OPINIÃO

Economia da natureza


| Tempo de leitura: 3 min

Dez anos depois da “Laudato Si”, a Encíclica Ecológica do Papa Francisco, Leão XIV embarca nas mesmas águas verdes. Em reunião com ambientalistas de todo o planeta, conclamou o mundo a cuidar melhor da única casa de que dispomos. 

A preocupação com o cataclismo climático não é assunto exclusivo de governo. É tema para todos. Para as famílias, para os jovens, para os idosos. Para a Academia e para o empresariado. 

É preciso despertar a consciência da cidadania para a urgência de paralisação dessa volúpia de destruição do verde, da contaminação da atmosfera, do solo e das águas. A indústria da construção civil precisa se converter e pensar – não só pensar, agir! – com base nas soluções baseadas na natureza.

A fabricação de cimento, de ferro e de aço é, por si, poluente. Emite toneladas dos gases venenosos, causadores do efeito estufa. Há possibilidades de se adotar construção de madeira, o que o mundo civilizado já faz com bastante êxito. E o pior: os resíduos da construção civil, que perdem 35% de todos os materiais a cada edificação, ajudam a acabar com a remanescente saúde da Terra.

Os projetos de recuperação do ambiente não precisam ser abrangentes e globais. Podem começar em cada casa, em cada rua e bairro e em todas as cidades.

Nossos biomas estão comprometidos diante do flagelo a que submetidos por nossa omissão, inércia, incúria e até dolo. Pois há quem derrube árvores sabendo que vai causar mal difuso, mas continua a fazê-lo.

Prolífico em legislação e em planos, o Brasil continua a ser o mau exemplo. Derruba florestas e não repõe a quantidade necessária a compensar essa perda. Constrói edifícios, verticaliza toda a zona urbana, elimina qualquer pedaço de solo permeável para impermeabilizar as cidades, convertendo-as em fábricas de bolhas de calor.

O calor mata. Muito mais do que as ondas de frio. E o remédio para reduzir a temperatura é o plantio de árvores. Mais do que comprovado que a árvore é a melhor amiga da vida. Inclusive da vida humana, que é a do seu maior ou talvez único predador.

O bicho-homem é o mais nefasto para o planeta. Ele não tem predador, enquanto toda a cadeia animal integra o ciclo natural em que os mais fortes eliminam os mais fracos, mas há espaço existencial para todos.

Aqueles que ainda não foram contaminados pelo negativismo, pelo ceticismo, pela inércia, precisam se mexer. Não é difícil obter sementes, inclusive nas vias públicas, pois não há um sistema de coleta daquelas que poderiam abastecer viveiros e servir para o constante replantio.

Devem procurar espaços ociosos e fazer com que eles recebam árvores. Cuidar daquelas que existem. Exigir que sejam plantadas outras em lugares das quais foram suprimidas sem reposição.

Pressionar o Poder Público, em todas as suas esferas, a articular projetos viáveis, chamar investidores e comover a iniciativa privada, incentivar startups de restauro ecológico e produtivo, para retomar a consciência da fragilidade desta Terra de onde tudo se extrai, nada se repõe.

Conscientizar as crianças, desde a mais tenra idade, de que as árvores são amigas. Produzem oxigênio, essencial à nossa sobrevivência. Amenizam a temperatura. Garantem regime equilibrado de chuvas. Propiciam o reabastecimento dos lençois freáticos. Servem de abrigo aos pássaros e às demais faunas. Fazem sombra. Embelezam o ambiente. E são fonte de economia verde, a economia da natureza que pode responder às mais prementes necessidades do Brasil.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br) 

Comentários

Comentários