OPINIÃO

Meu amigo Inos


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Estou sentindo profundamente a partida de Inos Corradin. Sei que ele deixou um legado eterno, em sua obra colorida, engenhosa, original e de tanta aceitação em todos os mercados artísticos do Brasil e do mundo. Não sou crítico em artes e deixo essa apreciação para os doutos.

Lamento é perder um amigo querido. De tantas jornadas. Um amigo dos amigos, um jundiaiense devotado à cidade que o adotou e legitimou como autêntico filho.

Quantas vezes estivemos em sua casa, nas noitadas domingueiras, onde Helena e ele, os filhos ainda crianças, confraternizavam com a confraria que foi sendo aos poucos desfalcada. Eduardo de Souza Filho, o Maninho; Gilberto Fraga de Novaes, o Giba. Seu irmão Delega, o Antonio Edmundo Fraga de Novaes. O Picoco, Luiz Francisco Ferreira Bárbaro. Edgard dos Santos, Fernanda Perracini Milani e tantos outros que já partiram.

Ainda esta semana, meu queridíssimo Chico Dal Santo me mandou uma foto que Sandro, filho do Inos, enviou a ele: estamos ali o Angelo Potenza, o Maninho, o Inos, o próprio Chico, Alberto Franco Cecchi e eu, todos sorrindo, porque era impossível deixar de fruir daquele clima irreverente que Inos propiciava, sempre bem-humorado, excelente anfitrião e criador de instigantes estórias.

Inos sempre atendeu com solicitude e fidalguia aos pedidos oficiais do município. Foi assim quando pintou quadro especial para Dom Agnelo Rossi, então o prestigiado Cardeal que acumulou funções relevantíssimas na Santa Sé. Ou quando colaborou para ornamentar próprios públicos. E mais ainda quando participou, ativamente, dos Encontros Jundiaienses de Arte, promovidos por Dulce e Victor Geraldo Simonsen, que trouxeram incontáveis personalidades para conhecer nossa cidade.

Quando se falava em artes plásticas, o “Inos de Jundiaí” era o símbolo da terra da uva. Ele era reconhecido internacionalmente, porém não perdia a singeleza do peninsular que falava o que lhe vinha à cabeça, mas sempre com generosidade, com simpatia, com o humor delicado com que recebia a todos em sua casa e em seu atelier.

Era impossível não enxergar em suas obras o seu espírito aberto, visionário, pioneiro, que encantava os colecionadores de seus quadros e de suas esculturas. Mariazinha Congilio era apaixonada por sua produção e fazia questão de exibir suas pinturas que ocupavam todas as paredes de sua casa, nos encontros que promovia, sempre para promover nossa cidade.

Na maravilhosa casa da rua Turquia, 397, onde moravam Dulce e Victor Geraldo Simonsen, havia outra exposição permanente de Inos. E também na bela residência de Roberto Bicudo, outro ardoroso fã de nosso artista-maior.

Jundiaí deve muito a Inos, que elevou a cidade a uma categoria de centro difusor de artes plásticas, estimulou o surgimento de outras vocações que hoje também brilham no cenário brasileiro e internacional, dando a dimensão do grau de excelência a eventos aqui realizados, cujo chamariz era o nome Inos Corradin.

Privilegiados os que experimentaram esse convívio com um ser extraordinário, concreta demonstração de que o projeto humano é exitoso e que sobreviverá no acervo amealhado por afortunados possuidores de sua obra. Sou grato à Providência por estar nesse rol. Guardarei, enquanto viver, uma saudosa presença de Inos Corradin em minhas melhores memórias. Naquele jardim de lembranças do qual só eu tenho a chave. E que visitarei com carinho, veneração e respeito, enquanto puder.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br) 

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