Na modernidade jundiaiense, não dá para não falar da importância da arquitetura no status das famílias. Hoje, pelo Parque do Colégio, que se confunde com a Chácara Urbana, é delicioso ver as árvores em plena floração. Uma ilha idílica de surpresas dessas árvores que estão nas calçadas e algumas dentro das arquiteturas.
Se temos exemplos especiais dessa modernidade são essas casas que nossos arquitetos fizeram pioneiramente nos anos 1950 e 1960. São emblemáticas e significativas de um tempo do século XX onde mostravam seus conhecimentos e aplicavam aqui as arquiteturas do “International Style” que tiveram referências em revistas como a “Progressive Architecture”, “Forum” e outras que foram exemplos das fontes de atualizações proporcionadas por eles.
Falo isso porque trata-se de um conjunto muito bem definido e que, por sua vez, definiu também a vizinhança que tinha em comum as casas abertas, a vida social, o esporte e a elegância que a arquitetura dava para as famílias.
Esses projetos podem ser identificados facilmente com os pilares redondos sustentando o piso superior, garagens abertas, grades baixas e jardins frontais. Mais marcantes são os revestimentos, um vocabulário de materiais que identificavam as casas. Cobriam de azulejos, alguns belíssimos e típicos daquele momento, pedras as mais diversas e seixos em mosaicos aplicados artesanalmente num processo que demonstrava o tempo que os pedreiros caprichosamente assentavam cada uma, numa repetição de milhares de pedras redondas e os cacos típicos da arquitetura da segunda metade do século passado. Hoje ainda se vê dezenas delas intactas, com grades a mais por conta de novos tempos, novos medos e novos modos de morar.
Esses remanescentes são sim dos nossos arquitetos decanos: Araken, Igar, Vasco, Rubens Gaspari Panizza e outros que não tenho certeza das autorias, e mais recentemente a casa da Diva Taddei, projeto de seu irmão Pedro. Eu mesmo fiz um icônico projeto da casa de João Toledo e Ana, que permanece com suas características de ousadia do proprietário e do arquiteto com a piscina na sala.
O olhar sobre essas casas permite ter uma imersão no tempo e na estética da arquitetura proporcionada por nossos arquitetos. Tinham uma comunicação necessária com a rua. Isso era condição urbanística da elaboração do projeto, e assim está ainda hoje. Essa comunicação fica muito evidenciada com as salas que se abrem para as árvores nas calçadas. Muitas têm suas janelas com vista para as grandes copas destas árvores.
Essas árvores, que resistiram aos vendavais recentes, segundo Luciana Moraes, técnica agrícola que morou e tem sua família vivendo ali a 50 anos, explica que as quedas de árvores sem raízes devem-se à impermeabilização do solo (canteiro) com concreto que proporciona desenvolvimento de fungos decompositores de matéria orgânica, que consomem as raízes, levando a quedas. Essas estão fora desta contabilidade.
O que pudemos assistir foi o show de flores que antecederam à Primavera nesses bairros e que reforçam essa concepção urbanística desse modo de viver. O que foi registrado com muitos compartilhamentos, nas redes sociais, a partir de Dirceu Cardoso, um defensor dessas árvores e da qualidade de vida desse lugar, que mostrou florações e tapetes coloridos que valem a pena apreciar.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto
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Giovana 27/09/2025Sensacional