Neste ano jubilar, a Diocese de Jundiaí celebra marcos importantes: os 400 anos da Paróquia Matriz de Santana de Parnaíba, os 300 anos do encontro da imagem do Senhor Bom Jesus de Pirapora e os 370 anos da criação da Paróquia Catedral Nossa Senhora do Desterro. São jubileus que não apenas recordam a história, mas convidam a refletir sobre o presente e o futuro de nossa fé.
A Virgem do Desterro, padroeira da cidade e da diocese, simboliza essa travessia. Maria, que experimentou o desterro ao fugir com José e o Menino Jesus para o Egito, conheceu a insegurança, a fome e o medo do futuro. Ao viver o exílio, encarnou a condição de tantas famílias obrigadas a abandonar seu chão. Sua experiência nos inspira a acolher e a resistir.
A narrativa do desterro ilumina questões atuais. Quando Herodes quis recensear o povo, reduziu pessoas a números, tratando-as como categorias, legais ou ilegais. Essa lógica persiste em nossos dias, quando vidas são descartadas em nome da produção, do lucro ou da política. Maria nos lembra que nenhum ser humano é ilegal. Se o poder dos homens calcula e divide, Deus multiplica esperança e faz brilhar estrelas sobre a noite da humanidade.
O Evangelho não é uma memória distante: ele ecoa nas guerras, nos deslocamentos forçados, nas crianças que ainda hoje sofrem as consequências da ambição de líderes e da insensatez dos poderosos.
Os desafios atuais, os fluxos migratórios, as deportações em massa, a crise climática, são sinais de que continuamos expulsando uns aos outros do próprio chão. A fé cristã não nos permite a indiferença. Ser discípulo de Maria é estar atento aos desterros de hoje e transformá-los em caminhos de esperança.
Celebrar o jubileu não é fechar os olhos para a dor, mas aprender a recomeçar. Deus é especialista em vírgulas onde os homens colocam pontos finais. Foi assim com Maria e José, que voltaram do Egito e reconstruíram a vida em Nazaré. O cristão, se quer ser fiel, deve ser também mestre em recomeços. Recomeçar uma amizade, um projeto, uma conversão.
O jubileu é, portanto, ocasião de olhar para a história e para as urgências do presente. É tempo de aprender com Maria que a travessia faz parte da fé, que a esperança nasce da resistência e que a vida não se mede por números, mas por rostos. Nossa Catedral do Desterro, no coração de Jundiaí, continua sendo sinal desse acolhimento: lugar de refúgio, de recomeço, de fé.
Que este ano jubilar nos recorde que ainda caminhamos rumo à pátria definitiva. E que a Virgem do Desterro, peregrina da esperança, nos acompanhe até a Jerusalém celeste, onde descobriremos, enfim, que o amor, mais forte que qualquer desterro, é sempre perpétuo.
Dom Arnaldo Carvalheiro Neto é Bispo Diocesano de Jundiaí