estado. Mas também do município e de todas as pessoas que querem que haja vida no planeta daqui por diante.
2023 e 2024 já foram os anos mais quentes da História. Nada indica que 2025 também não seja outra escalada nas altas temperaturas. E o remédio, todos sabem e a ciência já ensinou: é plantar árvores.
A educação ecológica deveria estar disseminada em todos os graus de ensino, mas também de maneira informal, para atingir a comunidade. Nem todas as pessoas reconhecem o valor de uma árvore e do serviço ecossistêmico por ela prestado.
Árvore é tudo de bom. Com a ecotranspiração, ela sequestra gás carbônico, o veneno que apressa a nossa morte, e devolve oxigênio. Ela estabiliza o regime de chuvas, para que estas voltem a ser aquela bênção que molha a terra e permite que a vegetação sobreviva. Garante sombra e beleza. Serve de abrigo para a fauna silvestre. No lugar em que plantada, haverá terra para a infiltração da água e realimento dos lençois freáticos, hoje tão sacrificados.
Enfim, árvore é o melhor remédio para garantir a subsistência de qualquer espécie de vida sobre o planeta terrestre. Infelizmente, há quem desmate. Quem quebre árvores. Quem as destrua. Quem arranque galhos. Quem peça à Prefeitura remova a árvore que está diante de sua casa. Pois ela “quebra calçadas”, deixa cair folha e dá trabalho – pois a calçada é responsabilidade do morador, não da Prefeitura – e serve de esconderijo para bandido.
São desculpas esfarrapadas, que mostram nosso grau de ignorância e desapreço pela natureza. Por isso a natureza responde como ela sabe: com calor, com chuvas torrenciais, com tempestades, com alagamentos, enchentes, inundações e morte.
No dia em que a humanidade se converter e se tornar ecológica, não pelo apreço ao ambiente, mas por respeito à vida, talvez surja a esperança de prolongamento desta maravilhosa experiência humana sobre este sofrido planeta. Enquanto isso, pagaremos o custo de nossa omissão.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)