OPINIÃO

Faculdade ruim 


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O pesquisador em educação Cláudio de Moura Castro escreveu interessante artigo no “Espaço Aberto” do Estadão de 3.8.25, sob o título: “Coitado, entrou numa faculdade ruim!”. Falou sobre o senso comum que exclama: “Passou na Politécnica da USP! Está com a vida feita! E “Coitado, entrou numa faculdade caça-níqueis. Vai enriquecer um “tubarão do ensino” e vai se dar mal”.

Esse pensamento não é incomum no Brasil, onde a Universidade pública é destinada a quem pode pagar, mas aprende de graça. E quem não pode pagar, tem de recorrer às faculdades pagas.

Sempre tentei incutir na consciência de meus alunos de graduação, de que é o discípulo que faz a escola. Ensinei em escolas pagas, cuja imensa maioria do corpo discente era formado por pessoas que tiveram ensino fundamental precário. Não sabiam escrever, não gostavam de ler, tinham dificuldade em se exprimir de maneira articulada e correta. Mas muitos deles se superaram. Esforçaram-se. Não se satisfizeram com o mínimo transmitido nas aulas. Exerceram exitoso autodidatismo.

Cláudio de Moura Castro entende que é sempre melhor estudar, ainda que em faculdade que não tem o nome, o prestígio nem a qualidade de ensino das Universidades Públicas, mas que, de qualquer forma, incutem no educando a responsabilidade de suprir, com seu esforço, aquilo que não encontram no curso.

Na verdade, sem um diploma de nível superior, é difícil encontrar trabalho que satisfaça as necessidades mínimas do trabalhador e de sua família. Então, qualquer curso, mesmo em escolas fracas, é melhor do que nada.

O que é preciso é conscientizar o alunado, principalmente aquele que não tem condições de ingressar numa USP, numa Unicamp, numa Universidade Federal, é a de que ele deve suprir as deficiências dessas escolas com uma dose redobrada de esforço. Não se contentar com o conteúdo das aulas.

Manter o interesse e a curiosidade em alta. Perguntar bastante. Questionar os professores. É rotineiro que o docente se torne apático, diante do desinteresse da turma. Quando encontra um só aluno mais interessado, a vocação para o magistério se desabrocha e ele encontra ânimo para atender àquele que evidenciou afeição pela sua área de estudo.

Estudar sozinho. Buscar referências nas bibliotecas. Manter-se atualizado. Tudo isso compensa as deficiências de uma escola que não se destaca pela excelência, mas que está aí funcionando e que fornece diplomas que o MEC reconhece, assim como homologa aqueles ofertados por uma USP.

As pesquisas realizadas pelo Mestre Cláudio de Moura Castro mostram que “sem o diploma superior, poucos chegam ao topo. De fato, dos graduados do médio, apenas 21% atingem a categoria mais alta de renda. Pior, 40% estão nas duas piores. Portanto, é uma excelente aposta entrar em alguma faculdade, mesmo não sendo das melhores”.

O alunado pode fazer de sua faculdade um centro de excelência, se ele quiser participar de um esforço que não pode ser entregue exclusivamente aos donos da instituição. Hoje, o ensino não deixa de merecer a categoria de um serviço que é entregue ao aluno e que pode adquirir a condição de “consumo”. O consumidor do aprendizado tem direito à qualidade de ensino e, se não estiver satisfeito, tem o dever de exigir que ela seja entregue.

Se o corpo discente se satisfizer com a mediocridade, é isso que ele continuará a receber. Mas se ele exigir mais, receberá aquilo que exigir e que tem todo o direito de receber. Por isso, antes de se falar em “faculdade ruim”, é bom perguntar: “E o alunado? É bom ou ruim?”.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br) 

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