O Brasil sempre foi um celeiro de excelentes arquitetos. Oscar Niemeyer é conhecido no mundo inteiro. Mas não só ele: Lúcio Costa, Paulo Mendes Rocha, Ruy Ohtake, Vilanova Artigas, Maitrejean e muitos outros. Nossa cidade se orgulha de ter tido Ariosto Mila, que foi diretor da FAU-USP, Mário Augusto de Oliveira Bocchino e de contar ainda com Araken Martinho e Eduardo Carlos Pereira.
Os arquitetos podem salvar a Terra. São seres mais sensíveis, antenados com os problemas que assolam a humanidade. Esta, negligente em relação ao ambiente, foi maldosa ao destruir a mata, poluir o solo, a atmosfera e as águas. Há cientistas que dizem que nós já superamos o ponto de inflexão e que não há mais remédio. Outros, mais otimistas, pensam que é possível ainda fazer a adaptação das cidades para suportar os efeitos drásticos dos fenômenos extremos, cada vez mais frequentes e mais intensos.
A preocupação dos arquitetos é muito expressiva na 14ª Bienal de Arquitetura, ora aberta na OCA do Ibirapuera, inteiramente voltada ao verde e reconectar as pessoas com a natureza.
A Bienal de Arquitetura foi batizada de “Extremos: Arquitetura para um Mundo Quente”. Os trabalhos têm evidente preocupação ambiental. Mostra a relação predatória dos humanos com a natureza. Conversa com a exposição do MASP, “Histórias da Ecologia”.
Há 179 projetos à mostra e ali não se encontram apenas problemas, mas também soluções. Há possibilidades concretas de adaptação da cidade para sobreviver aos fenômenos extremos. Qual a resposta dos arquitetos e paisagistas para a situação de um mundo impactado pelas emergências climáticas?
O arquiteto japonês Shigeru Ban ganhou o Prêmio Pulitzer e usa tubos de papel para fazer uma casa de quatro metros quadrados, para abrigar temporariamente pessoas desalojadas por desastres ambientais.
Um dos maiores desafios é fazer com que a construção civil seja mais sustentável e se sirva de soluções baseadas na natureza. Há quem aposte em algo utópico: substituir o concreto pelo cânhamo, uma planta cujo nome científico é Cannabis Ruderalis. É a proposta do escritório EcoSapiens, que exibe tijolos de cânhamo, já utilizados na Espanha.
É preciso saber usar aquilo que a natureza nos oferece gratuitamente, como a palmeira miriti, do Pará. Com ela já se faz chapas de compensado. Os materiais são multifacetados e só é preciso criatividade, engenho e arte para encontrar múltiplas destinações para algo que surge espontaneamente no ambiente natural.
Tive o privilégio de falar na 14ª Bienal, sobre o que faz uma Secretaria de Mudanças Climáticas na maior cidade brasileira. E também a oportunidade de visitar a proposta do arquiteto chinês Kongjian Yu, a quem conheci, na Secretaria de Urbanismo da capital, a convite do Secretário Marcos Monteiro e do Presidente da SP Urbanismo, Pedro Martin Fernandes. Fiquei encantado com Yu, o idealizador do conceito de “Cidade Esponja”, que mostra como se utilizar da água e evitar as inundações, algo que não soubemos fazer aqui no Brasil.
E essa visita adquiriu um gosto melancólico, pois Yu morreu carbonizado enquanto fazia um documentário em Aquidauana, no Pantanal Matogrossense, que ele considerava “o último Jardim do Éden” do planeta.
Mais um motivo para visitar a 14ª Bienal, que está no Parque Ibirapuera aberta de terça a domingo, das 10 às 20 horas, até 19 de outubro e ingresso livre e gratuito. Levar as crianças para conhecer essas obras é algo meritório e altamente desejável.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)